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2° edição do Juicy Design Meetup: vem ver a cobertura completa

Uma maratona de 10 horas de criatividade, inovação e inspiração no Juicyhub

Tempo de leitura: 30 minutos

Mais uma edição do Juicy Design Meetup movimentou o cenário criativo de Santos no sábado (30 de agosto).

E que onda foi essa!? O Juicyhub recebeu essa galera criativa por 10 horas intensas de pura inspiração. Designers, ilustradores, estudantes e gente de todas as tribos se encontram em uma imersão épica no universo do design e da inovação.

O dia foi um verdadeiro mergulho em conteúdos exclusivos com alguns dos maiores especialistas em arte, design, UX e inovação do país.

www.juicysantos.com.br - juicy design meetup paula cruz

Paula Cruz em palestra de abertura no Juicy Design Meetup

Com a presença da Adobe como patrocinadora oficial, Ludmilla Rossi, CEO do Juicyhub e designer, deu as boas-vindas aos participantes, destacando o compromisso do evento em fortalecer e valorizar a comunidade criativa brasileira.

“Tenho muito orgulho de ter conseguido trazer a Adobe como parceira para criar esse evento. Na última edição, eles ficaram muito impactados com a presença e a interação de todos, isso traz uma visibilidade enorme para a Baixada Santista.”

Ludmilla revelou que o mercado está aquecido na região. E que, no dia 8 de setembro,  quem passou pelo Juicy Design Meetup vai receber um formulário para cadastrar seu currículo e portifólio para a formação de um “banco” de talentos da área do design.

A programação ofereceu uma experiência única de aprendizado e networking, com palestras que proporcionaram insights valiosos sobre tendências, carreira e inovação no design.

www.juicysantos.com.br - Ludmilla

“A gente não está fazendo só post de rede social ou uma simples arte, criamos um trabalho que mexe com os lugares  e gera um impacto que as vezes não imaginamos”, provocou a CEO.

O evento é uma realização do Juicyhub em parceria com a Adobe, com a colaboração da Agenda Design e do Plural Latino.

Veja alguns dos destaques do Juicy Design Meetup

Rodrigo Munhoz

“A inovação e as boas ideias podem surgir em qualquer lugar.”

Rodrigo Munhoz, diretor LATAM de Vendas Digitais da Adobe, abriu a maratona de palestras com uma mensagem inspiradora:

“A comunidade criativa da qual fazemos parte é o que mais me orgulha. As pessoas se apaixonam por ela, mesmo quem não é designer.”

www.juicysantos.com.br - Rodrigo Munhoz

Segundo Rodrigo, a economia criativa representa cerca de 3% do PIB brasileiro, empregando cerca de 7,5 milhões de pessoas em mais de 130 mil empresas formalizadas, o que reforça a relevância do encontro: conectar o mercado, fomentar a criatividade e impulsionar o crescimento do país.

Ele destacou que, embora o mundo tecnológico esteja em constante transformação, a criatividade permanece como um pilar essencial. A comunidade criativa tem o poder de transformar ideias em valor, e eventos como o Juicy Design Meetup evidenciam a importância do pensamento criativo.

Durante a fala, Rodrigo compartilhou experiências pessoais, incluindo a relação dos filhos com as inteligências artificiais — algo que, segundo ele, desperta fascínio e certo receio sobre o futuro.

“Estamos incorporando a Inteligência Artificial nos produtos da Adobe. Isso não deve gerar medo, mas sim compreensão. Para mim, é apenas mais uma ferramenta para apoiar o ser humano. Quanto mais ela evolui, mais importantes se tornam as qualidades humanas”, afirmou.

Empatia, interpretação de contextos, capacidade de lidar com ambiguidades e construção de relacionamentos são, para Rodrigo, habilidades que nenhuma máquina pode substituir:

“Talvez um dia ensinemos a IA a ter personalidade, mas ela nunca será humana. Estudem, entendam a tecnologia, mas não se intimidem. Quanto mais humanos vocês forem, melhores profissionais serão — e não pelo quanto usam as máquinas.”

Para encerrar, Rodrigo prestou homenagem ao escritor Luis Fernando Verissimo, que faleceu neste sábado (30 de agosto). Ele lembrou que Verissimo iniciou sua trajetória como quadrinista, sem sucesso imediato:

“Ele sempre foi artista, mas precisou encontrar o caminho certo para expressar sua arte.”

