Texto porLudmilla Rossi
Santos

Simone Matias – ilustração made in Santos

Entrevistamos a Simone Matias, jovem ilustradora santista responsável por ilustrar livros infantis para diversas editoras. Pouco conhecida na cidade onde nasceu mas consagrada pelo Brasil afora, Simone permanece residindo em Santos, criando imagens lindas que saem de Santos para as páginas dos livros e imaginação das crianças.

Já falamos dela aqui no Juicy quando divulgamos o livro O Céu dos Cachorros, escrito por FláviaVallejo e ilustrado pela Simone. E quando soubemos do lançamento do novo site com o portifólio da Simone aproveitamos para fazer essa entrevista.

Juicy Santos – Quantos anos você tem e onde nasceu?
Tenho 37 e nasci em Santos

JS – Qual sua formação?
Sou formada em jornalismo, mas nunca exerci a profissão. Estudei desenho nos EUA, na New School University, em Nova York e ilustração em Sarmede, na Itália. No Brasil fiz cursos e workshops com ilustradores maravilhosos, Odilon Moraes, Fernando Vilela, Rebeca Luciani e Chris Mazzotta.

JS – Quando descobriu que queria viver de arte?
Quando me formei, não queria ser jornalista e não sabia que rumo tomar, resolvi fazer um intercâmbio nos EUA para “dar um tempo”. Lá, fui babá de três crianças, 3, 6 e 8 anos, que não assistiam televisão e tinham muitos livros, muitos mesmo! Eu lia para elas antes de dormirem e, assim, descobri a ilustração de livros para crianças. Voltei ao Brasil decidida a estudar para ser ilustradora. Peguei meu primeiro livro seis anos depois. Nesse meio tempo, fui professora de inglês e tradutora.

JS – Você continua morando em Santos?
Sim.

JS – Num mercado onde a tendência para os artistas é a migração para grandes centros, o que a levou a permanecer na cidade em que você nasceu?
Na verdade, trabalho como ilustradora freelancer para várias editoras do país, isso me permite trabalhar em casa. Tudo é resolvido e combinado por e-mail e telefone e correio. Divulgo meu trabalho via internet e e-mail. Às vezes, tenho eventos, lançamentos de livros e workshops em São Paulo. Preferi ficar em Santos, pois acredito que a qualidade de vida é melhor. Além disso, moro perto da praia!


JS – O seu tipo de trabalho é muito particular. Há demanda para ele vindo de clientes regionais?

Meu primeiro trabalho regional foi ano passado para a editora santista Realejo. (Veja aqui)

JS – O fato de trabalhar com ilustrações para livros infantis é uma grande responsabilidade, por formar e estimular a capacidade criativa de milhares de crianças. Como é esse processo?
Procuro não desenhar para crianças, mas apenas desenhar. Acho que isso evita uma série de clichês e ideias pré-concebidas do que deveria ser uma ilustração para crianças. Não devemos subestimar a mente infantil. Estou sempre inquieta e insatisfeita, mas no bom sentido. Quero sempre melhorar a expressão do meu trabalho e fugir do óbvio. Minha busca é Ilustrar as entrelinhas, a sensação, o sentimento do texto e ser verdadeira. Acho que é isso que o leitor merece. Assisti a um vídeo maravilhoso do Andrew Stanton da Pixar, onde ele diz que uma boa história não dá o “4”, mas dá o “2+2”. Achei isso genial. É o trabalho não só escritor, mas do ilustrador também.

JS – Você trabalha com quais tipos de técnicas / materiais?
Faço os rascunhos a lápis ou nanquim e finalizo com tinta acrílica. Às vezes misturo colagem, lápis de cor e guache. Não uso computador. Nada contra, mas na tinta é tão divertido! Nem saberia finalizar no computador.

JS – Como você vê a transformação do mercado editorial?
Certamente muita coisa vai mudar com a ascensão do livro eletrônico, mas ainda é cedo pra saber a extensão disso. Será uma mudança como foi um dia a televisão em relação ao rádio e ao cinema.


JS – Você passou um tempo morando fora do país. Como isso transformou a sua vida?

Morar fora é uma aventura maravilhosa. Encarar sozinha um país diferente, uma língua estrangeira e ter que se virar. Descobrir que aqueles costumes que pra você são tão óbvios, não são para pessoas de outros países. Perceber também que esses costumes e a cultura, apesar de importante para nossa identidade, são só a superfície do lago. No fundo temos todos os mesmos desejos, esperanças e medos.Posso dividir minha vida em antes e depois do intercâmbio. Ganhei uma maturidade, confiança e auto-estima que não tinha antes. E, é claro, descobri uma profissão!

JS – Quais são os artistas que a inspiram?
Adoro os impressionistas e os pós-impressionistas. Monet, Manet, Degas, Toulouse-Lautrec e especialmente Van Gogh e Gauguin. Gosto das cores, do movimento e da fluidez. No caso dos dois últimos, me encanta não só as obras em si, mas a relação dos dois com a arte. Também gosto de Gustav Klimt, Edward Hopper e Egon Schiele.

JS – Qual a dica para quem está começando no mercado de ilustração / arte?
O que sempre digo para meus alunos de desenho e ilustração é que talento é bom, mas não basta. Saber desenhar bem, muita gente sabe, mas para ser ilustrador, designer, artista plástico etc é preciso MUITO estudo e conhecimento. História da arte é imprescindível. Como qualquer outra profissão, é preciso investir tempo, energia e dinheiro. É importante ter um portfolio online não com todos os trabalhos, mas apenas os melhores. Porém, os clientes não virão até você, principalmente se não sabem que você existe. Entre em contato com editoras e agências (telefones, e-mails e endereços na net!) e divulguem seu trabalho. Enviem portfolios por email ou impresso, de acordo com a preferência de quem o receberá. E não desistam!

JS – Quais são os projetos futuros?
Tenho planos para lançar um livro imagem de minha autoria, mas por enquanto ele ainda está no rascunho. Apesar de amar ilustrar livros infantis, quero experimentar ilustração para outros veículos: jornais, revistas, publicidade, etc Enfim, diversificar.