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Funk santista ganha livro que conta 40 anos de revolução musical

Obra dá visibilidade aos nomes e histórias por trás do estilo na Baixada Santista

Tempo de leitura: 4 minutos

O funk santista finalmente tem sua história registrada em um livro. Diego Turato, mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, professor, historiador e pesquisador, lança “A história do funk santista, a arte Santista protagonista no Brasil e no Estado de São Paulo”.

A obra preenche uma lacuna importante: a carência de bons livros sobre a história do funk da Baixada Santista.

“O estilo sempre foi um sucesso em Santos e na Baixada. Eu sempre escutei, principalmente na minha infância e adolescência”, conta Turato. 

Esse interesse pessoal, combinado com a formação acadêmica em história, motivou o autor a mergulhar na pesquisa sobre história regional.

Dos morros para o Brasil

Muita gente associa o funk ao Rio de Janeiro, mas Santos teve um papel essencial no desenvolvimento do gênero em São Paulo. Os morros e a Zona Noroeste foram fundamentais para o acolhimento do funk carioca.

“Santos abraçou o funk carioca. Muitos santistas gostam do Rio e muitos cariocas gostam de Santos”, explica o autor.

O Morro do Jabaquara recebeu uma família de São João de Meriti (RJ) que trouxe Jorginho, atleta de futebol na base do Santos FC e cantor de funk. Ele foi um dos pioneiros e formou dupla com Daniel. Além disso, o Morro do Marapé se tornou um grande celeiro de artistas, com nomes como Thim e Dedesso, Renatinho e Alemão, Vina e Fandangos, entre outros.

Em 1995, o funk de Santos já era hit. Porém, demorou para chegar em São Paulo. Artistas como Renatinho e Alemão, Thim e Dedesso, MC Careca, Vina e Fandangos, MC Primo, MC Bola, Neguinho do Kaxeta, Duda do Marapé, Felipe Boladão e Boy do Charmes foram alguns dos nomes que fizeram o nosso funk se consolidar na capital paulista.

Identidade periférica através da música

A música influencia a sociedade, e o funk sempre ditou ritmo em Santos e na Baixada. Durante muitos anos, jovens da região usavam bermuda de veludo, camisa de time e tênis americano porque as letras de funk falavam sobre isso.

O corte de cabelo, a cor do cabelo pintado, as gírias no vocabulário provam que as comunidades em Santos têm uma grande influência do funk desde a década de 1990.

“Com o surgimento do funk ostentação, é isso que passou a influenciar”, destaca Turato.

O gênero revela como os jovens da Baixada constroem pertencimento e voz através da arte.

Da criminalização ao reconhecimento acadêmico

Apesar do sucesso, o funk ainda é alvo de preconceito e criminalização. Turato está dedicado a mudar esse cenário.

 “Muita gente fala sem conhecimento, e normalmente é preconceituosa, não quer aprender. O preconceito é maior na elite, e a academia tem gente de classe média que acha que é elite”, critica.

Quando o gênero começa a ser estudado academicamente e publicado em livro, o reconhecimento institucional ajuda a reduzir o estigma em torno dos bailes e MCs.

Orgulho de Santos na música brasileira

Como santista, Turato sente orgulho ao ver a cidade reconhecida por essa potência cultural.

“Acho que todo munícipe deveria ter o mesmo sentimento. É gente trabalhadora, empregando gente e levando o nome da cidade e da Região”, afirma.

O livro A história do funk santista não apenas documenta quatro décadas de revolução musical. Ele resgata a memória de uma cidade que foi protagonista na difusão do funk pelo Estado de São Paulo e pelo Brasil. É um registro histórico que celebra a arte, a resistência e a identidade periférica da Baixada Santista.

Vitor Fagundes
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