Texto porLudmilla Rossi
Santos

Um jornalista brasileiro no Japão

É um prazer tremendo escrever para vocês, internautas do Juicy Santos. Sou Yukio, não nasci na cidade de Santos, mas desde meu primeiro ano morei com minha família neste balneário privilegiado. Do Boqueirão à Pompéia, ao todo foram 26 anos de contemplação diária do mar e dos montes do horizonte da orla. A formosa senhora deitada de lado, como se estivesse a conversar, bronzeando-se ao Sol. Sabem do que estou falando?

A paisagem sempre esteve lá, e sempre vai estar. Nós não. Foi meu caso. Quantas vezes as areias da praia testemunharam os amigos santistas conversando sobre sua vontade de mover-se para longe, conhecer outros locais, o Rio de Janeiro, o mundo inteiro?

Fui um dos que se ausentaram e ainda não voltou. Poucos anos antes da minha ida ao longínquo Japão, lembro-me do Agência Facos, laboratório de jornalismo diário da então Faculdade de Comunicação Social da UniSantos. Naquele tempo eu sequer cogitava deixar meu País.

Era o ano de 2001, do qual guardo uma fotografia em filme preto e branco, sensibilidade ISO 400, revelada em papel colorido. O stadium é a baía de Santos. O mar protagonista, ondas que levam e trazem. Os prédios da Orla complementam o cenário urbano em que se transformou a capitania de Martim Afonso. Mas o Brasil tem “Progresso” escrito na bandeira nacional.
Logo após me formar, numa conversa com minha namorada carioca, linda e inteligente num hotelzinho há poucos metros da praia, resolvi botar o pé na estrada. Tinha que começar de algum modo. Mas como?

Tinha ouvido dizer de uma contaminação do solo de Itanhaém e outros locais, há décadas atrás. Resolvi conhecer todos os personagens desta história, que já tinha dado muito o que falar em jornais de todo o estado. Queria uma matéria para um hebdomadário presente em todas as bancas da cidade aos domingos. Consegui muitos personagens. Sindicalistas que protestavam (oh, desculpe se consideras um pleonasmo) e famílias em busca de tratamentos e indenizações. Conheci a tendência eco-friendly das empresas do pólo industrial de Cubatão. Estive em duas delas, e encontrei, então um fato novo: um projeto de descontaminação de solos intitulado Biosoil.

Mas influenciado pelo esquerdismo intrínseco na imprensa e pelo gosto juvenil pelo protesto, vide letras de rap, o que mostrei ao editor do tablóide causou-lhe ojeriza. O que seria da digestão do almoço de domingo dos santistas em meio àquelas substâncias todas, não é mesmo? Dias após recebo o telefonema da Câmara de São Vicente. Um dos políticos que usavam as vítimas e o fato antigo como trampolim eleitoral precisava de um jornalzinho para mostrar sua vereação. Pedido atendido, fui ao Rio aperfeiçoar minha diagramação e trouxe em dois zip disks minha primeira obra.

Depois disso, outros projetos vieram, alguns sucessos e outros, minha mente ainda imatura pensava se tratar de futuras desilusões, investimento de tempo e retorno incerto. Agora vejo que eram projetos à frente da época. Só faltava o capital inicial.

Meados da década dos anos dois mil. Vim ao Japão e encontrei um país completamente diferente. Aqui é tudo ao contrário pensei comigo, ainda me sentindo de ponta cabeça. Santos, um dia eu volto.

Yukio Spinosa, web jornalista, locutor e fotógrafo, 32 anos, vive em Nagoia, Japão. Já colaborou aqui no Juicy Santos, no post sobre o Tsunami no Japão, em 11 de março.