Paula Cruz – Coisas que ninguém me disse quando eu era caloura

A primeira palestra foi da ilustradora Paula Cruz, que acumula experiências em gigantes como Google, Facebook, YouTube Global e WhatsApp Global. Ao longo de sua fala, Paula compartilhou aprendizados valiosos, dicas práticas e os desafios que enfrentou desde os tempos de faculdade até o início da carreira no universo criativo.

Para começar, ela apresentou um pouco do próprio portfólio e fez questão de destacar a conexão pessoal com o trabalho:

“Meu trabalho é muito do que eu sou. Hoje vou falar coisas que ninguém me contou e que eu tive que aprender do jeito difícil.”

www.juicysantos.com.br - Paula Cruz

Carioca na essência, Paula contou que carrega em suas criações o jeito descontraído e as referências culturais do Rio de Janeiro:

“Desde os 15 anos trabalho com design. Sou da época dos blogs, onde descobri esse mundo — sem imaginar que poderia virar uma carreira”, relembrou.

Defensora da educação como caminho para a emancipação, Paula mistura bom humor e autenticidade. Entre risadas, se define como “nerdola” assumida, apaixonada por produtos da cultura pop que também influenciam seu estilo.

O design, segundo ela, trouxe liberdade para unir todas as suas paixões: livros, música, quadrinhos, animes e muito mais. Essas referências se tornaram a base do seu trabalho e ajudam a contar quem ela é.

Durante a faculdade, criou um lema para manter a motivação mesmo nas disciplinas menos empolgantes: “Todo projeto é o seu melhor projeto”. Para ela, essa mentalidade transforma a experiência acadêmica e abre portas para oportunidades inesperadas.

Foi justamente na faculdade que Paula teve um marco importante: seu primeiro projeto em destaque pela Adobe. A iniciativa uniu poesia e design, trazendo visibilidade internacional pela primeira vez.

Outro sonho realizado foi estudar fora do Brasil pelo programa Ciência Sem Fronteiras, na Holanda.

“Não fui por causa da maconha legalizada, mas pelos mestres de lá. Claro que Van Gogh é uma referência, mas não para por aí. Descobri estúdios que me faziam pensar: ‘nossa, isso também é design?’”

Em Rotterdam, Paula estudou na Willem de Kooning Academy, onde aprendeu com grandes nomes do design holandês. Durante a palestra, compartilhou um pouco dessa tour europeia.

“Se você está falhando, você está aprendendo. Essa frase da Holanda mudou o jeito que eu trabalho. Pensamos que o resultado é o que importa mais, mas o processo é muito relevante também.”

Outra lição que Paula aprendeu durante sua experiência na Holanda foi a importância de prestar atenção aos acasos. Um deles, relacionado a livros, acabou se transformando em um projeto que abriu portas para a realização de seu mestrado.

Em sua palestra, Paula também destacou a relevância do contexto para compreender uma obra por completo. “Quando um estrangeiro estuda Racionais e não gosta, por exemplo, na verdade ele não entendeu a proposta desde o início”, explicou. Para ela, esse é um ponto essencial para futuros designers: entender a cultura e o cenário que cercam qualquer criação.

A palestrante apresentou alguns de seus projetos autorais — inclusive trabalhos que chegaram ao Lollapalooza. Ao exibir suas criações, ela revelou como as referências moldam a produção artística, defendendo que consumir cultura é parte fundamental do processo criativo. Entre suas inspirações, citou nomes e obras como BTS, Cowboy Bebop e Van Gogh.

“É sonhando com o impossível que a gente torna ele possível.”

Essa foi a motivação da carreira de Paula, e dessa forma, ela conseguiu clientes que sequer imaginou. Mas nunca esquecendo que nenhum trabalho é feito sozinho, “desenhar de mãos juntas” é essencial.

“A gente tem que apostar em si mesmo”

A designer acredita que confiar em si mesmo é o que pode mover montanhas na profissão. Assim, Paula realizou grandes sonhos de sua vida, como conhecer e trabalhar no Japão.

Resumindo tudo o que queria apresentar, Paula disse:

“Faça design pelo o que você acredita.”

Bruna Dener – Dessa fonte eu bebereis: como construir referências e conexões no design

A fundadora do Estúdio Decodifica, Bruna, trouxe uma reflexão essencial: em um mundo repleto de ferramentas e tutoriais, o que realmente faz diferença no começo da carreira criativa?

www.juicysantos.com.br - Bruna Dener

O estúdio nasceu de um impulso simples — compartilhar conteúdo sobre design. O que começou como paixão se transformou em negócio e revelou a empreendedora que sempre existiu nela.

