Texto porNathalia Ilovatte
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Livro “Chega de falar de mim”, de Jancee Dunn, ensina a entrevistar

…E te faz rir feito um maluco no metrô. Escrito por uma repórter da Rolling Stone e VJ da MTV2, o livro conta os bastidores de entrevistas com Dolly Parton, Madonna, Cher e outros famosos que eu e você também gostaríamos de entrevistar e ainda dá dicas elementares para quem quer abordar uma celebridade, nem que seja só para três perguntinhas, e fazer bonito.

Em 2009, quando “Chega de Falar de Mim…” surgiu nas livrarias, eu me lembro de cobiçá-lo na prateleira da finada Realejo do Shopping Miramar como uma criança em loja de jujubas por quilo. Não comprei porque o primeiro estágio de jornalismo é sempre uma lição de economia doméstica e, na época, R$ 40 faria uma diferença brutal na minha vidinha. Mas a descrição no canto da capa, informando que o livro foi escrito por uma repórter da Rolling Stone e apresentadora da MTV2 que resolveu contar os bastidores das entrevistas, deve ter atiçado as lombrigas de todo mundo que gosta de bandas de rock, e de entrevistas, e de entrevistar bandas de rock.

Lembrei desse livro outro dia, e embora nenhuma livraria de Santos tivesse um exemplar, consegui comprar na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Foi um ótimo investimento. A autora é, além de talentosa e invejavelmente experiente, hilária.

Jancee Dunn cresceu em Nova Jersey, que está para Nova York assim como Santos está para São Paulo: muito perto geograficamente, mas não o suficiente para ser a mesma coisa que a prima grande. Ao menos nos anos 1980, quando Jancee deixou a cidade, todo mundo na vizinha menor se conhecia, era mais comportado para se vestir e frequentava baladas bem menos hipsters, quaisquer que fossem os equivalentes dos hipsters na década retrasada. Portanto, a recém-formada em letras Jancee não tinha a vida modernete que “todo mundo queria ter”.

Mesmo assim, com alguns contatos e muita cara de pau, se tornou editora assistente da revista Rolling Stone e passou a ter pautas de entrevistas com Kim Deal, Stone Temple Pilots e Madonna. No livro “Chega de falar de mim…”, Jancee comenta o que aconteceu antes da entrevista com Madge, os bastidores bizarros do papo com Scott Weiland – que ofereceu heroína à repórter – entre outras histórias engraçadas e constrangedoras que não foram para as páginas da Rolling Stone.

Junto com as revelações vêm dicas valiosas sobre como fazer uma boa entrevista. O que perguntar, o que nunca perguntar, como quebrar o gelo, como extrair alguma frase interessante de um entrevistado lacônico, e tudo aquilo que deviam ensinar pra gente na faculdade de jornalismo, mas nem sempre conseguem.

O livro, no entanto, não deveria ser leitura obrigatória somente nas universidades. Blogueiros dos mais variados assuntos poderiam ter um exemplar na cabeceira também. Blogs são meios de comunicação e, se você dá a mínima para o seu leitor, deve se preocupar com a qualidade da informação que fornece para a ele e com o quão compreensível ela é. Por isso, fazer boas entrevistas é fundamental até mesmo quando você vai espremer um limãozinho mixuruca e transformá-lo em um perfil primoroso em vez de soltar o pingue-pongue na íntegra.

Ninguém nasce sabendo arrancar a carapaça rígida e fria daquele maquiador ótimo, mas que fala pouco, ou daquela atriz novata que tem pouca experiência, mas muito nariz empinado. Eu sou uma negação no quesito sociabilidade porque pouco falo e ainda congelo ao menor sinal de agressividade, mas sei que tem gente que é o extremo oposto: fala pelos cotovelos e acaba por constranger ou entediar o entrevistado. E as dicas da Jancee ensinam muito a ambos os extremos.

Junto a isso, a autora te faz rir muito alto e passar vergonha em lugares públicos. No metrô, o cara ao lado desistiu do livro dele para tentar ler o meu. No fretado, acordei duas vezes o moço ao lado.

Alguns toques da autora:

– Como parecer animada em uma entrevista com uma banda de ressaca e mal-humorada: dê trela para o baterista. Puxe assunto com ele e pareça realmente interessada nas divagações do cara. Isso vai gerar um ciuminho nos outros integrantes, tipo “como assim ela dá mais atenção para o baterista do que para mim?”. E, com o ego ferido, eles vão tentar disputar o seu foco;

– Como abordar um cantor de R&B quando se é a maior branquela da face da Terra: antes de qualquer aperto de mão coreografado ou gíria que você nunca disse antes, lembre-se de ser você mesmo. Não faça de conta que você pertence ao universo do cantor, pois vai soar ridículo e ele vai ficar constrangido e, consequentemente, quieto. Apenas estude com profundidade o assunto que o entrevistado domina e o impressione com seus conhecimentos;

– Como controlar o pânico ao entrevistar alguém absurdamente famoso: Jancee tentou doses de tranquilizante antes de conhecer Madonna, mas os remédios simplesmente não surtiram efeito. Então a repórter respirou fundo e, preparada para a entrevista, escondeu o medo como conseguiu, fazendo perguntinhas descontraídas mas que tinham tudo a ver com a entrevistada. E, pasmem: fez Madonna rir.

E essa aqui é a Jancee Dunn: