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Feminicídio em Santos: quem protege as mulheres da nossa cidade?

O dia 7 de maio foi brutal para ser mulher em Santos. Na mesma semana em que se celebra o Dia das Mães, Samir assassinou a esposa, Amanda e feriu sua própria filha, uma menina de 10 anos, em uma clínica médica. Esse caso de feminicídio em Santos choca, obviamente, pelos requintes de crueldade. Mas quem é mulher sabe: o ódio aos nossos corpos, mentes e corações não é um caso isolado, e sim um projeto de violência em pleno crescimento.

Quando uma de nós morre, todas morremos um pouco por dentro também.

Como foi o caso de feminicídio em Santos no canal 1?

Segundo informações da imprensa local (G1 e Diário do Litoral), Samir Carvalho, sargento da Polícia Militar, matou Amanda Fernandes, sua esposa a facadas, após atirar contra ela e a filha do casal, de 10 anos.

Amanda tinha outros 2 filhos.

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Isso aconteceu em uma clínica médica de dermatologia na Avenida Pinheiro Machado, no bairro Marapé. Mais do que um crime que parou a cidade, ele lança luz sobre uma onda crescente de violência contra a mulher na Baixada Santista e todo o estado paulista.

Vamos parar e ler novamente o parágrafo acima. O policial estava de folga. Atirou contra a mulher e a filha. Depois dos tiros, ainda esfaqueou para, finalmente, matá-la.

Segundo relatos do local e informações do registro da Polícia Civil, Samir Carvalho soube que a esposa e a filha estavam em consulta médica na clínica. Ao notar a presença do marido, Amanda Fernandes avisou o médico que Samir estava “atrás dela”. O profissional de saúde agiu rapidamente, trancando Amanda e a menina em uma das salas do consultório. Chamaram a Polícia Militar para atender a ocorrência.

Como o sargento conseguiu esfaquear a esposa na presença dos policiais?

De acordo com o registro da Polícia Civil, quando os PMs chegaram, Samir Carvalho “levantou a camisa, numa aparente tentativa de simular que não estava armado”. A versão da Polícia Civil descreve que, assim que o médico abriu a porta da sala onde mãe e filha estavam abrigadas, o sargento pegou uma arma em outra sala do consultório, passou por trás dos policiais e efetuou diversos disparos, atingindo Amanda Fernandes e a filha.

Não parou por aí.

O agressor pegou a faca e desferiu aproximadamente dez golpes contra Amanda.

Ela morreu no local.

A filha do casal, atingida pelos disparos, foi socorrida para a Santa Casa de Santos por volta das 15h30. O hospital informou que a paciente está sendo atendida pela equipe multidisciplinar da emergência, mas não tem autorização para fornecer detalhes sobre seu estado de saúde.

Uma versão alternativa foi apresentada pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), que divulgou em nota que os policiais militares chegaram ao local e já encontraram a mulher sem vida e a filha ferida por disparos de arma de fogo. Há uma divergência de informações, conforme aponta o G1, que a PM e a SSP-SP não esclareceu ainda (até o fechamento deste texto, às 12h15 de quinta-feira, 8 de maio).

Samir Carvalho foi preso em flagrante e encaminhado ao Presídio Militar Romão Gomes.

O registro do caso na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Santos é doloroso: violência doméstica, feminicídio e tentativa de homicídio. A Polícia Civil instaurou inquérito para investigar todas as circunstâncias do crime. Paralelamente, a Polícia Militar abriu um inquérito para apurar a conduta dos agentes que atuaram na ocorrência.

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Não existe espaço seguro para ser mulher no Brasil

O assassinato de Amanda faz pensar, revolta e nos entristece. Quem está nos protegendo dos homens que vivem ao nosso lado para depois atirar contra nós para matar?

No entanto, ela não é a primeira e não será a única.

Vamos falar dos índices de violência contra a mulher na Baixada Santista e em São Paulo.

Na região, a situação é alarmante. Em 2023, a região registrou quase um feminicídio por mês. Os casos de ameaças contra mulheres apresentaram um crescimento expressivo: foram 48.728 registros em 2023, um aumento de 66% em comparação com os 29.313 casos de 2022.

Os estupros também são alarmantes: nos últimos seis meses de 2023, foram registrados 157 casos nos nove municípios da Baixada Santista, o equivalente a quase um estupro por dia. Houve um aumento de 25% nas ocorrências de estupros entre agosto e setembro de 2023, em comparação com o mesmo período de 2022, especialmente em cidades como Santos, Guarujá, São Vicente e Praia Grande.