“Sempre tive essa veia empreendedora. Comecei a trabalhar aos 16 anos como office girl. Ganhava 100 reais e gastava tudo em fast food. Depois, comecei a vender meus quadros”, relembra.

Na faculdade de publicidade, Bruna enfrentou o contraste social de perto: enquanto colegas já tinham smartphones e WhatsApp, ela usava um celular de teclas. Essa experiência a marcou e reforçou sua determinação.

Antes do estúdio, percorreu muitos caminhos: office girl, confeiteira, aspirante a redatora e produtora artística. Cada experiência somou para formar a profissional que é hoje.

Entre os aprendizados, ela destaca a importância do networking:

“Em publicidade, existe uma rixa entre criação e atendimento. O mercado é cruel e exige jogo de cintura. Quando comecei, me aproximei do atendimento. Sabia que isso abriria portas.”

Além de fundadora e diretora criativa, Bruna é faixa-preta de karatê e já deu aulas na Confederação Paulista. Essa disciplina, segundo ela, influencia diretamente sua forma de liderar e se conectar com as pessoas.

Bruna também compartilhou um pouco do início da sua trajetória, mostrando os primeiros e-mails da época de estagiária. Sua maior preocupação era: “Como as pessoas vão saber que eu existo?”

Foi então que entendeu: as conexões no mercado direcionam caminhos. Networking abre portas.

“Tudo o que tenho hoje começou com a coragem de conhecer pessoas.”

Outro ponto que Bruna reforçou foi a importância das referências. Para ela, o melhor do brasileiro vem do “suco do Brasil”:

“Primeiro precisamos dominar nossa cultura para depois pensar internacionalmente.”

A plateia pôde ver algumas dessas referências ligadas à ancestralidade do país. Para Bruna, tudo o que criamos é uma conversa com aquilo que nos moldou: comportamentos, interações, raízes, contexto e funcionalidade.

Não basta apenas criar: é necessário estudar o todo e observar as tendências a partir do comportamento e da cultura.

Bruna compartilhou algumas fontes que considera essenciais para designers se manterem atualizados: Consumoteca, WGSN, O Futuro das Coisas, Branding na Real, Creative Boom, O Joio e o Trigo, Bits to Brands.

“Estamos sempre buscando atividades diferentes por estarmos tão imersos no digital. O analógico surge como tendência por ser um escapismo da realidade moderna”, explica.

Com esse aprofundamento, o designer consegue propor soluções mais conectadas com a vida real — inclusivas e relevantes. É sobre entender o que as pessoas pensam, suas necessidades e contextos.

“Conectado a tudo isso, o próximo passo é a experimentação.”

Babi Viana – Trilha Novos Talentos: Qual é o sabor da sua história?

Babi Viana estuda design gráfico desde 2024, dedicada a aprender e aplicar conceitos de forma objetiva e inovadora. Sua história é daquelas que inspiram: ela já esteve na plateia do Juicy Design Meetup e decidiu seguir a carreira criativa. Mesmo com pouco tempo de transição, já colhe frutos importantes, inclusive assinando trabalhos para a própria Adobe.

“Queria fazer uma pergunta para todos: qual é o sabor da história de vocês? Bom, hoje vou contar um pouco sobre a minha.”

www.juicysantos.com.br - Babi

Assumir o protagonismo da própria trajetória fez Babi mudar de carreira e alcançar sonhos que antes pareciam distantes. Mas essa mudança começou muito antes do design.

“Estava no ensino médio e rolou uma viagem. Precisava arrecadar dinheiro, então comecei a vender brigadeiros com a minha irmã, já que não aceitei o ‘não’ da minha mãe.”

O que era para ser temporário virou rotina: dois anos vendendo doces nas ruas. O talento com a confeitaria levou Babi a cursar Gastronomia, estagiar na área e, depois, empreender com doces autorais.

A clientela crescia, mas junto veio a receita que ela não queria: a da exaustão. A rotina repetitiva da cozinha não combinava com seu perfil criativo.

“Eu não aguentava mais fazer a mesma coisa todo dia. Então tive a ideia de compartilhar o que sabia e comecei a dar aulas para mudar meu trabalho.”

As aulas levaram Babi a lecionar na Baixada Santista e depois em Barretos, onde ficou um ano. Mas, mesmo com conquistas, a sensação de vazio persistia. Foi aí que ela conheceu um novo sabor: o doce da ilusão.

“Sofri muito, tive um burnout. Cheguei ao topo, conquistei tudo que queria, mas sentia um vazio enorme.”

