Arnaldo Baptista, ainda Loki 40 anos depois
Há 40 anos, Arnaldo Dias Baptista deixava os Mutantes para iniciar uma errática e, ao mesmo tempo, fértil carreira solo.
Seu álbum de estreia, Loki, é aclamado hoje em dia como um dos melhores trabalhos da história do rock e da MPB – ainda que não tenha sido bem recebido pelo público, por ser conceitual e sem um apêlo radiofônico.
Nesse disco, Arnaldo decidiu radicalizar. Assumiu o piano e teclados e desprezou a guitarra nos arranjos (talvez em função do desentendimento com o irmão, o guitarrista Sérgio, também dos Mutantes).
A cozinha ritmica é composta apenas por baixo e bateria tocados pelos seus dois ex-colegas de banda (Liminha e Dinho, respectivamente). Rita Lee, com quem havia se casado e separado, faz backing vocals em algumas faixas.
O disco é totalmente centralizado em Arnaldo e seus dramas pessoais. Ele se expõe por inteiro ao cantar o rock energético de “Será que eu vou virar bolor?” e a bossa nova “Cê tá pensando que eu sou Loki?”, ambas com vocais densos e geniais. A habilidade de Arnaldo como solista no piano é admirável. Ele estava tocando muito nessa época.
“Não estou nem aí “resume bem o espírito de vida de Arnaldo na época (…Eu não estou nem aí para a morte/Eu não estou nem aí para a sorte/Eu quero mais é decolar toda manhã…). Um rock com tom épico e ácido, como se ele quisesse dizer que estava faltando alguma coisa para completar a sua felicidade.
Há canções com um forte tom depressivo, como a triste “Desculpe” (que Kiko Zambianchi regravaria anos mais tarde), “Navegar de Novo” e “Uma Pessoa Só”. Mas o bom humor, marca registrada dos Mutantes, não deixou de comparecer na faixa “Vou me afundar na lingerie”, com arranjo em estilo boogie-woogie.
“É Fácil”, que encerra o disco, parece querer imitar o final do disco Abbey Road, dos Beatles, que tem uma vinheta musical cantada somente ao violão por Paul McCartney.
No geral, Loki é um álbum muito bem tocado, apesar de ter sido gravado em apenas uma única sessão. O próprio Arnaldo confirmou isso em entrevistas recentes. Funciona como um diamante musical em estado bruto, que passou a ter o seu valor reconhecido décadas mais tarde pelo público e pela crítica.
Vale lembrar que Loki também é o nome do documentário incrível que registra a carreira de Baptista desde os Mutantes, passando por esse momento solo e as raras aparições que fez em tempos mais recentes.