E vale lembrar: feminicídio, estupro e abuso geralmente envolvem pessoas da convivência da vítima, como marido, pai, tio, avô e outros.

Em São Paulo, o quadro de violência contra a mulher, em especial o feminicídio, cresceu nos últimos anos, batendo recordes. Em 2022, o estado registrou 195 vítimas de feminicídio, o maior número anual desde 2015, representando um aumento de 40% em relação aos 140 casos de 2021. No ano seguinte, foram 221 casos, um crescimento de aproximadamente 13% em relação ao ano anterior.

Quer mais? O ano de 2024 foi o mais violento em termos de feminicídios: entre janeiro e novembro, o estado de São Paulo teve 226 casos.

É recorrente

Apesar das fotos felizes em redes sociais, é muito pouco provável que esta tenha sido a primeira agressão de Samir a Amanda.

Dados da SSP sobre os casos de 2023 mostram que em 83,2% das situações a vítima já havia sofrido violência doméstica anteriormente. .

Em 56,1% das ocorrências, a mulher tinha uma relação afetiva com o agressor, e em 39,3% dos casos, uma ligação familiar ou de amizade.

A delegada Jamila Jorge Ferrari, coordenadora das DDMs, corrobora esses achados, afirmando que o agressor é geralmente companheiro da vítima e que a violência doméstica antecede a fatalidade, sendo raro o feminicídio ocorrer como primeira agressão.

Um outro ponto a ressaltar, pela socióloga Silvana Mariano, coordenadora do Laboratório de Estudos de Feminicídios (LESFEM), é que o aumento nos índices se deve tanto ao crescimento real da violência quanto a uma classificação mais adequada desse tipo de crime pelas autoridades policiais. Ela aponta que casos tipicamente de feminicídio já foram nomeados como homicídio anteriormente, mas ressalta que ainda há subnotificação. Portanto, os números devem continuar a aumentar.

Moramos na cidade com a maior propoção de mulheres no país. É um dado lindo para quando se discursa sobre igualdade de gênero e políticas públicas. Porém, as Amandas, Flávias, Alices, Déboras, Luizas, Natálias e todas nós queremos saber: como as autoridades e políticas públicas vão agir para proteger as mulheres que geram renda, cuidam das famílias e transformam realidades na Baixada Santista? 

7 iniciativas em Santos para combar a violência contra a mulher

Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência (NAVV)

Inaugurado pelo Ministério Público em 20 de março de 2025, oferece apoio com psicólogas e convênio com a Unisantos. A unidade do Núcleo de Atendimento às Vítimas de Violência conta com atendimento psicológico, jurídico e social, destacando a importância da união de várias instituições para melhorar os direitos da mulher.

Casa da Mulher

Inaugurada em novembro de 2024, o local foi criado para ampliar a rede municipal de assistência com mais prevenção, segurança e oportunidades para as mulheres. Um serviço essencial que encaminha mulheres para outros serviços como CRAS e CREAS. No local, as mulheres vítimas de violência são ouvidas e terão defesa jurídica para suas vulnerabilidades. A casa também oferece capacitações para gerar oportunidade de emprego e liberdade financeira.

Abrigo Sigiloso e Casa de Passagem

A cidade de Santos dispõe desse serviço, um local sigiloso para acolher as mulheres. Em 2019, apenas 30 municípios paulistas – cerca de 4,6% do total do estado – possuíam abrigos sigilosos para mulheres em situação de violência doméstica, segundo a Defensoria Pública de São Paulo. Hoje, das 645 cidades, 42 possuem o serviço, incluindo Santos.

Delegacia de Defesa da Mulher (DDM)

Referência para o registro de ocorrências e investigação de casos.

CREAS e CRAS

Serviços essenciais da assistência social para o acolhimento e acompanhamento de mulheres em vulnerabilidade e situação de violência.

Guardiã Maria da Penha

Em funcionamento desde 2019, esta ação da Guarda Civil Municipal (GCM) de Santos combate o ciclo da violência contra a mulher por meio do acompanhamento de mulheres com medidas protetivas, levando informação e promovendo o empoderamento.

Casa das Anas

Em operação desde 2014, o serviço funciona como um lar para um momento de transição na vida de mulher vítimas de violência. As mulheres abrigadas na Casa das Anas já passaram por outros serviços sociais oferecidos pela prefeitura e lá têm a oportunidade de vivenciar uma rotina doméstica, com auxílio e respaldo assistencial para retomada de suas histórias.

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