Foi então que Babi pediu demissão e voltou para Santos, sentia que faltava tempero em sua vida, ela não sabia qual era seu objetivo de vida.

Em busca de um novo sabor e após uma conversa com o irmão, Babi decidiu criar uma marca de granola: a Granolita. A experiência foi positiva, mas ainda não era suficiente. Ela queria algo que a tirasse da zona de conforto — e a Granolita continuava ligada ao universo da cozinha, um espaço do qual ela queria se desprender.

A inquietação e a fome por mudança a levaram para o design. Durante suas pesquisas, externas e internas, percebeu que se autolimitava por acreditar que, para trabalhar com design, era necessário saber desenhar.

“Entrei na faculdade de publicidade achando que o problema estava resolvido, que finalmente tinha me encontrado.”

Seis meses depois, a dúvida voltou: “não era bem isso que eu queria.”

Dentro do curso, descobriu que o que realmente fazia seus olhos brilharem era o design — mas ainda lhe faltava coragem.

“Nossa tarefa de dar vida visual a um projeto é muito complexa. Eu me sentia insegura porque acreditava que não era capaz.”

Mesmo assim, Babi decidiu encarar o desafio. Deu um salto de fé e mergulhou de cabeça no mundo do design.

Foi então que Babi decidiu recalcular sua rota, desta vez com mais seriedade. Em julho de 2024, encontrou uma vaga de técnico em design gráfico em Santos e, mesmo com receio, agarrou a oportunidade. Apesar do medo inicial, ao iniciar o curso, descobriu sua vocação imediatamente.

“Me senti pertencente pela primeira vez em muito tempo. Tudo fazia sentido, fiquei emocionada.”

A partir desse momento, sua meta ficou clara: entrar no mercado o mais rápido possível, mesmo que parecesse loucura. Surgiu, então, a preocupação clássica: “como entrar na área se meu currículo não era compatível?”

“Parei para refletir sobre tudo que vivi e como minhas experiências poderiam agregar ao design. Foi assim que percebi que sabia lidar com pressão, atender clientes e montar um currículo consistente.”

Babi conseguiu entrar no mercado, gerenciando redes sociais de forma abrangente. Trabalhou por 10 meses e hoje é estagiária em uma start-up chilena com operações no Brasil.

Sua habilidade em criar estratégias para solucionar problemas colocaram um novo objetivo em sua cabeça: frequentar todos os espaços e eventos sobre design que encontrasse. Foi assim que conheceu o Juicy Design Meetup, com o objetivo de fazer conexões significativas. E dessas conexões, surgiu a parceria que a levou a trabalhar com a Adobe.

Pola Lucas – Como atrair os projetos de animação que você quer

Atrair projetos de animação dos sonhos é o desafio de quem vive e respira criatividade. E Pola Lucas, referência internacional na área, sabe muito bem disso. Com uma trajetória que mistura busca de estilo próprio, coragem para se expor e dicas afinadas, Pola inspira artistas por aí a conquistarem clientes alinhados com seus valores e paixões. Mas, afinal, como transformar inspirações e autenticidade em portfólio desejado e oportunidades reais no mercado de animação?

Com um currículo que inclui trabalhos para gigantes como Riot Games, Warner e PepsiCo, Pola contou que, no universo audiovisual, especialmente entre freelancers, existe o mito de que projetos autorais ou visualmente incríveis são privilégio de poucos.

E, no Juicy Design Meetup, ela desconstruiu esse pensamento, apontando que o segredo está justamente em olhar para dentro. Um exercício que ela sugeriu para a plateia: listar cinco coisas que ama fazer e cinco coisas que ama consumir. Esse pode ser o primeiro passo para reconhecer traços únicos essenciais para direcionar suas paixões e afinidades.

Outra dica é criar um “mapa de influências” e um mural de inspirações. Essa prática ajuda no foco e no autoconhecimento. E não precisam ser feitos sozinhos: grupos de apoio e colaborações são uma boa pedida pra ser seu motor criativo.

O mercado brasileiro de audiovisual segue crescendo. Em 2024, foram R$ 32,7 bilhões adicionados à economia e 79 mil empregos diretos na área, com remuneração média 94% acima da média nacional. O setor já ocupa 10,1% do market share nacional e ultrapassa 125 milhões de ingressos vendidos, segundo dados recentes da ANCINE. Em paralelo, houve aumento significativo de visibilidade e diversidade: as mulheres são 42% dos profissionais do setor e conteúdos brasileiros estão mais presentes nas grades das TVs por assinatura, alcançando 26% do horário nobre.

