Texto porLuiz Gomes Otero

Deixa isso prá lá, Jair!

Como todo cidadão brasileiro, ouço muitos estilos musicais que norteiam a nossa música popular. E sempre me deparei com muitos intérpretes com características bem distintas, seja pelo timbre vocal, seja pelo seu nível de versatilidade.

Jair Rodrigues, que nos deixou na última quinta-feira, era um caso raro, difícil de se rotular ou enquadrar em determinado estilo.

sobre a morte de jair rodrigues

Quando foi revelado naquele festival de música da TV Record, em 1966, muitos não imaginavam que a carreira dele estaria apenas começando. E já naquela época era possível identificar alguns traços de sua versatilidade. Disparada, composição de Theo de Barros e Geraldo Vandré que ele cantou, dividiu o título com a Banda de Chico Buarque. E era uma canção com toques nordestinos no arranjo e uma letra forte de protesto.

Ele sempre se identificou bastante com o samba. Muitos chegaram a rotulá-lo como sambista, quando na verdade ele sempre foi um cantor, na pura essência da palavra. Se você quiser comprovar isso, basta ouvir com atenção seus discos.

Um deles, dedicado a música da seresta, dos anos 40 e 50, é cantado de forma brilhante. Mas ele cantou também música sertaneja (ao lado de Chitãozinho e Xororó e até do Rei Pelé) e até algo mais na linha romântica. Sempre com muita maestria e competência. Tudo que ele cantava soava convincente para o ouvinte.

Era também um visionário. Cantou o rap muito antes do estilo ser inventado, mesclando com o balanço de nosso samba. Deixa Isso Prá Lá é cultuada até hoje pelo público que o acompanha como uma obra-prima do tal samba-rock ou sambalanço.

Seus filhos, Jair Oliveira e Luciana Mello, seguem seus passos na música. Herdaram o talento musical e desenvolvem trabalhos de qualidade, seja cantando, seja compondo.

Sua qualidade maior, claro, sempre foi o carisma e a alegria, que se misturavam em uma coisa só. Era impossível vê-lo sem dar uma gargalhada de suas brincadeiras e palhaçadas diante do entrevistador. Era mesmo uma figura, no mais puro sentido da palavra. Sua partida repentina e inesperada deixa com certeza um vazio que dificilmente será preenchido.

Intérprete como Jair na música é como Pelé no futebol: só nasce uma vez. E Jair tinha uma ligação forte com Santos: era torcedor do Alvinegro Praiano.

Para nós, resta apenas deixar isso prá lá e pedir, mais uma vez, para que a tristeza vá embora de nossos corações de uma vez por todas. Valeu, Jair. Por tudo que você cantou, a alegria fez dos nossos corações a sua moradia.