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Novos investimentos em saúde em Santos. Bom, mas para quem?

Tempo de leitura: 3 minutos

Li recentemente aqui no Juicy Santos sobre dois novos investimentos em saúde em Santos sendo feitos por duas grandes operadoras de saúde. Muito bom! Mas, para quem?

É sabido que nossa cidade possuí uma demografia peculiar com quase 20% da população com mais de 60 anos sendo a região da Baixada Santista a de maior proporção de idosos no estado de SP.

Infelizmente, não podemos dizer que os atuais idosos tenham se beneficiado de tudo que hoje conhecemos para ter o chamado envelhecimento saudável.

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Em outras palavras, nossos idosos demandam por demais dos Serviços de Saúde o que aumenta a taxa de sinistralidade. Ou seja, o percentual financeiro da receita das operadoras de saúde dedicado ao pagamento das contas médicas. E quase 15% dos planos de saúde são para idosos, sendo de quase 30% nos planos individuais ou familiares.

Dados da mesma fonte apontam para a preocupação das operadoras com taxas de sinistralidade que beiram os 90%, por vezes ultrapassando-a. Isso tudo posto, fica evidente que faz mais sentido gerir leitos e procedimentos próprios do que pagar a terceiros para fazê-los.

Das operadoras citadas na matéria, pelo menos uma é grande cliente do parque hospitalar da cidade. Portanto, construir um hospital próprio faz muito sentido.

Mas, e aos prestadores? Será que a recíproca é verdadeira, pois se perdem um grande cliente, perdem receita e isso certamente refletirá na sua própria sustentabilidade e operação. Os empregos criados em um hospital serão perdidos em outros? Os leitos abertos em um hospital serão fechados em outros? E será que o investimento tecnológico e a qualidade de assistência dos novos será do padrão desejado para evitar o que a matéria denomina “recorrer ao SAI”?

Sou otimista e penso que, sim, tudo vai se equilibrar e, no final do dia, teremos mais oferta de serviços, mais qualidade e um reequilíbrio do cenário.

Mas essa reflexão é necessária pois otimismo apenas não basta. São vidas, recursos e estratégias de saúde essenciais para uma região, que se não bastasse ser a nossa casa, é de muita relevância para o Brasil e que acolhe muitas pessoas que ao se aposentar mudam para cá em busca de mais qualidade de vida.

Além disso, espero que esse novo cenário potencialize a nossa força de trabalho na saúde, em grande parte formada por aqui e de muitos talentos, com mais oferta de empregos de qualidade, prática da Medicina em alto nível e formação em saúde por meio da atualização continuada, residências médicas e multiprofissionais.

Que vai ser bom para as operadoras que chegam, é óbvio. Se vai ser bom aos já usuários das mesmas, sem dúvida. Mas ser bom a todo o ecossistema da saúde suplementar da cidade e região ainda é apenas uma possibilidade. Que torço, seja concreta.

Por Evaldo Stanislau, médico infectologista e professor universitário.