Texto porLuiz Gomes Otero

Juicy Santos entrevista Armandinho Macedo: “O tom da Cor do Som é o da alegria”

Ele idealizou a chamada guitarra baiana e o bandolim de 10 cordas.

Armandinho Macedo, filho de Osmar, criador do trio elétrico, está de volta com a banda A Cor do Som.

O grupo comemora 40 anos de carreira com todos os demais integrantes originais (Mu Carvalho, Dadi Carvalho, Ary e Gustavo).

Acaba de sair um disco com regravações de seus sucessos e mais quatro canções inéditas. A produção ficou a cargo de Ricardo Feghali (Roupa Nova). Neste novo trabalho, há participações especiais de Samuel Rosa (Skank), Lulu Santos, Paulinho Moska, Gilberto Gil, Banda Natiruts, Djavan e Flavio Venturini.

Em entrevista para o Juicy Santos, Armandinho contou detalhes desse projeto atual. A banda segue se apresentando pelo País e já prepara novo material para um disco de canções inéditas.

“Essa é uma vontade de todos nós”.

Um papo com Armandinho Macedo, pioneiro da música baiana

Juicy Santos – Como foi que você acabou entrando na banda?
Armandinho – Foi nos anos 70, por intermédio de Moraes Moreira. Dadi tocou com ele no Novos Baianos. Moraes estava querendo formar uma banda. Quando precisaram de um guitarrista, ele lembrou de mim. Vim da Bahia para o Rio de Janeiro, nos encontramos e a química musical foi instantânea. A ponto do próprio Moraes sugerir a banda. O Ary chegou logo depois e aí o time estava completo: Mu Carvalho (teclados), Dadi (baixo), Eu (guitarra), Ary (percussão) e Gustavo (bateria). Tivemos o apoio do Arnaldo Brandão, que tocou com o Gustavo no grupo A Bolha, além de outras figuras conhecidas como o já citado Moraes Moreira, Caetano Veloso e Gilberto Gil.

Juicy Santos – Mas a proposta nessa época era fazer música instrumental, não era? As músicas cantadas foram uma imposição da gravadora na época?
Armandinho – Não exatamente. Na verdade, nós já tínhamos vontade de incluir canções cantadas. Se você observar, tem uma com vocal no primeiro disco. Depois que nos apresentamos no Festival de Montreux, na Suíça, voltamos para gravar o terceiro disco. Aí a (gravadora) Warner nos sugeriu incluir canções cantadas. Saímos pedindo ajuda para os amigos. Gilberto Gil cedeu Abri a Porta e Caetano Veloso trouxe Beleza Pura. O resultado disso foi que passamos a vender muito mais discos do que os dois anteriores. Fizemos bastante sucesso e foi uma felicidade completa, porque mesmo incluindo canções cantadas, não abandonamos as peças instrumentais. Elas faziam parte dos discos também.


Juicy Santos – Sobre esse mais recente disco, que comemora os 40 anos do grupo, qual foi a faixa que deu mais trabalho para ser finalizada?
Armandinho – Rapaz, é tão prazeroso tocar com A Cor do Som que você não sente muita dificuldade. Tudo flui muito naturalmente. Mas posso dizer que a gravação da canção Alto Astral, com a participação do Roupa Nova, foi a mais trabalhosa em termos de arranjo. Gostei muito do resultado final dela.

Juicy Santos – E outro ponto que chamou a atenção foi a faixa Zanzibar, com o Samuel Rosa, do Skank. Houve uma identificação muito forte dele com a canção.
Armandinho – Nós convidamos o Samuel e perguntamos para ele que música gostaria de cantar. Ele falou Zanzibar logo de cara, porque quando ele morava em Minas Gerais sempre cantava essa canção em shows. Isso talvez explique a identificação dele com a canção. Mas se você reparar bem, o Skank tem uma sonoridade que, em muitos momentos, fica bem próxima da A Cor do Som.

Juicy Santos – Quatro canções desse disco são inéditas. Vocês estão pensando em lançar um disco só com canções novas no futuro?
Armandinho – Essa é uma vontade da banda, sim. Nesse, mesclamos os hits com algumas novas, justamente para mostrar que temos canções para apresentar para o público. A verdade é que estamos sempre produzindo algo novo quando estamos juntos.

Juicy Santos – Vocês continuam divulgando esse trabalho pelo País?
Armandinho – Sim, estamos fazendo shows Brasil afora. Quem sabe a gente não toca em Santos? É só chamar que a gente vai.

Juicy Santos – E seus projetos com o trio elétrico na Bahia?
Armandinho – Estou justamente agora no escritório planejando as ações para o carnaval de 2020. Continuo a tradição do Trio Elétrico de Armandinho, Dodô e Osmar. Dodô e Osmar, meu pai, foram os pioneiros. Eu mantenho a tradição sempre se atualizando com os novos nomes que aparecem no Carnaval. É uma missão muito importante e gratificante, que desenvolvo em paralelo ao trabalho da Cor do Som.

Juicy Santos – É verdade que você foi o criador da guitarra baiana?
Armandinho – Meu pai e o Dodô criaram o cavaquinho elétrico na década de 40, que era conhecido como “pau elétrico”. Com o tempo, pude aprimorar esse equipamento até chegar na atual guitarra baiana de cinco cordas. Realmente fui eu quem projetou a primeira e aprimorou os modelos seguintes. É sempre interessante lembrar isso, para valorizar os feitos. A guitarra baiana é uma invenção genuinamente brasileira e tenho orgulho de fazer parte disso. Também surgi com o bandolim de 10 cordas, aquele que o Hamilton de Holanda usa.