Novos investimentos em saúde em Santos. Bom, mas para quem?
Li recentemente aqui no Juicy Santos sobre dois novos investimentos em saúde em Santos sendo feitos por duas grandes operadoras de saúde. Muito bom! Mas, para quem?
É sabido que nossa cidade possuí uma demografia peculiar com quase 20% da população com mais de 60 anos sendo a região da Baixada Santista a de maior proporção de idosos no estado de SP.
Infelizmente, não podemos dizer que os atuais idosos tenham se beneficiado de tudo que hoje conhecemos para ter o chamado envelhecimento saudável.
Em outras palavras, nossos idosos demandam por demais dos Serviços de Saúde o que aumenta a taxa de sinistralidade. Ou seja, o percentual financeiro da receita das operadoras de saúde dedicado ao pagamento das contas médicas. E quase 15% dos planos de saúde são para idosos, sendo de quase 30% nos planos individuais ou familiares.
Dados da mesma fonte apontam para a preocupação das operadoras com taxas de sinistralidade que beiram os 90%, por vezes ultrapassando-a. Isso tudo posto, fica evidente que faz mais sentido gerir leitos e procedimentos próprios do que pagar a terceiros para fazê-los.
Das operadoras citadas na matéria, pelo menos uma é grande cliente do parque hospitalar da cidade. Portanto, construir um hospital próprio faz muito sentido.
Mas, e aos prestadores? Será que a recíproca é verdadeira, pois se perdem um grande cliente, perdem receita e isso certamente refletirá na sua própria sustentabilidade e operação. Os empregos criados em um hospital serão perdidos em outros? Os leitos abertos em um hospital serão fechados em outros? E será que o investimento tecnológico e a qualidade de assistência dos novos será do padrão desejado para evitar o que a matéria denomina “recorrer ao SAI”?
Sou otimista e penso que, sim, tudo vai se equilibrar e, no final do dia, teremos mais oferta de serviços, mais qualidade e um reequilíbrio do cenário.
Mas essa reflexão é necessária pois otimismo apenas não basta. São vidas, recursos e estratégias de saúde essenciais para uma região, que se não bastasse ser a nossa casa, é de muita relevância para o Brasil e que acolhe muitas pessoas que ao se aposentar mudam para cá em busca de mais qualidade de vida.
Além disso, espero que esse novo cenário potencialize a nossa força de trabalho na saúde, em grande parte formada por aqui e de muitos talentos, com mais oferta de empregos de qualidade, prática da Medicina em alto nível e formação em saúde por meio da atualização continuada, residências médicas e multiprofissionais.
Que vai ser bom para as operadoras que chegam, é óbvio. Se vai ser bom aos já usuários das mesmas, sem dúvida. Mas ser bom a todo o ecossistema da saúde suplementar da cidade e região ainda é apenas uma possibilidade. Que torço, seja concreta.
Por Evaldo Stanislau, médico infectologista e professor universitário.