Harmonização de cerveja no Mucha Breja

Esqueça os vinhos e toda a tradição e frescura envolvida em uma degustação.

Esqueça desde o jeito de servir até o prato com o qual harmonizar.

Esqueça a uva. Esqueça o garçom ao seu lado esperando você “aprovar” a garrafa.

Esqueça tudo isso e encha o copo com uma boa cerveja.

Tudo bem que, com elas, nada é tão simples também, mas ainda assim, existem opções que muita gente não imagina e o Mucha Harmoniza tenta mostrar exatamente isso para quem comparece a esse delicioso evento.

O modelo não é uma novidade por aí, mas talvez acabe sendo na região. Uma vez por mês, o Mucha Breja (Rei Alberto, 161, ali atrás dos clubes) apresenta uma cerveja especial em companhia sempre de um cardápio assinado pelo chef  Danilo Rocha.

Já marque na agenda: a próxima acontece no dia 14 de setembro (quinta-feira) e pra acompanhar a venda de ingressos a gente recomenda que você fique esperto na página do Mucha Breja.

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“A ideia do evento é ser inclusivo, com uma vez por mês o pessoal podendo experimentar uma cerveja marcante de um jeito novo”, comenta Renato Melo, um dos sócios.

Além de apresentar as cervejas durante a degustação, o cervejeiro ainda aponta nuances, características e até um pouco de história das marcas escolhidas.

Segundo Melo, a ideia é sempre ter um grupo reduzido de pessoas.

“Nesse primeiro evento, foram 10 pessoas apenas, e o preço deve ir de acordo com a cerveja, quase sempre de R$30 a R$70”.

Melo lembra, ainda, que “o objetivo é introduzir essas cervejas junto com a vontade de entender o que está tomando, assim como melhorar ainda mais toda experiência”.

O que nos leva ao mais importante da noite: a cerveja.

Dádiva Odonata #4, #5 e #6

O lugar convidativo, a luz baixa e as torneiras de cerveja especiais dão uma cara de pub para o Mucha Breja. Para celebrar isso, nada melhor que uma boa cerveja. E a responsabilidade desse primeiro encontro ficou à cargo da Dádiva (de Várzea Paulista) e sua receita sazonal, a Odonata.

Na verdade, provamos três versões de uma mesma receita, uma Imperial Stout: #4, #5 e #6, continuando uma ideia que teve início no ano passado. A diferença dessa segunda safra é que ela recebeu assinatura de três personalidades ligadas a destilados, mas com um detalhe que faz toda a diferença: os barris.

Cada uma dessas versões da Odonata passa por barris onde foram destiladas outras bebidas – no caso, cachaça, rum e Whisky. E acreditem: a complexidade que isso entrega vale cada gole.

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Odonata #6

Mesmo com todas as versões apresentando 12% de teor alcoólico, a Odonata #6 talvez seja a que mais deixa claro a gradação. Assinada pela Dinah Paula, que comanda a cachaçaria Quinta das Castanheiras, a #6 “envelheceu” por três meses em barricas de carvalho francês, todas tendo sido usadas imediatamente antes para produzir cachaças.

E não se engane, esse gosto está lá. Talvez não na cara, mas tão logo seu paladar se acostume com a cerveja, o que surge é um delicioso ardor que completa a experiência. O resto do sabor chega antes com a já costumeira impressão de café, chocolate, baunilha e coco queimado da Imperial Stout. Uma complexidade que, associada à cachaça, faz com que tudo case perfeitamente bem com “La Potentitta Cremosa”.

Já tendo feito parte do cardápio rotativo do Mucha Breja algumas vezes, sempre com sucesso, a porção de polentas bem sequinhas com um creme de gorgonzola completa bem a degustação.

Como é de se esperar, o gosto do queijo poderia roubar completamente qualquer coisa associada a ele, mas aqui, combinado com o gosto marcante da #6, o resultado fica equilibrado. Como tanto o gorgonzola quanto a cachaça são presentes no paladar, tudo se encaixa e acaba surpreendentemente leve.

Renato Melo explica que a Odonata é uma cerveja que, “mesmo equilibrada, ainda é muito recente e está longe de seu equilíbrio perfeito”, coisa que deve acontecer daqui a alguns meses.

Mas isso não impede da Odonata #6 ser o grande destaque da noite, mesmo com seu acompanhamento sendo o mais simples dos três.

Odonata #4

Por ser uma noite de degustação e harmonização, seguir a ordem das cervejas seria um erro estratégico, já que enquanto a #6 vinha com a presença da cachaça, a #4, a mais densa das três, só poderia combinar bem com algo igualmente pesado como o sanduíche de Pulled Pork.

Assinada por um “cara do tabaco”, Cesar Adames, além de ser finalizada em um barril de rum, ainda recebe malte defumado de folha de tabaco cubano de Pinar del Rio, em homenagem à primeira visita de Adames à “ilha de Fidel Castro”.

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O rum em si acaba sendo menos presente, assim como toda densidade e força da #4 acabam roubando um pouco o gosto de café, o que abre espaço para as notas sutis do defumado. E se tudo isso parece ser detalhes demais, acreditem, a #4 é a “mais fácil” de ser bebida (ou como os especialistas gostam de dizer: “melhor drinkability“).

E essa “leveza” (pelo menos para os padrões de uma Imperial Stout) valoriza o “gosto de fumaça” e o doce do Pulled Pork (um jeito específico de cozinhar porco desfiado). O equilíbrio da #4 pode até resultar na experiência menos interessante das três, mas é impressionante o quanto isso também permite que o porco, ainda que suave, “roube” o gosto só para ele.

Odonata #5

Assinada por Maurício Porto, do site Cão Engarrafado, essa talvez tenha sido a principal responsável pela troca de ordem na hora da degustação, simplesmente porque deveria ser obrigatório que todo e qualquer doce de chocolate fosse acompanhado dessa #5.

A bola da vez era a famosa no cardápio do Mucha Breja: a Pizza de Brownie. Para o evento, ela ganhou o acréscimo de um pedaço de chocolate em barra sobre o pequeno, redondinho e delicioso brownie com cobertura de “creme de amêndoas” (ou se você preferir, Nutella mesmo). E ainda que quando se pensa em harmonização de stouts logo venha à mente o chocolate, aqui a combinação vai muito além do óbvio.

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A presença do whisky na #5 é um espetáculo à parte, já que valoriza ainda mais as notas de baunilha, ao mesmo tempo que perdura quase um caramelizado alcoólico no retrogosto (que seria aquele gosto que continua em sua boca depois da golada). E o que essa “baunilha aditivada” faz com o chocolate é “emprestar” suas características para o brownie.

Diferentemente das outras duas cervejas, que valorizam e suavizam os pratos, a #5 simplesmente complementa o gosto. O que nasce da combinação é um sabor completamente novo e imperdível, tanto para quem gosta de chocolate, quanto para os amantes desse tipo de cerveja.