Para aparecer para o mercado certo, Pola indica:

  • Expor seu trabalho nas redes sociais e participar de desafios (mesmo pequenos): um post de segundos pode resultar em grandes oportunidades, como o job que Pola conseguiu para a Tic Tac após um desafio de design no Instagram;
  • Enviar e-mails personalizados para clientes desejados: Apresente sua arte, elogie o trabalho do cliente e facilite com um gif no corpo do e-mail, indo além dos círculos tradicionais e rompendo bolhas profissionais;
  • Eventos e networking ainda são essenciais: É nos encontros e festivais que artistas criam conexões importantes para a carreira.
  • Delegue e otimize: Com o aumento das demandas, montar processos (ou pedir dicas de outros artistas), testar pequenas parcerias e delegar responsabilidades não só ajudam a manter o equilíbrio com a saúde mental, como geram novas ideias e facilitam a produtividade.

Arthur Jonas (DiaTipo) – O outro lado da história: a raiva como combustível no processo criativo

Raiva e frustração são sentimentos que, inevitavelmente, sempre fazem parte do processo de qualquer pessoa que trabalha com criatividade. Arthur Jonas, amante da tipografia e integrante da equipe do DiaTipo SP, veio para o Juicy Design Meetup com a missão de mostrar como conseguir reverter esses sentimentos muitas vezes conflitantes em combustível para desenvolver cada vez mais seu próprio trabalho.

Natural de Varginha, no sul de Minas Gerais — sim, a famosa cidade dos ETs — Arthur conta que sua história com o design começou com as letras:

“Minha primeira aula de design foi sobre tipografia. Foi amor à primeira vista.”

Durante a pandemia, a tipografia ganhou força no cenário criativo, e Arthur mergulhou de cabeça. Em um curso de três meses oferecido por uma academia de São Francisco (EUA), desenvolveu duas fontes: Guarita Serif e Catulloem. O trabalho chamou atenção internacional e abriu portas para integrar a equipe do DiaTipo SP.

Apesar de já ter atuado em diferentes áreas, é na tipografia que Arthur se encontra. Mas o que isso tem a ver com raiva? Ele mesmo explica:

“Eu pego ar muito fácil. Não posso lidar com as coisas no calor do momento. Em fevereiro de 2023, participei de uma palestra internacional e falei sobre como lido com a raiva no processo criativo.”

Para ele, a frustração é apenas um detalhe. O verdadeiro desafio é aceitar que a raiva faz parte da vida e usá-la de forma produtiva.

“Por conta da forma como recebemos informações, a nossa visão de mundo está cada vez mais distorcida. A raiva me acompanha mais do que eu gostaria. Não consigo controlar, então tive que aprender a aceitá-la.”

Arthur lembra que, em 2022, o Brasil foi, pelo 14º ano consecutivo, o país que mais matou pessoas trans, cuja expectativa de vida não passa dos 35 anos. Somado a tantas outras injustiças, isso mostra como a raiva está presente no cotidiano de todos. A questão é: o que fazemos com ela?

Para Arthur, canalizar esse sentimento para o processo criativo é uma forma de resistência e expressão.

Portanto, Arthur fez seu manifesto, com uma arte combinando manchetes de agressões contra pessoas trans e uma frase de protesto. Olhando esse projeto, Arthur pensou:

“Consegui pegar um gatilho e transformar em algo criativo. Da minha raiva, criei algo bonito.”

Para Arthur lidar com sentimentos é , aceitar, entender e deixar passar. Usar a raiva como combustível pode ser um jeito de acabar com ela mais facilmente.

Michele Alves (Ubunttu) – Viver da criatividade: como transformar talento em grana

Já te disseram que criatividade sozinha não garante sucesso? É verdade. Mas ela é o primeiro passo. Michele Alves, referência no mercado criativo e idealizadora da Ubunttu Gestão e Finanças, veio para provar que números e planilhas não são inimigos dos criativos. Pelo contrário: são ferramentas para transformar talento em resultados reais.

“Dinheiro não é opcional”, afirma Michele.

E, segundo ela, lidar com as finanças não é apenas fazer contas, é estratégia. Não é simples, mas é totalmente possível viver da criatividade e pagar as contas.

Durante sua fala, Michele compartilhou sua história. Além dos filhos, até os pets entram na lista de dependentes financeiros, o que reforçou sua necessidade de organização. Ela também destacou algo essencial: estudar não tem idade.

