Por que a praia de Santos é escura? A ciência explica (e não, não é poluição!)
A composição da areia e o clima úmido estão entre as explicações para a cor acinzentada das areias da praia de Santos
Estaremos nas trincheiras para defender nossa cidade de comentários invejosos!
Se você já visitou a praia de Santos ou mora na cidade, provavelmente já ouviu alguém comentar sobre a cor escura da areia e do mar. Muita gente associa essa tonalidade à poluição, mas a verdade é bem diferente: a cor escura da praia santista é, na maior parte, um fenômeno natural. Fora que se fosse para entrar no Mar Negro lá na Europa, ninguém estaria reclamando.

Entender os motivos por trás dessa característica ajuda a valorizar ainda mais as peculiaridades do nosso litoral e a separar os mitos da realidade.
A areia escura: umidade e minerais fazem a diferença
A coloração mais escura da areia de Santos tem explicações científicas. O primeiro fator é a umidade. A areia santista é extremamente fina e, por isso, retém muita água. Quando molhada, qualquer areia fica mais escura e você pode comprovar isso observando a faixa de areia seca que fica mais próxima ao calçadão, e apresenta tom bem mais claro.
Mas o diferencial de Santos está na sua composição mineral. A areia local contém uma concentração maior de minerais pesados, especialmente a mica, aquele mineral brilhante que parece lantejoulas espalhadas pela areia. A mica preta, chamada biotita, é um mineral placoide, fininho e totalmente inofensivo à saúde.
Além disso, há uma pequena presença de matéria orgânica (até 5%, segundo análises laboratoriais), composta pela decomposição natural de folhas e galhos vindos dos mangues da região. Esse percentual não caracteriza poluição, é apenas parte do ciclo natural de um ecossistema costeiro saudável.
O mar escuro: geografia, não poluição
A coloração da água em Santos também tem raízes naturais. A cidade está localizada no fundo de uma baía e na desembocadura de um estuário (uma zona de transição entre o rio e o mar). Essa posição geográfica privilegiada significa que há um fluxo constante de sedimentos e matéria orgânica chegando do canal estuarino.
Quando chove muito ou há a entrada de frentes frias, esse aporte de material aumenta, deixando a água mais escura. É o mesmo fenômeno observado em outras praias de fundo de baía, como a Praia da Fazenda em Ubatuba, considerada limpa e preservada.
O interessante é que Santos pode ter águas quase transparentes após longos períodos sem chuva e sem frentes frias, o mar se torna muito mais claro, provando que a cor escura é resultado de processos naturais e temporários.
E a poluição, não afeta?
Claro que a poluição existe e prejudica nossas praias, isso é inegável. Lixo plástico, resíduos e outros dejetos humanos afetam a saúde dos oceanos e a qualidade das águas. Mas a coloração escura de Santos existiria mesmo sem a interferência humana, graças à sua localização única e às características naturais da região.
A diferença real que a poluição faz está no aspecto visual da praia (presença de lixo, garrafas, sacos plásticos) e na qualidade da água para banho, não na sua cor natural.
Águas que curam: a história por trás do nome
Essas condições fazem com que a praia de Santos tenha uma característica para tratamento única. Poucos sabem, mas até o século XX, toda a extensão da orla santista era chamada de Embaré, palavra que vem do tupi-guarani Mbaràa-Hé e significa “águas que curam”. O nome não era mero acaso.
As águas de Santos são ricas em sal, iodo e minerais vindos dos mangues, as mesmas substâncias que contribuem para a cor escura.
Médicos do século passado prescreviam banhos de mar em Santos para tratar doenças de pele, problemas nervosos e musculares, carências sanguíneas e até resfriados. Há relatos de curas surpreendentes, incluindo casos de paralisia e doenças da tireoide.
Uma história registrada conta que uma mulher do Rio de Janeiro, mesmo morando próxima a diversas praias cariocas, foi orientada pelo médico a se tratar especificamente no mar de Santos e se curou após 21 banhos.
Cuidar ainda é essencial
Entender que a cor escura é natural não significa que devemos relaxar no cuidado com nossas praias. A poluição, o lixo e os maus hábitos dos frequentadores continuam sendo problemas sérios que precisam da atenção de todos.
Nossa responsabilidade é clara: não jogar lixo na areia ou no mar, descartar resíduos corretamente e educar quem está ao nosso redor. Afinal, mesmo sendo naturalmente escura, a praia de Santos merece todo o nosso respeito e proteção.
Da próxima vez que alguém comentar sobre a “praia suja de Santos”, você já sabe: pode explicar que o escuro faz parte da natureza e que essa mesma característica já foi sinônimo de saúde e cura para gerações de brasileiros.