Santos e a escravidão: ebook relembra negros que viveram e morreram por aqui

Apesar de ser um período muito citado durante a vida escolar e recorrente em novelas e filmes, a escravidão ainda é pouco conhecida do grande público.

A imagem que esse período reflete na ficção tem grandes fazendas, casarões e senhores de escravos, quando, na realidade, os centros urbanos também contavam com o serviço.

livro escravos

Com a finalidade de desmistificar tal pensamento e trazer informações sobre o que acontecia em nossos quintais, os pesquisadores Ana Paula Chiapetta, Bruno Garcia da Costa e Odair José Pereira se uniram para reunir arquivos sobre o tema aqui em Santos.

“Nós sabemos que existe uma deficiência muito grande quando o assunto é a escravidão no Brasil. Quando trazemos para uma questão mais local, continua assim ou piora”, comenta Odair Pereira, sobre a motivação para a pesquisa.

Os mais de 7 mil arquivos, analisados durante um ano, deram vida ao ebook Repertório de Documentos para a História da Escravidão em Santos – disponível no acervo online da Fundação Arquivo Memória de Santos (FAMS).

escravidão em santos

“Nós delimitamos um período de pesquisa, de 1854 até 1888, quando aconteceu a abolição da escravatura” explica Ana Paula. “Usamos os documentos do cemitério. Tínhamos muitas opções e um prazo de entrega não muito grande, pois participamos do 4° Concurso de Apoio a Projetos Culturais Independentes da Cidade de Santos. Então nos focamos nessa documentação, que já era mais organizada e tinha uma linha cronológica”, completa Bruno Garcia.

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No livro, estão mais de 2 mil verbetes com diversas formas de óbitos diferentes. “Me surpreendi ao perceber que, apesar de acharmos que os escravos morriam de forma violenta, a grande maioria dos óbitos eram por questões de insalubridade”, explica Odair.

“Já para mim chamou a atenção o número de mulheres vítimas do alcoolismo e um caso especifico, de um escravo nascido em Portugal. É possível fazer um estudo com várias hipóteses sobre a configuração da escravidão por aqui a partir disso”, declara Ana Paula.

“Um fato interessante é número de meninas com 10 ou 11 anos que morriam em partos e se diziam casadas. Fiquei me perguntando se realmente tinham essa idade ou se utilizavam um registro a partir da chegada no Brasil”, finaliza Bruno.

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Com tamanha empolgação por novas pesquisas, a partir das primeiras descobertas, os historiadores dizem que pretendem dar continuidade ao trabalho. No entanto, só depois de colher os frutos da primeira edição e mostrar os resultados à população.

Espera-se que a empolgação com relação ao assunto não seja apenas do trio. “Acredito que utilizar os dados do livro em sala de aula dará aos alunos uma sensação de pertencimento. Falar, olha o fulano de tal morava na rua X, que pode ser ali perto da escola”, comenta Bruno. “Sim, os livros didáticos tratam o assunto de forma geral, por serem feitos para todo o país, dar informações adicionais, sobre a cidade em que se vive, aguça a curiosidade dos alunos”.