“Hoje não existe mais um recorte universitário. Todas as faixas etárias fazem parte desse grupo”, disse.

O nome Ubunttu carrega um propósito profundo: é uma filosofia africana que significa “Eu sou porque nós somos”. Para Michele, essa visão mudou tudo. Ninguém precisa (ou deve) caminhar sozinho.

Com 20 anos de experiência no mercado criativo, sempre na área administrativa, Michele percebeu uma realidade comum:

“Os criativos não querem olhar para as planilhas, querem apenas pagar os boletos”, brincou.

Mas o problema vai além da falta de interesse: o Brasil sofre com a ausência de educação financeira, e isso faz com que muitos criativos desanimem ou abandonem seus sonhos. Por isso, Michele defende que falar sobre dinheiro precisa deixar de ser tabu, especialmente no mercado criativo.

Ela compartilhou dicas valiosas para quem deseja se sustentar vivendo de criatividade:

  • Ninguém faz nada sozinho: o coletivo é essencial, ninguém faz nada sozinho.
  • Falar sobre dinheiro: quebrar o tabu é o primeiro passo para educação financeira.
  • Descolonizar estereótipos: inserir pessoas pretas, trans e outras minorias no mercado.
  • Enfrentar barreiras: As vezes as barreiras estão na nossa própria casa, na cultura em que estamos inseridos. Muitos pais não entendem como o filho pode ganhar dinheiro desenhando, esta é a primeira barreira que deve ser superada. Por que ainda temos na sociedade esse estigma de que arte não é profissão? Porque não temos consciência do valor.
  • Equilibrar funções: separar a pessoa física da jurídica, saber onde começa o CNPJ e termina o CPF.
  • Faça fluxo de caixa para ter previsibilidade.
  • Defina um salário fixo.
  • Faça uma reserva de emergência: pelo menos 6 meses das despesas fixas.
  • Contrate um contador.
  • Faça networking
  • Precifique adequadamente seus serviços.
  • Utilize IA como ferramenta para contribuir com a criatividade.

Michele também trouxe orientações práticas sobre fontes de renda e passos burocráticos para quem é MEI (que não está enquadrada no mercado criativo), mostrando que é possível estruturar o lado financeiro sem deixar a criatividade de lado.

“Todos nós somos herdeiros. A diferença é do que e de quem. Herdamos o comportamento da nossa família diante de finanças.”

Outro ponto que Michele ressaltou é que os designer precisam conhecer seus pontos fortes, o nicho de mercado, as estratégias de negócio e a escala de atuação para ter sucesso financeiro.

Michele listou algumas opções de mercado para os criativos:

  • Criar e vender fontes
  • Licenciamento
  • Branding e identidade visual
  • Motion Design
  • Educação e Workshop
  • Ilustração
  • Design Gráfico
  • Fotografia
  • UI/UX Design

“Claro que é importante ter um plano B e um C. Enquanto se tem energia, é possível.”

Bruno Ortega (Agenda Design) – A morte do livro e o design como última salvação

Bruno Ortega, designer e proprietário do BRO® Studio e da Agenda Design BR, trouxe uma provocação instigante ao Juicy Design Meetup: será que os livros estão morrendo?

Muita gente sonha em trabalhar com design editorial, mas teme que o livro físico desapareça. Para abrir a conversa, Bruno contou um pouco da sua trajetória e como entrou para a lista dos 100 melhores capistas do Brasil. Se alguém entende do assunto, é ele.

Antes de responder a questão, é preciso entender o que é um livro. Ele pode ser impresso ou digital, ficção ou não ficção, vendido em livrarias ou lojas online. Pode ser um e-book, um audiolivro ou até uma HQ. Ou seja: o conceito vai muito além do papel. Hoje, além das livrarias, temos plataformas como o Kindle, que mudaram a forma de consumir conteúdo. Muitas obras também migram para outras linguagens, como filmes e séries.

Mesmo com tantas transformações, os números surpreendem: o livro físico ainda representa 80% da receita das editoras. Ou seja, ele está longe de morrer. Por outro lado, as mudanças no mercado são inegáveis. A falência de redes como Saraiva e Livraria Cultura foi acelerada pelo peso da Amazon, que domina as vendas e impõe práticas desafiadoras para as editoras. Outro obstáculo é a disputa pelo tempo das pessoas. Redes sociais consomem horas que antes eram dedicadas à leitura.

