Texto porLuiz Gomes Otero

Chris Standring é o homem do soul jazz – e o Juicy Santos entrevistou o cara

O músico britânico Chris Standring é um dos que vem se destacando no cenário do jazz instrumental.

Com uma mistura singular de jazz fusion com a soul music norteamericana, ele vem conquistando uma boa parcela de fãs. E, ainda, abre espaço para esse estilo de música nas rádios e streamings.

Essa mescla original de estilos acabou lhe rendendo o apelido de O Homem do Soul Jazz.

Seu mais recente disco, Real Life, já obteve ótimos comentários da crítica especializada.

Em entrevista exclusiva para o Juicy Santos, ele conta um pouco sobre a sua carreira, suas principais referências e faz uma análise do panorama atual do jazz.

“Minha guitarra parece levar tudo o que faço para um determinado lugar”


O que esse novo álbum, Real Life, traz de novo comparando com o lançamento anterior?
Bem, primeiro, todas as músicas são novas.

Mas, brincadeira à parte, acho que refinei meu som ainda mais e, por mais que eu queira abraçar um novo conceito musical, parece que me deparei com um estilo que é bastante difícil de escapar a partir de agora.

Em particular, acho que minha guitarra parece levar tudo o que faço a um determinado lugar. Eu tenho um estilo que, depois de fazer tantos álbuns, tornou-se bastante definitivo agora.

Você é conhecido com o homem do soul jazz. Fale sobre suas principais influências musicais.
Eu gosto bastante dessa definição. Minha música definitivamente vem do jazz. Aprendi com todos os grandes caras do jazz bebop, como Charlie Parker, Wes Mongomery e grandes guitarristas como Joe Pass.

Então é daí que a minha inspiração vem. Mas musicalmente eu sempre me interessei por músicas, em particular por músicas do estilo soul. Eu cresci ouvindo a Motown assim como outras coisas peculiares do rock progressivo. Mas foram as coisas da soul que ficaram sob a minha pele.

Então, juntar os dois estilos sempre foi interessante para mim. Eu queria ser feliz artisticamente, indo o mais fundo que pude como músico, mas ao mesmo tempo queria que a música fosse muito ouvida.

Que músicos e bandas você tem ouvido ultimamente?
Estou ouvindo muitas músicas antigas, mas estou adorando um álbum de um pianista chamado Ruslan Siotra chamado “A Liftetime Away”. Ele é realmente um compositor talentoso, e há muito poucos deles no mundo do jazz. Também ouço muitos compositores de filmes e música orquestral. Se eu quiser ter alguma inspiração de guitarra de jazz, sempre volto a Pat Martino e Joe Pass (em particular um álbum chamado “For Django”).

Como funciona o seu processo de criação musical?
Normalmente, não escrevo música, a menos que eu tenha algum motivo para fazê-lo. Se estou produzindo um artista, posso entrar no modo de escrita (se o artista não escrever). Se eu tenho um álbum para fazer, certamente tentarei entrar no embalo desse trabalho. Isso pode acontecer de algumas maneiras, mas sempre no meu estúdio. Às vezes, mexo no piano, outras vezes no violão. Mas, geralmente, estou procurando um princípio de uma idéia para agarrar e concretizar, e não me importo com o que acontece, contanto que isso aconteça.

Qual é a sua opinião sobre o jazz na atualidade?
De certa forma, é inspirador, pois há todos os motivos para gravar agora, se você tem algo a dizer. Exceto que isso não significa que você deveria, o que me leva ao meu próximo ponto. Há muita música por aí, e 99% não é boa. Mas esse 1% vale a pena esperar para ouvir.

Mesmo quando todas as antigas gravadoras eram donas do negócio, a maioria dos álbuns lançados era medíocre. Mas os poucos bons eram seriamente bons. Como a música foi desvalorizada agora, muitos artistas não se inspiram para gravar.

Pessoalmente, escrevo e lanço músicas porque é isso que faço e descobri uma maneira de fazê-las funcionar. Há muitos caras da antiga do jazz que estão sendo jogados no meio-fio. E eu me sinto mal por eles. Mas é claro que os mais novos, os Snarky Puppys, os Jacob Colliers e os Vulfpecks do mundo, são jovens, famintos e cheios de inspiração. Agora é a hora deles.

Alguns críticos consideram o seu álbum de 2012, o Eletric Wonderland, próximo da música pop. Você concorda com essa definição?
Eu não me importo. Tudo o que alguém quiser chamar para fazê-los se sentir melhor é absolutamente bom.

Você conhece a música brasileira? E tem intenção de vir ao Brasil no futuro?
Naturalmente. Eu adoraria ir ao Brasil. Eu nunca estive. A música é inspiradora e tenho certeza que ficaria energizado e inspirado pela cultura. Talvez um dia em breve.