Texto porJuicy Santos
Santos

Clube da Esquina – O despertar de um movimento musical

No início dos anos 70, o Brasil vivia um momento de transição. A geração relevada pelos festivais de música da década de 60 começava a despontar com trabalhos incrivelmente maduros. Mas poucos discos causaram um impacto tão grande quanto o álbum duplo Clube da Esquina, capitaneado por Milton Nascimento e Lô Borges, lá em Minas Gerais.

Há exatos 40 anos, esse álbum proporcionava um frescor novo na MPB, trazendo na bagagem um caldeirão de influências musicais marcantes para os músicos envolvidos no projeto.

O disco tem uma sonoridade singular e letras incrivelmente inspiradas. Algumas delas até poderiam ter sido interpretadas como subversivas. Afinal, vivíamos os anos de chumbo, em plena época do milagre brasileiro, do País Tri-Campeão do Mundo de Futebol.

Falar o que se pensava, na época, podia render uma censura prévia ou até mesmo um exílio forçado para fora do país.

Uma letra que exemplifica a força desse trabalho é Nada Será Como Antes, que Elis Regina também gravaria de forma brilhante. A letra densa de Ronaldo Bastos se encaixou com a melodia quase épica criada por Milton: “Eu já estou com o pé nessa estrada/Qualquer dia a gente se vê/Sei que nada será como antes amanhã/Que notícias me dão dos amigos?/Que notícias me dão de você?/Alvoroço em meu coração/Amanhã ou depois de amanhã/Resistindo na boca da noite um gosto de sol…”

E o que dizer dos versos iniciais de Para Lennon e McCartney, escrita como um recado dos mineiros para os dois ídolos musicais dos Beatles? “Por que vocês não sabem/do lixo ocidental?/Não precisam mais temer/Não precisam da solidão/Todo dia é dia de viver…”

Eu poderia fazer inúmeras citações sobre esse disco e ainda assim não conseguiria resumir seu impacto na nossa cultura. As canções funcionam tanto sozinhas como reunidas em um único álbum. Trem Azul, que mais tarde seria redescoberta por Elis Regina e por Tom Jobim, em épocas diferentes, mostra bem a dimensão da força desse disco.

O fato é que o trabalho de Milton e Lô, ao lado de um time de músicos e compositores extremamente talentosos, como Toninho Horta, Wagner Tiso, Beto Guedes, Ronaldo Bastos e Fernando Brandt, só para citar alguns exemplos, rendeu frutos que permanecem perenes até hoje. Por isso é que são citados como referência por várias gerações de músicos que surgiram ao longo das últimas décadas.

O Clube da Esquina voltaria a se reunir em 1978, com o lançamento do volume 2 do projeto, um outro álbum duplo igualmente brilhante. Mas o primeiro ainda é citado como o mais importante. Sobretudo, por ter pavimentado o caminho de Milton Nascimento e seus amigos na música.

Acesse a página do Museu Clube da Esquina e ouça as músicas do movimento que deixou saudade.

By: Luiz Otero