E para os designers, será que ainda existem oportunidades? Segundo ele, sim, mas nem tudo são flores:

“Quando o livro não vende, a culpa cai na capa. Ou seja: no designer.”

O mercado editorial mudou, e é aí que entra o papel do design.

“O livro mais vendido no Brasil em 2025 foi Bobbie Goods, que curiosamente não tem nenhuma palavra, já o livro mais vendido com palavras foi Café com Deus Pai. Eles têm caneca, café, garrafa personalizada e diversos produtos feitos por designers para atrair o público”, explica Bruno.

Ele conclui que o sucesso desse e de outros títulos está no apelo visual e no fator “instagramável”.

“Os livros estão começando a se diferenciar pelo design. Eles precisam ser bonitos, porque as pessoas não querem apenas ler, querem mostrar que estão lendo. O design vende.”

Na segunda parte da palestra, Bruno revelou os bastidores da criação de um livro. E já adiantou um ponto essencial: dominar o Adobe InDesign é indispensável.

“Um livro nada mais é do que um conjunto de folhas agrupadas em cadernos, unidas por um suporte que protege tudo — a capa”, explicou.

O processo de design de um livro envolve três etapas principais: capa, projeto gráfico e diagramação. A capa tem dupla função: proteger e vender o livro. Por isso, precisa ser estrategicamente pensada para atrair o leitor.

Bruno compartilhou um desafio marcante:

“Certa vez, precisei criar a capa do livro ‘De Darwin a Hitler’. Por se tratar de um tema polêmico, precisei encontrar uma solução criativa que não fosse ofensiva nem gerasse controvérsias desnecessárias.”

Depois vem o projeto gráfico, a fase em que se define a estrutura visual: estilos de parágrafos, fontes, cores, identidade visual. É o verdadeiro esqueleto do livro. Por fim, a diagramação, que exige domínio tipográfico, ajustes precisos, senso crítico e, claro, revisão minuciosa.

“O bom designer tem um trabalho invisível. Todos livro tem voz,  mas é o designer que ajusta o volume.”

Jorge Brivilati – Aprenda a ver antes de clicar – O olhar fotográfico que todo designer precisa dominar

Jorge apresentou uma palestra prática para designers interessados em criar imagens com impacto e significado. Ele compartilhou conceitos de luz, composição, perspectiva e narrativa que transformam qualquer foto. Com uma carreira premiada, incluindo 5 Leões de Cannes, Jorge hoje lidera a BRAVO Film Company e a Bamboo Stock, uma plataforma de vídeos que valoriza a cultura e a diversidade brasileiras.

Segundo ele, todo designer precisa ter um olhar fotográfico, desenvolvendo sensibilidade na escolha e criação de imagens. Os conceitos apresentados também são úteis na hora de escrever prompts para IA.

“A câmera é cega. Quem vê é você. Ver é muito mais importante do que clicar”, destacou Jorge.

Ele refletiu sobre a era digital, em que as pessoas fotografam sem pensar, perdendo a conexão com o que está à frente delas. Para ele, a imagem comunica tanto quanto o texto:

“A luz funciona como entonação, a composição como estrutura da frase, a perspectiva é como um ponto de vista narrativo, a cor é a emoção e a sequência é o parágrafo.”

A perspectiva muda completamente a forma de contar uma história. O que é mostrado e o que é escondido molda a narrativa visual.

“Qual parte do todo eu escolho mostrar? O detalhe e o enquadramento é o que diferencia cada fotógrafo e define qual história está sendo contada.”

Jorge compartilhou diversas técnicas que funcionam tanto em câmeras profissionais quanto em celulares, reforçando que o equipamento em si não é o mais importante.

O primeiro ponto destacado foi luz e sombra. A forma como a luz incide sobre os objetos, seja dura ou suave, altera completamente a percepção e a representação visual. Luz dura cria contrastes fortes e enfatiza texturas, enquanto luz suave suaviza formas e cria uma sensação mais uniforme e delicada.

“Não existe certo ou errado, existem escolhas”, reforçou o fotógrafo, lembrando que a luz é uma ferramenta de narrativa.

O segundo ponto foi a exposição, que determina a quantidade de luz que atinge o sensor da câmera. Ela é controlada por três pilares: abertura, velocidade do obturador e ISO.

A abertura define quanta luz entra pela lente e influencia a profundidade de campo, ou seja, quanto do plano está em foco. A velocidade do obturador controla o tempo que o sensor fica exposto à luz, afetando a captura de movimento. O ISO ajusta a sensibilidade do sensor à luz, permitindo fotografar em diferentes condições de luminosidade.

