Adalzira Bittencourt: essa pioneira do feminismo fez história em Santos
Talvez você não saiba quem é Adalzira Bittencourt. Mas o movimento feminista no Brasil com certeza não seria o mesmo sem ela. E sua história tem uma passagem por Santos que precisa ser contada.
Ela foi uma verdadeira força da natureza na luta pelos direitos das mulheres no Brasil. Escritora, jornalista e feminista de carteirinha, ela usou a palavra como sua principal arma para combater as injustiças de gênero.
Adalzira Bittencourt, a primeira mulher a defender uma causa no tribunal em Santos
Na década de 1920, Adalzira já estava na linha de frente, fundando revistas e escrevendo artigos que defendiam a participação feminina em todos os espaços da sociedade. Juntamente com outra pioneira, Natércia da Cunha Silveira, era consultora jurídica da revista Brasil Feminino.
Além disso, Adalzira tinha uma visão afiada sobre a necessidade de mudar a percepção das mulheres na sociedade. Ela acreditava que, através da educação e do trabalho, as mulheres poderiam conquistar sua independência e liberdade. E não ficou só no discurso: sua trajetória é uma inspiração para qualquer um que acredita no poder transformador da escrita e na força das ideias.
Em 1926, Adalzira Bittencourt fez história no Tribunal de Justiça de Santos ao se tornar a primeira mulher a defender uma causa na região, quebrando barreiras e marcando presença em um campo até então dominado por homens.
Na época, ela era apenas uma estudante de Direito, mas sua defesa apaixonada de Messias Constante, acusado de assassinato, conquistou o júri e absolveu o réu. A jovem advogada mostrou que, mesmo em uma época de grandes resistências, as mulheres podiam, sim, ocupar espaços de proeminência.
Ela ainda estava na faculdade quando ganhou o caso
A sala do Tribunal estava lotada de curiosos para ver a “mulher ousada” que se atrevia a defender um réu em um caso tão polêmico. Adalzira, com uma oratória afiada, citou grandes nomes da literatura e da psiquiatria para embasar sua defesa, deixando todos boquiabertos. Seu desempenho foi tão marcante que, mesmo com o promotor público apresentando uma forte acusação, o júri não teve dúvidas ao dar o veredito de absolvição.
Essa vitória foi apenas o começo da trajetória de Adalzira Bittencourt. Em 1927, ela se formou advogada, a única mulher em sua turma.
No ano seguinte, Adalzira ampliou seus horizontes, viajando para a Europa, onde se especializou em Direito Internacional. Mas seu talento não se limitava às leis.
Adalzira também era uma apaixonada pela literatura. Aos 15 anos, já tinha um texto prefaciado pelo santista Vicente de Carvalho, a quem admirava muito. Dessa forma, ao longo de sua vida, publicou nove livros, muitos deles abordando temas de empoderamento feminino.
O sonho de uma mulher na Presidência
Entre suas obras mais marcantes está o romance “Sua Excelência, a Presidente da República no ano de 2050”, lançado em 1929. O livro, que imaginava um futuro com uma mulher no cargo mais alto do país, consolidou Adalzira como um símbolo da luta pelos direitos das mulheres no Brasil.
É bem curioso pensar que sua utopia se realizou bem antes, em 2010, com Dilma Roussef.
Inspiradora que fala?
Adalzira foi uma figura fundamental na primeira onda do feminismo brasileiro. Seu feito no Tribunal de Júri de Santos em 1926 foi apenas o início de uma longa lista de conquistas e lutas pelos direitos das mulheres. Hoje, sua história serve de inspiração nós que seguimos na luta por igualdade e justiça.
Sua visão sobre o feminismo era clara: ela defendia um movimento “brasileiro e latino”, que colocava a mulher em seu devido lugar de respeito, ensinando valores como honestidade, justiça e ética.
Resumindo, Adalzira não se contentou em ser espectadora da história. Ela foi líder, abrindo caminhos para que as mulheres brasileiras pudessem ser ouvidas e respeitadas. Sua luta, iniciada há quase um século, ecoa até hoje, lembrando a todos nós que a igualdade de gênero é uma causa para se lutar todos os dias, todas as horas, todos os minutos.