Uma viagem ao mundo mágico dos discos

Há 13 anos, um projeto saía do papel no Rio de Janeiro para tornar possível o acesso a um banco de dados que objetivava reunir toda a produção fonográfica realizada no País.

Um desafio que tomou corpo e forma na posterior fundação do Instituto da Memória Musical Brasileira (Immub), que mapeou e catalogou mais de 81 mil discos produzidos no País em seu site, Immub.org.

Isto equivale a aproximadamente 500 mil fonogramas, reunindo cerca de 90 mil compositores e intérpretes.

O trabalho abrange toda a história da música brasileira, desde a primeira gravação em 1902 até os lançamentos mais recentes.

A catalogação atual é fruto de 25 anos de pesquisa e conta com cerca de 30 mil LPs, 32 mil discos 78 RPM, 12 mil CDs, 7 mil compactos, mais de 50 mil músicas para ouvir e mais de 15 mil capas, contracapas e encartes para consultar.

Acesse o Immub.org

Além desse trabalho, o Immub também desenvolve ações sociais de grande relevância, como o pioneiro Projeto Aprendiz – Música na Escola, que atende cerca de 2.500 estudantes da rede municipal de Niterói, no Rio de Janeiro, e atua como gestor de grupos como a Orquestra Sinfônica Aprendiz e outros grupos musicais com outras formações.

O diretor presidente do Immub, João Carino, concedeu entrevista para o Juicy Santos, para falar sobre essa iniciativa e os planos para o futuro.

Joao Carino Foto Alline Ourique

Como foi o início da formação desse projeto do instituto e quais foram as principais dificuldades encontradas para concretizá-lo?

A iniciativa começou em 2004 com um projeto patrocinado pela Petrobrás. Era um CD-ROM com cerca de 30 mil LPs fabricados no Brasil.

O usuário instalava o programa no seu computador e tinha acesso a um banco de dados com todas as informações recolhidas nas pesquisas: nome do disco, nome do interprete, nome do compositor, nome da música, gravadoras, ano, tema.

Com esse acervo percebemos que o acervo discográfico do Brasil era muito maior dos que os 30 mil discos pesquisados.

Havia ainda os discos 78 rpm, 10 polegadas, compactos simples, compactos duplos, CDs, DVDs, além dos LPs não pesquisados. Chegamos à conclusão que teríamos que criar um instituto com essa missão.

Assim surgiu o IMMuB, Instituto Memória Musical Brasileira. Hoje, no site www.immub.org temos mais de 80 mil discos catalogados e mais de 130 mil músicas que podem ser ouvidas na íntegra.

Um outro desafio, talvez tão difícil quanto a catalogação, foi o desenvolvimento dos filtros de pesquisa. Trata-se de uma ferramenta muito sofisticada.

É possível pesquisar por várias entradas ao mesmo tempo. Por exemplo: podemos pesquisar somente a discografia da Elis Regina. Neste caso, irão aparecer todos os álbuns dela, com todas as músicas, autores etc. Porém, podemos pesquisar com mais campos: Elis Regina cantando somente músicas do Tom Jobim. Ou cantando músicas somente que o Tom Jobim fez em parceria com Chico Buarque e assim por diante.

A mera catalogação dos discos é apenas a primeira etapa do nosso trabalho. Depois disso, temos que corrigir as informações digitalizadas. Muitas vezes os discos trazem informações equivocadas, como nomes grafados de forma diferente. Por exemplo: vamos encontrar o nome do Tom Jobim grafado como Jobim, A.C.Jobim, Antonio Carlos Jobim, etc. Todos se referem ao mesmo compositor. Assim, temos que padronizar o nome de todos os artistas. Uma tarefa muito difícil.

Como é feita a coleta de dados para o acervo?

Nossas pesquisas são feitas em discotecas públicas, discotecas particulares, rádios etc. A maior parte do acervo é composta dos discos fabricados no eixo Rio-São Paulo, local onde havia a maioria das fábricas e gravadoras do Brasil.

Quem possui um LP antigo e que pode ser uma peça rara, por exemplo, pode colaborar com esse trabalho do instituto? De que forma isso pode acontecer?

No novo site do IMMuB, há um espaço destinado a colaboradores. Basta enviar foto da capa, encarte, selo e áudio. Nossos pesquisadores irão validar as informações e colocar no nosso banco de dados.

Vocês já foram buscar dados em São Paulo e, mais precisamente, no Litoral Paulista (Santos e região)? Há essa intenção no futuro?

Em São Paulo catalogamos somente as discotecas da Rádio e TV Cultura, Rádio Eldorado, Gazeta e o acervo do Manezinho. Nosso grande desafio é catalogar os discos fabricados em outros estados e no interior. Por exemplo, havia uma famosa fábrica de discos no Nordeste. Esta fábrica distribuía seus discos quase que exclusivamente por aquela região.

Foto Alline Ourique

A gravação mais antiga data de 1902. Como vocês conseguiram chegar até ela?

Não tivemos contato físico com todos os discos 78 rpm. A maioria desta catalogação se deu com base em publicações e informações fornecidas pelas gravadoras. É o caso desta gravação. Temos quase 100% destes discos catalogados.

Além do memorial fonográfico, vocês desenvolvem uma série de outros projetos. Explique sobre essas outras iniciativas.

Para realizar e manter atualizado o nosso banco de dados somos também uma produtora de CDs, DVDs, livros, exposições, concursos e ensino de música.

Já fizemos trabalhos sobre Monarco, Nelson Sargento, Altamiro Carrilho, Noel Rosa, Marcio Proença, Alfredo del Penho, Soraya Ravenle entre outros. Recentemente realizamos um ciclo de debates sobre a música nacional no Oi Futuro, um projeto que durou cinco meses. E também produzimos o concurso de caricaturas “Quem te viu, quem te vê”, em homenagem ao Chico Buarque.

Há planos para fazer um acervo ou memorial em locais como museus ou em locais em convênio com entidades nas cidades, por exemplo?

Nosso acervo é digital, ou seja, não possuímos um acervo físico. Mas podemos pensar, por exemplo, em uma exposição com áudios e fotos.

projeto_aprendiz3

Depois do lançamento oficial do site, qual será a próxima ação do Instituto?

No momento somos gestores do Programa Aprendiz – Música na Escola.

Estamos em 20 escolas na cidade de Niterói, com cerca de 2.500 alunos. Mantemos duas orquestras de cordas e uma banda de sopros, além de outras formações.

Vamos focar em algumas iniciativas para comemorar os 10 anos de criação da Orquestra Sinfônica Aprendiz, com um projeto de gravação de um filme sobre a Orquestra, e uma turnê de apresentações gratuitas pela região litorânea do Rio de Janeiro neste segundo semestre. Além disso, também estamos trabalhando em uma exposição em Furnas.

Há possibilidade de estender esse trabalho para outras cidades de outros estados?

Nós estamos sempre abertos para estudar novas propostas de parcerias. Se houver possibilidade de ampliar o trabalho para outras localidades, faremos isso com o maior prazer.