Texto porJuicy Santos
Santos

Por que não uso a sigla LGBT+?

A orientação sexual e a identidade de gênero nada têm a ver com um pecado, um comportamento aprendido ou uma escolha feita após um relacionamento mal sucedido. A sexualidade é algo natural e que acontece com cada um de nós e de uma forma diferente.

A orientação sexual e identidade de gênero são coisas distintas e uma não implica na outra. A primeira diz respeito ao sexo pelo qual a pessoa se sente atraída física e emocionalmente. Já a segunda trata de como a pessoa se vê independentemente do sexo biológico.

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Entrevistei Flavia Bianco para o meu TCC do curso de Jornalismo no ano passado. Conto sua história no livro-reportagem Contra os Cegos do Castelo – ainda não publicado. Flavia é a personagem ideal para entender essa dicotomia.

Ela foi “ele” por 43 anos, quando, após o fim do segundo casamento, decidiu assumir sua real essência. Ela é uma mulher trans, e daquelas que são fortes, destemidas e que enfrentam a discriminação e o preconceito com educação e um belo sorriso no rosto.

Apesar de ser uma mulher trans, Flavia se sente atraída por mulheres, ou seja, sua orientação sexual nada tem a ver com sua identidade de gênero.

Outro personagem que faz parte do livro e nos ajuda a entender esta questão é o Thomaz, um homem trans que namora uma mulher. A sua identidade de gênero difere de sua orientação sexual. Thomaz é hétero.

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Se por um acaso as nomenclaturas parecem ser estranhas e confusas, sugiro uma abordagem diferente a esse assunto: a Teoria Queer.

Criada pelas mãos do filosofo e psicólogo alemão Michel Foucault e desenvolvida pela psicóloga norte-americana Judith Butler, a Teoria Queer prega a liberdade de cada indivíduo exercer a sua sexualidade sem se importar com as sigla ou os nomenclaturas.

Você é livre para ser o que quiser.

Em nossa sociedade heteronormativa, essa tarefa não é fácil. Você deve estar se perguntando o que é mais esse conceito que apareceu nesse texto de repente. Explico em seguida.

www.juicysantos.com.br - por que não uso o termo lgbtqFoto: Levi Saunders para Unsplash

Quando nascemos, é esperado pela nossa cultura ocidental, que desempenhemos uma sequência de ações desde a infância. É esperado dos meninos que eles brinquem de carrinhos e gostem da cor azul; as meninas devem brincar de boneca e usar preferencialmente a cor rosa e suas variações.

A infância acaba e é cobrado de você os estudos, a faculdade, o casamento com a sua cara-metade, que você compre uma casa e um carro, suba de cargo, tenha filhos, se aposente e curta os netos.

E tudo isso deve ser feito em um relacionamento que seja entre um homem e uma mulher, caso contrário você será julgado e sofrerá preconceito porque não seguiu a norma heterossexual, a obrigatoriedade de ser hétero e ter uma vida de hétero.

Para quebrar padrões e reafirmar o direito das pessoas exercerem e serem quem são, nas últimas décadas enfatizamos a sigla LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Travestis), depois acrescentamos outro “T” para os transexuais, mas ainda assim existem os andrógenos, os assexuados e aqueles que não se encaixam em nenhuma letrinha dessa sopa.

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Preocupados em serem correto, alguns adicionam o sinal de mais para demonstrar que não para por ali.

Volto a sugerir uma abordagem diferente: não tentemos fazer sentido pelas nomenclaturas para rotular Flávia, Thomaz ou qualquer outra pessoa. Sejamos livres para exercer a nossa sexualidade e identidade sem se preocupar com letras.

É por isso que não uso a sigla LGBT, prefiro enxergar pessoas e admirar a beleza que existe na pluralidade, na independência e  no direito de ser você mesmo.

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O segredo está em entender que a sexualidade, no fim das contas, pouco conta. O que importa mesmo é o nosso caráter, quem amamos e o respeito que temos por aqueles que, de alguma forma, são diferentes de nós.