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Batalha da Conselheiro: 10 anos promovendo cultura em Santos

Cultura de rua não é "bagunça" — é movimento organizado, é potência criativa e transformação social.

Tempo de leitura: 5 minutos

A Batalha da Conselheiro celebra uma década como pioneira e mais antiga batalha de rimas em atividade na Baixada Santista. Desde 21 de outubro de 2015, o evento semanal tem transformado a esquina da Avenida Conselheiro Nébias com a praia em um ponto de encontro para MCs, artistas e jovens de toda a região.

Com mais de 470 edições realizadas, a batalha se consolida como referência cultural e movimento de impacto social na cidade de Santos.

Batalha de rimas na Baixada Santista

A batalha da conselheiro se tornou um marco na cena do hip-hop regional. O evento acontece religiosamente todas as quartas-feiras, na pérgola do Boqueirão, reunindo entre 16 e 32 MCs por edição e um público fiel que varia de 150 a 200 pessoas. Segundo Guilherme Cres, MC, produtor, idealizador e apresentador da batalha, manter essa constância foi o maior desafio da última década.

“Muita coisa aconteceu nesses 10 anos e às vezes coincide com o dia da Batalha. Tivemos que montar uma equipe para conseguir manter de forma ininterrupta toda quarta-feira”, explica.

A pandemia representou um período de pausa forçada, mas o evento retornou com força, reafirmando seu compromisso com a cultura de rua.

Inovação e impacto social

A Batalha da Conselheiro inovou ao implementar o formato “bate e volta”, modelo que hoje serve de referência para diversas batalhas da região. Além disso, o evento desempenha papel fundamental na formação de novos artistas.

MCs conhecidos na Baixada Santista, como Tubarão e Grafiteh, são “crias” da batalha. Em 2022, Tubarão representou a Batalha da Conselheiro e ficou em segundo lugar em importante concurso estadual, consolidando a força da cena local. O impacto social vai além da música.

“Várias gerações já passaram por lá nesses 10 anos. Vi de perto pessoas que podiam estar fazendo alguma coisa errada e estavam lá para assistir, resolveram participar e encontraram ali um propósito”, conta Guilherme.

Para a juventude santista, a batalha representa lazer cultural gratuito e um espaço de transformação.

Preconceito e resistência

Como muitas manifestações da cultura periférica, a batalha de MCs enfrenta preconceitos.

“Tem um estigma com cultura periferia. Muitas batalhas de rima são vistas dessa forma. Direto moradores ligam para a guarda, pois eles não gostam”, revela o organizador.

No entanto, a Batalha da Conselheiro proíbe racismo, machismo, homofobia e qualquer tipo de preconceito, tornando-se também forma de conscientização sobre questões sociais.

As batalhas de rima se tornaram um dos pilares da cultura hip-hop no Brasil, revelando talentos e transformando realidades por meio do improviso. Esses eventos promovem liberdade de expressão e acesso à cultura nas periferias, funcionando como espaços de resistência e identidade.

Evento de 10 anos

Para celebrar a década, a Batalha da Conselheiro realiza evento especial hoje no dia 17 de dezembro, a partir das 17h, na pérgola da Conselheiro. A comemoração trará MCs de São Paulo, incluindo nomes conhecidos nacionalmente com mais de 1 milhão de seguidores, além dos talentos locais. A expectativa é dobrar o público habitual, alcançando pelo menos 500 pessoas.

“A importância desse intercâmbio é justamente conseguir atrair mais público através da visibilidade. É um pessoal famoso, e colocando eles para rimar junto com os daqui, a gente dá esse destaque para os artistas locais também”, explica o organizador.

Essa ponte entre a Baixada e a Capital fortalece toda a cena regional do freestyle.

Profissionalização e os próximos passos do movimento

Olhando para o futuro, a Batalha da Conselheiro trabalha na profissionalização do movimento. A equipe já iniciou articulações para criar um CNPJ e abrir uma associação, possibilitando captar recursos e estabelecer parcerias institucionais.

 O próximo passo envolve entender como dialogar com o poder público para garantir apoio estrutural aos eventos.

“A prefeitura pode estar ajudando a gente, por exemplo, com palco e grade no evento. O próximo passo é justamente entender como lidar com o poder público”, destaca Guilherme.

A batalha representa importante modelo de como a cultura hip-hop pode se organizar e conquistar reconhecimento oficial.

No Brasil, as batalhas de rap ou rima têm se aprimorado e propagado cada vez mais a cultura do hip-hop. Em alguns estados, as batalhas de rima foram reconhecidas como patrimônio cultural imaterial, evidenciando a importância dessas manifestações para a juventude brasileira.

Cultura de rua como patrimônio Santista

A longevidade da Batalha da Conselheiro demonstra a vitalidade da cultura de rua em Santos. Com uma década de história, mais de 470 edições e gerações de artistas formados, o evento se consolida como patrimônio cultural da cidade. O aniversário de 10 anos representa não apenas uma celebração, mas a afirmação de que a cultura periférica tem espaço, relevância e futuro promissor na Baixada Santista.

O evento de hoje, dia 17 de dezembro, será totalmente gratuito e aberto ao público, reafirmando o compromisso da batalha com o acesso democrático à cultura. Para quem aprecia hip-hop, freestyle e quer conhecer a força da cena local, essa é uma oportunidade imperdível de participar de um momento histórico do movimento cultural santista.

Vitor Fagundes
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