Texto porVictória Silva
Jornalista, Santos

Santos de cima: a visão de um praticante de parkour em Santos

Muros, escadarias e a altura dos prédios da cidade são um obstáculo para a maioria das pessoas.

Essas mesmas pessoas passam pela Praça Caio Ribeiro de Moraes e Silva (mais conhecida como Praça do Sesc) e enxergam árvores, mesas e cadeiras, um espaço para jogos de cartas e tabuleiros e só. Simples assim.

Pelo olhar do Marcel Stevanin, praticante do parkour em Santos, as coisas são um pouco diferentes e, talvez, mais interessantes.

Para ele, há 10 anos, todos os itens deixaram de ser o que são e se tornaram obstáculos de transposição, como manda a arte criada na França nos anos 90.

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“Comecei em 2006. Na época eu tinha 16 anos, tinha praticado algumas modalidades e estava em busca de algo que pudesse me movimentar mais e utilizar o meu corpo totalmente”, explica.

O primeiro contato com o esporte foi ali, na pracinha que fica no caminho para casa, em frente ao Sesc. Observou um jovem que tentava pular uma mesa, perguntou o que estava fazendo e foi pesquisar a respeito.

Conquistas

Desde então, os movimentos evoluíram de cópias do que via na internet para um estilo próprio, com bom senso e o talento necessário para fazê-lo um dos representantes da Baixada Santista no mundo do parkour.

Tudo através da curiosidade e da busca por informações.

É claro que, antes disso, teve muita prática nos treinos diários, persistência, estudo e trabalho para convencer a família de que ele está em segurança.

“A minha família foi bem oscilante: no início, minha mãe encarou como uma atividade, porque não tinha muitas informações a respeito. Chegou um momento em que as coisas começaram a ficar mais perigosas, porque conforme você evolui vai buscar mais. Aí ela ficou bem preocupada”, lembra.

Para a mãe – e qualquer um que ficar preocupado com os movimentos-, Marcel garante: ele ou qualquer outro atleta da modalidade não fazem nada que não tenham certeza que são capazes. O bom senso é a palavra-chave na prática do parkour.

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E o esforço deu resultado: ele conseguiu espaço na área trabalhando como dublê em publicidade e uma vaga no programa da Netflix Ultimate Beastmaster, com Sylvester Stallone e Terry Crews (ainda sem data de lançamento).

O primeiro prédio

A participação no reality é considerada a sua maior conquista. Mas, outro momento vêm à lembrança com carinho e faz os olhos brilharem: a primeira vez que pulou de um edifício para outro.

“É bem confuso, porque na minha experiência, aconteceu sem querer. Eu treinava há algum tempo e comecei a querer explorar novos lugares. Fomos, eu e outros amigos, a um prédio, de onde eu estava eu tinha sensação que era um prédio só”, lembra.

Depois de correr e pular, se deu conta que estava em outro bloco do prédio.

“Bateu um arrependimento grande, precisei sentar porque fiquei muito assustado”.

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Para ele, a história traz um exemplo básico da filosofia do parkour – buscar pela autonomia do corpo e mente no cotidiano – aliada a uma famosa frase: “sem saber que era impossível, foi lá e fez”.

Aulas de Parkour em Santos

Atualmente, Marcel Stevanin reune toda a sua experiência adquirida nos últimos 10 anos em aulas de parkour, ministradas no mesmo local onde ele deu os primeiros saltos.

As turmas são de sábado a tarde, tanto para as crianças quanto para os adultos.

“Eu ensino técnicas, mas não incentivo a sair do chão e ir para prédios. Os pais podem ficar tranquilos, fica tudo no limite da praça”, diz.

Quem quiser conhecer mais sobre a modalidade ou as aulas, pode entrar em contato através da página Santos Parkour.

* Imagens: Acervo pessoal