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De São Vicente, Evandro Cruz Silva é finalista do Prêmio São Paulo de Literatura 2025

Autor representa a Baixada Santista com romance de estreia que questiona o ideal do branqueamento no Brasil

Tempo de leitura: 5 minutos

Natural do Jóquei Clube, em São Vicente, o sociólogo e escritor Evandro Cruz Silva está entre os finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura 2025, uma das mais importantes premiações literárias do país. Com o romance “O embranquecimento”, publicado pela Editora Patuá, ele concorre na categoria Melhor Romance de Estreia de 2024.

www.juicysantos.com.br - Escritor de São Vicente é finalista do Prêmio São Paulo de Literatura 2025Foto: Reprodução

A cerimônia acontece no dia 24 de novembro (segunda-feira), na Biblioteca Parque Villa-Lobos, em São Paulo. A premiação recebeu a inscrição de 323 obras, sendo 158 na categoria Melhor Romance do Ano e 165 em Melhor Romance de Estreia.

Da necessidade à arte

A história do livro começou de forma inusitada. Desempregado e precisando de dinheiro, Silva inscreveu uma única cena no edital ProAC (Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo), junto com um projeto de romance.

“Foi muito ousado, porque geralmente os editais do ProAC são de obras quase prontas”, conta.

Para sua surpresa, o projeto foi contemplado.

“Bateu aquela coisa: ganhou, tem que trabalhar.”

Com um ano para entregar o manuscrito, o autor estabeleceu uma rotina disciplinada.

“Eu escrevo todos os dias de manhã, acordo muito cedo, sento e escrevo”, explica.

A escrita fluiu a partir de uma personagem que já habitava sua imaginação há tempos: Macária, uma acadêmica negra extremamente intelectual, capaz de resolver qualquer problema teórico, mas completamente perdida na vida afetiva.

“Eu queria criar uma personagem que conseguisse resolver todos os problemas intelectuais dela e que ela não resolvesse nenhum problema emocional”, diz o escritor. “Um tipo clássico na academia: uma pessoa muito inteligente, mas meio desembestada.”

Entre cores e afetos

O ponto de partida para a trama foi o quadro A redenção de Cam, do pintor espanhol Modesto Brocos, obra que costuma aparecer em livros escolares ao discutir as teorias do branqueamento no Brasil.

www.juicysantos.com.br - Redenção de cam

“Eu achei que esse quadro dava uma boa narrativa literária para essa personagem que eu queria criar”, conta.

Macária é uma especialista em arte que estuda a mistura das cores, mas não consegue lidar bem com sua própria família multirracial.

“A família dela é uma mistura de cores, como várias famílias brasileiras”, explica o autor.

O título do romance funciona como uma provocação aberta.

“É uma pergunta para o leitor: o que é o embranquecimento para você? A personagem se depara com um ideal de embranquecimento que não é exatamente o que ela achava que veria, não é o ideal que a gente estuda na sociologia, é uma coisa mais da vida cotidiana mesmo.”

Entre a academia e a literatura

Atualmente pós-doutorando na Unicamp, ele desenvolve pesquisas na área de segurança pública. Sua formação em Ciências Sociais começou nos cursinhos comunitários da Baixada, especialmente no Educafro e no curso da Unesp Baixada.

“Quando eu comecei a estudar sério, eu já comecei muito ligado às coisas das desigualdades sociais”, lembra.

Mas a rigidez acadêmica o levou a buscar outras formas de expressão.

“A academia tem um jeito muito duro de elaborar problemas. Eu sempre achei que eu escrevia mal, tinha boas ideias, mas as ideias saíam mal. Fui atrás de escrever melhor e caí na literatura.”

A literatura permitiu que Evandro se desapegasse da seriedade sociológica.

“Eu já estava um pouco cansado de falar muito sério e a arte me deixou brincar com as coisas, fazer de uma maneira mais divertida.”

A Baixada como destino

Depois de passar 13 anos no interior paulista durante sua formação, o autor voltou recentemente para a Baixada Santista. Essa experiência de retorno permeia sua obra.

“Não por acaso, nos meus personagens e histórias, a Baixada é sempre um lugar onde as pessoas estão voltando, onde elas têm história de infância, essa coisa meio conhecida, meio estrangeiro.”

Sobre a indicação ao prêmio, o escritor mantém os pés no chão.

“Eu já ganhei prêmio, já perdi prêmio e já fui jurado de muitos, então já dei a volta nesse ritual de consagração”, diz com tranquilidade. “Não fico tão feliz quando ganho porque não fico tão triste quando perco. O importante é continuar fazendo arte que interesse para alguém.”

Mas reconhece a importância da premiação para ampliar o alcance do livro.

“Fico feliz porque faço parte de uma editora independente e essas premiações ajudam muito na circulação do livro. Muita gente usa essas listas para eleger qual livro vai ler.”

Trajetória premiada

Cruz Silva já acumula reconhecimentos importantes. Foi um dos vencedores do Prêmio Nacional de Ensaísmo da revista Serrote, em 2020, e selecionado para o Forbes Under 30, em 2021, na categoria Artes Plásticas e Literatura. É autor do livro de contos “Praia artificial” (Patuá, 2021) e da novela “A dor nas costas” (Sesc, 2023).

Para o futuro, a intenção é simples:

“Enquanto eu puder escrever e enquanto alguém quiser ler o que eu escrevo, tá bom. O resto é sorte. Quero continuar escrevendo, gosto muito de bater os dedos nas teclas.”

“O embranquecimento” está disponível no site da Editora Patuá e na Realejo Livros (Av. Mal. Deodoro, 2 – Gonzaga), em Santos.

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