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Por que a praia de Santos é escura? A ciência explica (e não, não é poluição!)

A composição da areia e o clima úmido estão entre as explicações para a cor acinzentada das areias da praia de Santos

Tempo de leitura: 5 minutos

Estaremos nas trincheiras para defender nossa cidade de comentários invejosos!

Se você já visitou a praia de Santos ou mora na cidade, provavelmente já ouviu alguém comentar sobre a cor escura da areia e do mar. Muita gente associa essa tonalidade à poluição, mas a verdade é bem diferente: a cor escura da praia santista é, na maior parte, um fenômeno natural. Fora que se fosse para entrar no Mar Negro lá na Europa, ninguém estaria reclamando.

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Foto: Prefeitura de Santos/Ronaldo Andrade

Entender os motivos por trás dessa característica ajuda a valorizar ainda mais as peculiaridades do nosso litoral e a separar os mitos da realidade.

A areia escura: umidade e minerais fazem a diferença

A coloração mais escura da areia de Santos tem explicações científicas. O primeiro fator é a umidade. A areia santista é extremamente fina e, por isso, retém muita água. Quando molhada, qualquer areia fica mais escura e você pode comprovar isso observando a faixa de areia seca que fica mais próxima ao calçadão, e apresenta tom bem mais claro.

Mas o diferencial de Santos está na sua composição mineral. A areia local contém uma concentração maior de minerais pesados, especialmente a mica, aquele mineral brilhante que parece lantejoulas espalhadas pela areia. A mica preta, chamada biotita, é um mineral placoide, fininho e totalmente inofensivo à saúde.

Além disso, há uma pequena presença de matéria orgânica (até 5%, segundo análises laboratoriais), composta pela decomposição natural de folhas e galhos vindos dos mangues da região. Esse percentual não caracteriza poluição, é apenas parte do ciclo natural de um ecossistema costeiro saudável.

O mar escuro: geografia, não poluição

A coloração da água em Santos também tem raízes naturais. A cidade está localizada no fundo de uma baía e na desembocadura de um estuário (uma zona de transição entre o rio e o mar). Essa posição geográfica privilegiada significa que há um fluxo constante de sedimentos e matéria orgânica chegando do canal estuarino.

Quando chove muito ou há a entrada de frentes frias, esse aporte de material aumenta, deixando a água mais escura. É o mesmo fenômeno observado em outras praias de fundo de baía, como a Praia da Fazenda em Ubatuba, considerada limpa e preservada.

O interessante é que Santos pode ter águas quase transparentes após longos períodos sem chuva e sem frentes frias, o mar se torna muito mais claro, provando que a cor escura é resultado de processos naturais e temporários.

E a poluição, não afeta?

Claro que a poluição existe e prejudica nossas praias, isso é inegável. Lixo plástico, resíduos e outros dejetos humanos afetam a saúde dos oceanos e a qualidade das águas. Mas a coloração escura de Santos existiria mesmo sem a interferência humana, graças à sua localização única e às características naturais da região.

A diferença real que a poluição faz está no aspecto visual da praia (presença de lixo, garrafas, sacos plásticos) e na qualidade da água para banho, não na sua cor natural.

Águas que curam: a história por trás do nome

Essas condições fazem com que a praia de Santos tenha uma característica para tratamento única. Poucos sabem, mas até o século XX, toda a extensão da orla santista era chamada de Embaré, palavra que vem do tupi-guarani Mbaràa-Hé e significa “águas que curam”. O nome não era mero acaso.

As águas de Santos são ricas em sal, iodo e minerais vindos dos mangues, as mesmas substâncias que contribuem para a cor escura.

Médicos do século passado prescreviam banhos de mar em Santos para tratar doenças de pele, problemas nervosos e musculares, carências sanguíneas e até resfriados. Há relatos de curas surpreendentes, incluindo casos de paralisia e doenças da tireoide.

Uma história registrada conta que uma mulher do Rio de Janeiro, mesmo morando próxima a diversas praias cariocas, foi orientada pelo médico a se tratar especificamente no mar de Santos e se curou após 21 banhos.

Cuidar ainda é essencial

Entender que a cor escura é natural não significa que devemos relaxar no cuidado com nossas praias. A poluição, o lixo e os maus hábitos dos frequentadores continuam sendo problemas sérios que precisam da atenção de todos.

Nossa responsabilidade é clara: não jogar lixo na areia ou no mar, descartar resíduos corretamente e educar quem está ao nosso redor. Afinal, mesmo sendo naturalmente escura, a praia de Santos merece todo o nosso respeito e proteção.

Da próxima vez que alguém comentar sobre a “praia suja de Santos”, você já sabe: pode explicar que o escuro faz parte da natureza e que essa mesma característica já foi sinônimo de saúde e cura para gerações de brasileiros.

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