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Calor extremo em Santos: como as altas temperaturas prejudicam a educação?

Com temperaturas chegando a 42°C, escolas da região enfrentam desafios para manter o ensino de qualidade. Especialistas alertam para os impactos no aprendizado e pedem medidas urgentes

Tempo de leitura: 5 minutos

O fim de ano está chegando e estamos no momento em que a temperatura começa a virar. Levando em conta os 50°C de sensação térmica que tivemos no começo de 2025, o próximo verão promete temperaturas igualmente desagradáveis. E a educação é uma das grandes prejudicadas com o calor.

Se você mora em Santos, provavelmente já começou o dia se perguntando: “por que está tão quente?”. E, se você tem filhos em idade escolar, essa preocupação ganha contornos ainda mais sérios.

O calor que assola a Baixada Santista está prejudicando diretamente a educação das nossas crianças e adolescentes.

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O problema está aqui e agora

Em outubro de 2025, dez alunos da Escola Estadual Marquês de São Vicente, no Gonzaga, precisaram ser socorridos após passarem mal devido ao calor intenso. As temperaturas na cidade chegaram a 42°C, segundo a Defesa Civil Municipal.

Os estudantes receberam os primeiros socorros do Samu ainda na escola e foram encaminhados à UPA Central. Todos já receberam alta, mas o episódio acendeu um alerta vermelho.

Infelizmente, esse não foi um caso isolado. No começo do ano, em fevereiro, alunos da Escola Estadual Maria Pacheco Nobre, na Praia Grande, também passaram mal devido ao calor extremo. E a tendência é que essas notícias se tornem cada vez mais recorrentes na região.

Por que Santos é tão quente?

Antes de entendermos o impacto na educação, é importante compreender por que a Baixada Santista enfrenta temperaturas tão elevadas. Maria Fernanda Hans, docente coordenadora do curso de pós-graduação em Gestão Ambiental do Senac Santos, explicou para o Juicy em 2023 que o litoral paulista fica muito próximo à Serra do Mar, o que provoca um acúmulo de umidade que vem do oceano.

“A conta é bem fácil (e dolorida): quanto + calor + nuvens carregadas que não conseguem ultrapassar a serra do mar + umidade (e suor) + chuva”, resume a especialista. Ela complementa que as nuvens funcionam como uma espécie de estufa, retendo o calor absorvido pela superfície terrestre.

Somado a isso, Santos sofre com o fenômeno da Ilha de Calor Urbano, em que a concentração de edifícios e ruas asfaltadas absorve e retém o calor do sol, elevando ainda mais as temperaturas (tem dias em que é possível fritar um ovo na rua). A cidade também está em uma região de alta insolação, recebendo grande quantidade de radiação solar ao longo do ano.

O cérebro não aprende no calor

A partir de 38°C de temperatura ambiente, especialistas afirmam que a capacidade de aprendizagem dos alunos fica seriamente comprometida. Raciocínio, memorização dos conteúdos e compreensão do que está sendo ensinado diminuem drasticamente.

Em temperaturas muito altas, acima de 42°C, o comprometimento pode ser irreversível a longo prazo. Em torno de uma hora de exposição, os neurônios correm risco de morrer

O motivo é científico: as altas temperaturas degradam os neurotransmissores, responsáveis pela comunicação entre os neurônios. Essa comunicação é o que dá origem à sinapse, a ferramenta que permite o acesso a novos conhecimentos. Sem ela funcionando adequadamente, simplesmente não há aprendizado.

A realidade das escolas brasileiras

Um levantamento do Centro de Inovação para a Excelência das Políticas Públicas revela que 66% das escolas públicas no Brasil não têm ar-condicionado. Nas escolas privadas, esse percentual é de 52%. Na capital paulista, de 34 mil salas das escolas municipais e estaduais, apenas 223 possuem climatização.

No início de fevereiro, a Justiça do Rio Grande do Sul suspendeu temporariamente o retorno das aulas nas escolas estaduais devido à previsão de temperaturas extremas. A decisão gerou debate: até que ponto as escolas devem suspender as atividades por causa do calor? Talvez seja algo para se pensar nas cidades da baixada.

O que precisa ser feito?

Existem quatro eixos importantes para orientar o enfrentamento à crise climática nas escolas:

  • Infraestrutura sustentável e sistemas resilientes: Investir em climatização, ventilação adequada e espaços que protejam do calor extremo.
  • Educação climática e ambiental nos currículos: Incluir o tema das mudanças climáticas de forma contextualizada no ensino, preparando os estudantes para compreender e enfrentar o problema.
  • Engajamento da comunidade escolar: Transformar professores, alunos e famílias em agentes de mudança.
  • Colaboração intersetorial: Criar parcerias entre educação, meio ambiente, saúde e outros setores para respostas inovadoras e escaláveis.

A boa notícia é que Santos não está de braços cruzados. A cidade faz parte do Pacto Global de Prefeitos pelo Clima e a Energia, uma aliança global de governos locais comprometidos com a luta contra as mudanças climáticas.

A vice-prefeita Audrey Kleys (Novo) garantiu que as 86 unidades municipais de Educação (UMEs) estarão equipadas com ar-condicionado até o final do ano de 2025.

Cuidados em dias de calor extremo

Enquanto soluções estruturais não chegam, a Defesa Civil do Estado de São Paulo recomenda atenção especial com crianças e adolescentes, que se desidratam mais rapidamente:

  • Manter hidratação constante ao longo do dia
  • Evitar exposição direta ao sol entre 10h e 16h
  • Procurar ficar em locais com sombra e ventilação
  • Não praticar atividades físicas intensas nos horários mais quentes
  • Ter alimentação leve, com frutas, saladas e alimentos com alto teor de água

O desafio está posto: ou nos adaptamos urgentemente a essa nova realidade climática, ou continuaremos vendo nossas crianças literalmente passando mal nas escolas. A educação de qualidade não pode esperar e o calor, infelizmente, não vai embora sozinho.

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