Match perfeito: casal surdo adota doguinho também surdo em abrigo
Zoki foi descartado pela tutora anterior por não entender comandos, mas Mayara e Jean provam que o problema nunca foi ele.
E se o silêncio fosse a ponte perfeita entre um coração ferido e uma segunda chance? Zoki, essa fofura de pelagem branca e um olho de cada cor, foi rejeitado por ser surdo. Mas aí rolou o match mais improvável e perfeito possível: Mayara e Jean, um casal surdo de Santos, que olhou pra ele e pensou “esse aí é nosso”.
A história bombou nas redes sociais e virou prova viva de que, às vezes, a família perfeita é quem fala a mesma língua que você.
Agora, Zoki está aprendendo comandos em Libras, fazendo arte pela casa e mostrando que comunicação vai muito além de latidos e chamados.

A história de Zoki começou como a de tantos outros animais que chegam para adoção. Sua deficiência causou seu abandono. A tutora anterior não conseguiu ensiná-lo comandos e decidiu se livrar dele, alegando tê-lo encontrado na rua. Porém, a equipe do Instituto Eliseu percebeu rapidamente que a história não batia.
“Se ele estivesse andando pela rua, já teria sido atropelado”, explica Leila Abreu, presidente da instituição.
Zoki
Quando o Instituto Eliseu recebeu Zoki (na época chamado de Cotton), ainda não se sabia que ele era surdo. Através de testes específicos, identificaram a condição. A heterocromia (olhos de cores diferentes) e a pelagem branca foram pistas importantes, já que essas características acompanham frequentemente a surdez em cães.
A partir dessa descoberta, começou uma busca cuidadosa pela família ideal. O Instituto estabeleceu critérios específicos: não poderia haver crianças pequenas, os tutores precisariam ter disponibilidade de tempo e, de preferência, trabalhar em home office.
“A criança não vai entender que o cachorro não escuta, vai começar a tocar nele, empurrar. A gente respeita os dois lados”, justifica Leila.
O match perfeito
Mayara e Jean apareceram como candidatos improváveis e, ao mesmo tempo, ideais. Ambos surdos, com disponibilidade de tempo e trabalhando remotamente, eles não apenas atendiam aos critérios técnicos, mas traziam algo que ninguém esperava: a possibilidade de comunicação através de Libras.
“Queremos uma nova experiência com o Zoki sendo surdo“, contam Mayara e Jean.
Segundo o casal, a experiência deles como pessoas surdas influenciou diretamente na decisão de adotar. Eles entendem, como poucos, as dificuldades que o animal enfrentaria.

Adaptação e aprendizado
O processo de adaptação tem sido desafiador, mas recompensador.
“Não está fácil, mas ele está cada vez mais inteligente e começando a entender aos poucos”, revelam os tutores.
Eles notam diferenças claras no comportamento de Zoki comparado aos dias no Instituto Eliseu. Lá, ele era mais agitado; em casa, continua ativo, mas demonstra evolução no aprendizado.
A rotina do casal mudou completamente. Eles dedicam tempo para educar Zoki através de sinais em Libras, criando uma forma única de comunicação.
“Estamos educando aos poucos e ele está melhorando, ficando mais obediente”, comemoram.
Zoki viralizado
Depois que a história bombou nas redes sociais (e tá tudo lá no Instagram zoki.fenagolin), Mayara e Jean receberam muitas mensagens de pessoas surdas interessadas em adotar animais com deficiência. Cada mensagem traz experiências únicas, mas o casal faz questão de deixar um recado importante:
“Adote por amor, não pela aparência. O caso do Zoki é um exemplo: ele foi adotado pela beleza, mas depois abandonado por ser surdo. Por isso, não escolha um cão apenas pela estética, mas pela vontade de conviver com ele, sem preconceitos.” finalizam
Instituto Eliseu
O Instituto Eliseu, que começou como Instituto Viva Bicho e mudou de nome para homenagear o gatinho Eliseu (que teve repercussão mundial), trabalha principalmente com controle populacional através de castrações gratuitas para a população de baixa renda.
Porém, quando resgatam animais, fazem questão de oferecer todo o suporte necessário: exames, vacinas, cirurgias e um bom espaço.
Para adotar através do Instituto, a pessoa precisa ter condições físicas, financeiras e psicológicas. A equipe analisa o temperamento do animal e a rotina da família, buscando harmonia. Se não houver um com o perfil adequado, preferem ser sinceros.
A presidente do Eliseu reconhece que a organização é criticada por ser muito exigente nas adoções, mas defende os critérios.
Amor é subjetivo. Quando o animal fica doente e você não tem dinheiro para pagar o veterinário, o amor não vai salvar a vida desse animal”, argumenta.
Luta contra o preconceito
Mesmo após a repercussão da história de Zoki, o Instituto Eliseu não percebeu aumento significativo na procura por animais com deficiência.
Leila destaca que o trabalho de conscientização é constante, mas difícil.
“As pessoas escolhem cachorro por centímetro, por tamanho, não por temperamento como acontece em outros lugares”, finaliza.
A história de Zoki, Mayara e Jean mostra que a adoção responsável vai muito além de boa vontade. Exige compromisso, paciência e, principalmente, aceitação incondicional. Quando essas peças se encaixam, o resultado é uma família completa, comunicando-se através do amor e de sinais que transcendem qualquer barreira.