Dominar esses três elementos é essencial, pois pequenas alterações podem transformar uma foto comum em uma imagem impactante.

O terceiro ponto explorado na palestra foi a distância focal, que determina o quanto da cena a lente consegue capturar. É nesse conceito que entram as diferentes milimetragens das lentes: quanto maior a distância focal, mais “aproximada” a cena parece. Quanto menor, mais ampla é a visão. A distância focal influencia diretamente o enquadramento, a profundidade de campo e a percepção de proporção dos objetos na imagem.

Jorge também abordou a temperatura, que é a tonalidade da luz em uma cena, podendo ser quente ou fria. Dominando esse conceito, é possível provocar sensações através de uma foto.

E não menos importante, vem a composição, que é a forma como os elementos são organizados dentro do quadro. Uma boa composição torna a fotografia mais envolvente e equilibrada. Um exemplo clássico é a regra dos terços, que consiste em posicionar os objetos de interesse em pontos estratégicos da imagem, criando harmonia e direcionando o olhar de quem observa.

Outro conceito essencial são as linhas-guia, que conduzem o olhar do observador de forma subconsciente e ajudam a contar uma história, um recurso muito aplicado também no design.

Além disso, os espaços vazios, ou negativos, têm grande impacto. Eles não apenas equilibram a imagem, mas também destacam os elementos importantes e acrescentam significado à narrativa visual. A perspectiva também altera drasticamente a forma como enxergamos um assunto, influenciando emoções e a sensação de poder dentro da cena.

A narrativa visual é a habilidade de contar uma história completa em um único frame. O momento decisivo não pode passar despercebido; é a ação capturada pela fotografia que nos faz refletir sobre o que ocorreu antes, o que acontece durante e o que vem depois, unindo ação e emoção de forma única.

Por fim, o contexto e o background são fundamentais. O fotógrafo precisa decidir cuidadosamente o que incluir no fundo da imagem, pois cada elemento contribui para a mensagem e o impacto da fotografia.

“Não importa a câmera, a lente ou a IA que você usar: o que diferencia uma imagem de verdade é o olhar de quem aprendeu a ver antes de clicar.”

Will Nunes – Design em Movimento: a multiplicidade como força criativa

Will Nunes começou sua fala contando como carrega nas tramas do seu trabalho as raízes do território e vivências que atravessam sua infância e alimentam sua força criativa até os dias de hoje. Nascido no “Brasil profundo”, bem na fronteira entre Sergipe e Alagoas, Will se define como um profissional movido pelas experiências, conexões e pelo olhar curioso voltado para as culturas que moldaram seu repertório pessoal e profissional.

Muito antes de decidir ser designer, Will observava, decodificava e se fascinava pelas linguagens visuais do cotidiano: embalagens, santinhos de eleição, tramas das novelas e propagandas de TV. A busca não era só estética, mas uma tentativa genuína de entender como as narrativas gráficas influenciam as pessoas e, claro, como poderiam ganhar novos sentidos.

Sua relação com o design nunca foi restrita a métodos ou segmentos. O artista visual acredita e pratica o trabalho plural, caminhando entre identidade visual, projeto editorial, ilustração e direção de arte. E, para ele, cada projeto reflete o chão cultural onde está apoiado e as conexões criativas desenvolvidas no processo.

Para Will, o repertório é uma construção viva que se movimenta, se transforma, revela novas camadas a cada experiência, do design às rodas de capoeira, dos hobbies à música, da convivência com diferentes pessoas às trocas fora do ambiente de trabalho. Sua trajetória é marcada pelas múltiplas linguagens e inspirações que surgem do cotidiano e de um profundo respeito pela escuta, curiosidade e coerência criativa. Não por acaso, Will cita como grandes referências Rogério Duarte (Tropicália) e Emory Douglas, designers que integraram cultura e ativismo em atuações múltiplas.

Entre os cases que levam sua assinatura, estão projetos de destaque como a capa do livro “Pequeno País”, identidade visual e abertura do programa Caldeirão com Mion e revitalização da novela Vale Tudo na Rede Globo, em que modernizou um ícone da televisão brasileira.

Feira criativa

Além de palestras e ativações da Adobe, o Juicy Design Meetup reuniu, com curadoria do coletivo Plural Latino, 25 artistas visuais na feira ObaOba.

Dá só uma olhada na vibe:

www.juicysantos.com.br - 2° Edição do Juicy Design Meetup Veja tudo o que rolou no evento

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