Texto porMarcus Vinícius Batista

Uber x táxis – parte 3

A disputa entre Uber e taxistas coloca os vereadores como passageiros, de carona, sem querer pagar pela corrida.

Com a campanha eleitoral, ficou evidente que os parlamentares, de olho nos votos de motoristas e simpatizantes, aplicaram sem pestanejar a Ética pragmática de Nicolau Maquiavel, resumida e distorcida pela frase “os fins justificam os meios”.

O processo vem desde o ano passado, quando o vereador Ademir Pestana (hoje PSDB, mas que um dia foi PT, é possível na política) fez sua escolha.

uber-camiseta

Ele, pressionado por taxistas, entrou com um projeto de lei, aprovado por quase todos os colegas. Só dois votos foram contrários. O prefeito Paulo Alexandre Barbosa sancionou e a vida parlamentar, de costas para a cidade, seguiu em marcha ré.

Quando o Uber se tornou um serviço de boa aceitação em Santos e a campanha eleitoral se fez presente, começaram a aparecer os pais da criança e os candidatos que tentam apagar o passado.

O autor do projeto de lei, por exemplo, se viu no meio do fogo cruzado entre simpatizantes do Uber e taxistas. As redes sociais, neste sentido, funcionam como terra sem lei, tanto quanto as ruas onde carros têm vidros quebrados e motoristas (e clientes!) sofrem ameaças de agressão.

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Um dos vereadores que votaram contra a lei que proíbe o Uber fez o que se esperava de um candidato à reeleição: tentou capitalizar em torno do tema. O problema é que o passado também o condena.

Ele votou no ano retrasado pelo aumento do IPTU e assinou embaixo na autorização para que Organizações Sociais gerenciassem serviços de saúde, em Santos.

Saúde é o primeiro tema da lista de prioridades para os eleitores, nas duas pesquisas divulgadas até agora. Os pronto-socorros colecionam problemas, e o Hospital dos Estivadores (que ganhou o nome fantasia-eleitoral de Complexo Hospitalar) enfrenta a complexidade do mau planejamento. É um prédio pronto, com dificuldades financeiras para se equipar e contratar pessoal.

Na semana passada, um vereador da base governista postou em rede social que a lei que proíbe o Uber “não fede nem cheira” e que haveria problemas jurídicos para fazê-la funcionar, de modo efetivo. Ele votou a favor do projeto de lei.

Como um vereador vota em um projeto que julga irrelevante e inoperante?

Qual é a responsabilidade exercida em plenário?

Qual é o compromisso com o interesse público, se o voto se torna mero protocolo para manter a boa relação com colegas e Poder Executivo?

As palavras do parlamentar nos servem para ligar a luz amarela diante do problema entre Uber e taxistas.

Até que ponto os vereadores enxergam a questão como um ponto central na política de transportes e trânsito? Conseguem visualizar os impactos sociais, tanto para motoristas de Uber como para taxistas, diante do desemprego derivado da crise econômica?

Neste ano, temos cerca de 380 candidatos a vereador em Santos.

No horário eleitoral gratuito, os discursos genéricos e distantes da realidade de um vereador se amontoam na selva da desinformação. Uma minoria se perde na floresta de intenções duvidosas.

Enquanto a eleição corre à margem da vida real, taxistas e motoristas de Uber entram em conflito nas ruas de Santos. No final das contas, ambas as categorias foram abandonadas por aqueles que os enxergam apenas como votos ambulantes motorizados.

Pior para os taxistas, que não percebem como a imagem arranhada pela truculência de poucos e pelo teatro eleitoral reduz as oportunidades de trabalho e tira o foco sobre as mudanças para atender o único interessado: o consumidor.

Consumidor, e não eleitor, é o sujeito que paga as contas.