Texto porNathalia Ilovatte
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Entrevista com a MC Gi

“Tem gente que insiste em dizer que não, mas tamanho é documento, eu não mentiria em vão. Nada de tamanho P, o que eu quero é gigante, se tu é miniatura seu lugar é na estante”. E se você acha que cantar esses versos não pega bem para uma mocinha, comece a rever seus conceitos ainda hoje, porque foi-se o tempo em que girl talk era sinônimo só de esmaltes e sapatos.

Meninas gostam de sexo, duplo sentido e sarcasmo. O problema é que ensinaram pra gente que a elegância é uma intersecção nada abrangente de comportamentos polidos e falar sobre essas coisas não é fino. Viramos um bando de reprimidas. Então algumas de nós falam o que querem baixinho, outras preferem escrever, mas quem tem coragem de pegar o microfone e falar na cara é santista e atende por Giovana Avino, aka MC Gi.

Com parcerias com Edu K, Chernobyl, Comunidade Nin-Jitsu e Cello Zero e shows em diversos estados brasileiros, ela leva o funk para baladas descoladinhas e fala o que pensa, ironiza quem quer ironizar, sem ligar pro que estão pensando. E alguns dias antes de tocar no Vertigo Festival, Gi conversou com o Juicy Santos sobre carreira e o que a avó dela pensa das músicas que compõe.

Pelas suas letras dá pra perceber que você tem personalidade forte e fala o que pensa. Desde pequena você é assim?
Sempre falei o que pensei, mas na escola eu era muito tímida. Me sentia melhor conversando com adultos, daí falava até demais, era um perigo… Haha

É muito mais comum a gente ver meninas cheias de atitude montando banda de rock. O que te fez enveredar pelo funk?
Eu compunha músicas de rock, protesto, pop rock e sempre pensei em ter uma banda. Comecei no funk pois fui procurar um amigo meu que era baterista, pra dar inicio ao meu projeto, e fiquei muito surpresa quando soube que ele havia virado MC. Eu tinha um funk, o “Funk do Mosquito”, que falava da epidemia de Dengue na cidade, e mostrei pra ele. Ele amou e pediu para gravarmos. Começaram a aparecer shows e, quando vi, já tinha várias músicas lançadas e estava adorando.

E como é isso de ser mulher, cantar funk, falar de sexo, fazer críticas…? Abre portas ou ainda é uma postura vítima de preconceito no meio musical?
No começo falavam que uma mulher tinha que cantar Melody, que é uma vertente do Funk mas num estilo romântico, só que não é o estilo que mais gosto de cantar. Queria algo mais alegre e com mais atitude. Ser mulher e cantar continua abrindo portas, nunca fui desrespeitada. Creio que ajude tambem, por não terem muitas mulheres cantando Funk.

Rola de vez em quando um olhar de reprovação de alguém, tipo “você é menina, não pode falar essas coisas”?
Às vezes choca por não imaginarem como tenho coragem de cantar letras com esse conteúdo. Mas reajo bem, é difícil algo me ofender. O pessoal sempre acha muito engraçado, elogia dizendo que as tiradas são inteligentes, então não é algo que me incomode.

Seus pais e seus avós escutam suas músicas? O que eles dizem sobre o seu trabalho?
Assim que chego do estúdio com musica nova eles querem ouvir correndo. Minha mãe ama funk. Às vezes lanço uma música mais eletrônica e ela até pergunta se vai ter uma versão mais pancadão! Haha! E minha avó adora, até dança. Minha familia toda me apoia muito, nunca se opuseram. Sou muito grata.

Quem te inspira?
Gosto muito da M.I.A. Não quero imitar ninguém, mas no meu estilo é o que mais se assemelha. Ela é uma grande artista.

Você já trabalhou com gente renomada como Edu K e Chernobyl. Sente que chegou em um momento em que sua carreira está consolidada ou você quer ir além? Quais são seus planos?
Trabalhei com muita gente de talento e fico muito feliz por terem me dado oportunidade, abraçaram meu trabalho desde o inicio. Me sinto muito mais segura do que a uns anos atrás, mas ainda tem muita coisa pra acontecer. Tenho vários planos, quero lançar meu CD, quero que minha tour na Europa se concretize e também quero fazer parcerias com produtores de fora. Ainda sou nova e estou indo atras do que quero com os pés no chão.

Conta como é o funk em Santos. A cena é forte?
A cena do Funk em Santos é muito forte, não só em Santos, mas na Baixada Santista toda. São varios MC’s de talento, gosto muito dos MC’s Vina e Fandangos, MC Duda do Marapé, MC Primo e MC Fumaça. Os bailes eram mais frequentes há algum tempo, mas continuam acontecendo. Lugares que sempre rolam boas apresentações são a Fenix, em Santos, e a Boulevard Choperia, em Praia Grande.

Qual foi o lugar em que se apresentou que te fez sentir mais acolhida?
Foi no final do ano passado, em Porto Alegre, no Beco 203. O pessoal interagiu muito, recebi um carinho enorme. Fiquei mais de uma hora conversando e tirando foto com os fãs depois do show. Foi incrível!