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O culto à magreza: por que esse padrão precisa ficar no passado

Entre dietas, expectativas e autocobrança, existe um impacto silencioso de um movimento que já passou da validade

Tempo de leitura: 5 minutos

O culto à magreza não é novidade – mas, dessa vez, ele voltou com “prescrição médica”. Aliás, 2025 ficou marcado como o ano em que Hollywood parou de fingir que diversidade corporal importava e abraçou de novo aquele padrão dos anos 2000: magro, mais magro, magérrimo.

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E aqui, uma cidade litorânea, onde o corpo fica exposto o ano inteiro, essa pressão ganha um contorno ainda mais cruel.

Quando emagrecer virou tendência?

Portanto, vamos aos fatos: diversas celebridades apareceram drasticamente mais magras em 2025. O fenômeno ficou conhecido como “corpo Ozempic”, uma referência aos medicamentos injetáveis que prometem perda de peso rápida. 

Consequentemente, o público acompanhou essas transformações foto a foto, aparição a aparição, quase como uma narrativa em tempo real.

Porém, é aqui que mora o perigo: essa obsessão pela magreza extrema não começou agora — ela só ganhou uma nova roupagem farmacêutica.

O fantasma dos anos 90 voltou

Nos anos 1990 e 2000, a estética “heroína chique” dominou as passarelas com corpos extremamente magros, olheiras marcadas e ossos aparentes. Mas então veio o movimento body positive, a inclusão de modelos plus size, a promessa de que a moda finalmente ia abraçar corpos reais.

Enquanto em 2020 modelos plus size representavam muito menos da metade das passarelas principais, em 2025 esse número despencou e é quase inexistente. Portanto, foi tudo teatro? A indústria da moda nunca abandonou seu amor pela magreza — só fingiu por alguns anos.

As redes sociais amplificaram esse retorno. No TikTok, hashtags como “heroin chic” acumulam milhões de visualizações, com jovens romantizando uma aparência que remete ao consumo de drogas.

Verão e a pressão que nunca tira férias

Agora, vamos falar do óbvio: moramos em uma cidade de praia. Janeiro chega, o calor aperta, e com ele vem aquela cobrança invisível, mas sufocante. Biquíni, sunga, corpo exposto. Olhares que julgam. Comentários que machucam.

Então, o que acontece? Pessoas embarcam em dietas malucas, compram “canetinhas” sem orientação médica adequada, pulam refeições, desenvolvem compulsões. Tudo para alcançar um padrão corporal que nem é real — é filtro, é Photoshop, é genética, é medicamento off-label.

Por outro lado, a saúde de verdade fica em último plano. Porque ninguém está preocupado se você consegue subir escada sem perder o fôlego, se dorme bem, se tem energia. O que importa é caber no manequim 36 — ou até menos.

Os efeitos colaterais do Instagram

Nem tudo são filtros e poses perfeitas. O uso de medicamentos como Ozempic pode causar o que chamam de “face Ozempic”, uma perda rápida de gordura que deixa o rosto com aparência envelhecida e “caída”. O mesmo acontece com outras partes do corpo.

Mas os riscos vão muito além da aparência. Anemia, perda de massa muscular, problemas gastrointestinais severos, alterações hormonais — a lista é extensa. Igualmente preocupante é o impacto mental: ansiedade alimentar, distorção de imagem corporal, transtornos alimentares.

O papel dos influenciadores nessa bagunça

É impossível não falar sobre a responsabilidade de quem tem influência. Segundo especialistas, as pessoas não acompanham só a carreira das celebridades, mas o estilo de vida delas, e cada mudança física vira uma história contada em tempo real.

Entretanto, quando um influenciador ou qualquer outra estrela aparece visivelmente abaixo do peso e não há discussão honesta sobre saúde, o recado que fica é: “esse é o corpo ideal”. Consequentemente, milhões de pessoas — especialmente adolescentes — tentam replicar.

Afinal, infelizmente ainda vivemos em uma cultura onde emagrecimento virou sinônimo de sucesso. Perdeu peso? Parabéns! Está “se cuidando”. Engordou? Deve estar “desleixado”. 

Essa é uma lógica perversa que ignora completamente o contexto, saúde mental e condições médicas.

Magreza extrema não é saúde

Então, vamos deixar claro: corpo magro não é necessariamente corpo saudável. Assim como corpo gordo não é necessariamente corpo doente. Saúde é complexa, multifatorial e além de tudo é individual.

Precisamos desmontar essa ideia de que existe um “corpo certo”. Corpos funcionam de formas diferentes. Genética, metabolismo, condições de saúde, acesso a alimentos de qualidade, rotina — tudo isso influência.

O que podemos fazer contra essa maré?

Antes de tudo, questionar. Por que estamos aceitando que a moda volte a excluir corpos diversos? Por que celebridades mais magras são aplaudidas enquanto outras são criticadas? Por que fazer de um tipo físico uma “tendência de comportamento” quando isso é comprovadamente prejudicial à saúde?

Em segundo lugar, cobrar das marcas. Se uma grife de moda só tem peças até o tamanho P, não compre lá. Se uma campanha publicitária só mostra corpos magros, critique nas redes sociais. Dinheiro fala — e empresas escutam quando isso afeta o bolso delas.

Por fim, cuidar de si de verdade. Não daquela forma fake wellness que Instagram vende, mas da forma real: comer quando tem fome, descansar quando precisa, fazer atividade física porque te faz bem e não para “compensar” comida, procurar ajuda profissional se a relação com o corpo está te adoecendo.

Corpos não são tendência

Portanto, chegou a hora de decidir: vamos aceitar que 2025 seja lembrado como o ano em que voltamos ao pior dos anos 2000? Ou vamos resistir a essa pressão absurda e lutar por uma sociedade que respeita corpos reais?

Porque aqui, com sol o ano todo e praia na esquina, a gente merece curtir o verão sem essa neura toda. Merece entrar no mar sem medo de ser julgado. Merece existir em paz no próprio corpo.

E isso — existir em paz — não deveria ser luxo. Deveria ser direito básico.

Então que venha 2026. E que venha diferente!

Vitor Fagundes
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