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De uma caixinha de som na praia ao maior festival gratuito de forró pé de serra do Brasil

6º Festival Forró Pé na Areia celebra trajetória de valorização da cultura nordestina em Santos com programação de 24 horas e grandes nomes do circuito nacional

Tempo de leitura: 6 minutos

O que começou com uma simples caixinha de som na praia, em 2017, se transformou em um dos mais importantes eventos culturais de Santos.

www.juicysantos.com.br - De uma caixinha de som na praia ao maior festival gratuito de forró pé de serra do Brasil

Foto: Rodolfo Lopes

O Festival Forró Pé na Areia chega à sua sexta edição consolidado como o maior festival gratuito de forró pé de serra do Brasil, reunindo milhares de pessoas na celebração da cultura nordestina. Nos dias 20 e 21 de dezembro, a Fonte do Sapo recebe 24 horas de programação cultural, das 10 às 22 horas em ambas as datas, com entrada franca.

Uma história que viralizou antes mesmo de começar

Jefferson Fernandes, idealizador do evento, é forrozeiro desde os 14 anos e hoje, aos 40, carrega na bagagem uma história improvável de sucesso. Publicitário e fotógrafo de formação, ele já trabalhava com gestão de tráfego quando teve a ideia de fazer algo simples: colocar umas caixinhas de som na praia para tocar forró.

O que ele não esperava era a repercussão.

“O primeiro evento registrou 6 mil confirmados e 12 mil interessados na época dos eventos do Facebook, e não tinha nenhuma atração”, relembra Jefferson.

O evento viralizado foi o ponto de partida para algo maior.

“Eu fiquei chocado com os números de alcance e resposta, e então comecei a trabalhar neste projeto”, conta.

Entre 2017 e 2019, foram realizadas 17 edições da festa Forró Pé na Areia, na mesma época do C4 do mal.

Em 2019, a festa se transformou em festival:

“A primeira edição, em 2017, foi o Forró Pé na Areia no CPE, sem nenhuma atração, apenas uma caixinha de som”, relembra o produtor.

Um patrimônio cultural na areia

O objetivo do festival sempre foi claro: valorizar a cultura nordestina e o forró pé de serra.

“Naquela época, o forró pé de serra ainda não era considerado patrimônio imaterial, mas eu sempre o vi como um patrimônio cultural nosso”, afirma Jefferson.

Hoje, o gênero musical é reconhecido oficialmente como patrimônio cultural imaterial do Brasil.

Para o organizador, o festival representa também uma contrapartida importante.

“É uma forma de retribuir aos nordestinos da Baixada Santista que construíram a nossa cidade com as próprias mãos, refletindo a forte migração para Santos por causa da bolsa do café”, explica.

Essa conexão com a história da cidade e com a comunidade nordestina é um dos pilares do evento.

Do reconhecimento à lei municipal

O crescimento do festival trouxe desafios, mas também conquistas importantes. Em junho de 2023, o Forró Pé na Areia se tornou lei municipal em Santos, por autoria da ex-prefeita Telma de Souza, passando a integrar oficialmente o calendário cultural da cidade no mês de dezembro.

“Fazer parte do calendário de eventos da cidade me ajuda no processo de buscar editais, como o PROAC do governo do estado. Isso auxilia na busca por patrocínio e pelo interesse do poder privado”, explica Jefferson.

Mas há outro aspecto fundamental:

“Além disso, garante que a realização do evento não possa ser impedida. Mesmo que o poder público não ajude financeiramente, eles são obrigados a permitir o uso do espaço para promover a cultura.”

O festival já passou em alguns editais do governo estadual, e esse reconhecimento institucional fortalece a continuidade do projeto.

A maior edição até agora

A sexta edição promete ser a mais robusta em termos de atrações.

“Eu acho que talvez seja a maior em termos de grandes bandas”, afirma Jefferson.

O produtor trouxe nomes que fazem parte do circuito nacional do forró, artistas que viajam para festivais como o Fenfit, em Itaúnas, considerado o maior festival de forró do mundo.

Entre os destaques estão Cléber Gonzaga, sanfoneiro e cantor que carrega no sobrenome e na trajetória a herança do forró pé de serra. Filho do sanfoneiro Lalá Gonzaga e primo em segundo grau de Luiz Gonzaga, Cléber tem mais de 20 anos de carreira e apresenta um repertório que inclui clássicos de mestres como Dominguinhos, Jackson do Pandeiro e Genival Lacerda, além de composições autorais.

Outro nome de peso é o Trio Dona Zefa, que Jefferson considera “o maior de todos”. Formado por Milla do Acordeon, Danilo Ramalho e Murillo Ramalho, o grupo tem mais de duas décadas de trajetória, acumula participações em grandes festivais, turnês internacionais e parcerias com artistas como Dominguinhos, Genival Lacerda e Anastácia. Com sanfona, zabumba e triângulo, o trio apresenta o forró tradicional em sua forma mais autêntica.

Completam a programação Nando Nogueira, Duka Santos e Os Meninos do Groove, o Baile dos Ratos (coletivo de vinil de Pinheiros, São Paulo), XáXiado, Paulinho de Santos, além dos DJs Carcará, Bulldog e Erick Jay.

Muito além da música

O festival não se limita às apresentações musicais. Ambos os dias começam pela manhã com aulas de dança ministradas pelo professor Bruno Ayres, e a programação inclui intervenções artísticas e culturais.

www.juicysantos.com.br - Forró na areia

Foto: Rodolfo Lopes

“Sempre gostamos de incluir atividades para as crianças”, destaca Jefferson, que também revela planos de incorporar outros gêneros da música nordestina, como Maracatu e Coco.

Um encontro de gerações

O caráter familiar e acolhedor é uma das marcas do evento.

“É possível encontrar jovens que frequentam festivais no Brasil inteiro, famílias, crianças e o pessoal mais velho dançando”, descreve Jefferson.

Para ele, essa diversidade é única.

“Sinceramente, na cena do Forró Pé de Serra, não existe nada parecido.”

A importância do festival para a região vai além dos números.

“Atrai muitos turistas e tem um público bem familiar”, ressalta o produtor.

Por acontecer em dezembro, mês de alta temporada e também do aniversário de Luiz Gonzaga (nascido em 13 de dezembro de 1912), o evento se tornou um atrativo turístico e cultural relevante para Santos.

Consolidação de um movimento

“A valorização da cultura nordestina e do Forró Pé de Serra está sendo mais explorada neste momento”, reflete Jefferson.

Desde 2017, a Carcará Produções vem trabalhando para fortalecer esse movimento, seja com a festa inicial, seja com o festival que se consolidou.

O Forró Pé na Areia prova que é possível criar grandes eventos culturais de forma democrática, valorizando artistas e público, respeitando as raízes e construindo pontes entre gerações.

“O público pode esperar um ambiente acolhedor, preparado para pessoas de todas as idades, que valoriza a diversidade da cultura popular e a força do forró como expressão de identidade, encontro e convivência”, resume Jefferson Fernandes.

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