Texto porJuicy Santos
Santos

Os rótulos e a intolerância

“Que diferença faz pra você, pra sua vida pessoal, se o seu vizinho dorme com outro homem? Se a sua vizinha é apaixonada pela colega de escritório?”

Essa frase foi dita pelo doutor Dráuzio Varella em um vídeo em 2017, mas tomo a liberdade de ampliar pra outros temas agora.

Que diferença faz pra você, pra sua vida pessoal, se o seu vizinho, colega, primo é católico, umbandista, evangélico, judeu ou muçulmano?

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O que isso muda diretamente na sua rotina? Se isso te afeta tanto assim, talvez seja o caso de rever a sua própria fé e no que você realmente acredita.

Não é de hoje que as religiões de matriz africana sofrem com intolerância e preconceito, obviamente em razão do racismo, por virem da cultura negra, até hoje menosprezada e diminuída.

Mas vamos pensar também nos muçulmanos, que também são mal vistos e usados como referência para homens-bomba e abuso feminino. Ou até mesmo os ateus ou não-religiosos, muitas vezes ofendidos e criticados por não acreditarem ou não praticarem nenhuma fé.

Não são poucos os vídeos pela internet com representantes religiosos ofendendo e criticando  outras religiões, fazendo referências a “ritos do demônio”, e incentivando que esses lugares devam ser destruídos.

Santos católicos quebrados dentro de igrejas, terreiros queimados, mulheres proibidas de usar seus lenços cobrindo a cabeça são só algumas das atitudes de intolerância realizadas. Tudo isso supostamente em nome de Deus.

Aparentemente, um Deus exclusivo, que só existe e protege os praticantes de uma determinada fé, segundo seus pensamentos.

E não são somente os praticantes dessas religiões que acabam sendo atingidos.

Há alguns anos, no Rio de Janeiro, um terreiro de candomblé foi queimado por intolerantes religiosos de igrejas ditas evangélicas. Ao saberem disso, pastores e praticantes de outras igrejas evangélicas se uniram para arrecadar dinheiro e reconstruir este terreiro, pois acreditam num Deus único e no direito da fé de todas as pessoas.

No dia da entrega dessa doação, juntaram-se pessoas de várias religiões para celebrar e comemorar o momento e foi pedido a um pastor presente que cantasse. Estando em um ambiente plural e pensando em congregar todas as crenças ali, ele cantou a música Maria, Maria, de Milton Nascimento. Pois, depois disso, este pastor passou a ser criticado e boicotado por “estar servindo ao demônio”!

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Até quando?

Que a sociedade sempre se dividiu em rótulos não é novidade.

Desde que o mundo é mundo, características que deveriam ser somente parte de um ser humano viraram motivo de valorização ou menosprezo.

Europeu, latino, negro, branco, gordo, magro, socialista, capitalista, vegano, carnívoro, crente, macumbeiro, hetero, gay, etc. Características escolhidas ou não viraram uma grande forma de classificação entre pessoas boas ou ruins.

“Ruim pra quê? Ruim pra quem?”, já diria Emicida.

Eu juro que pensava que não escreveria um texto sobre isso ainda em 2018.

Chega de intolerância

A internet que é um meio tão incrível de compartilhamento, ao invés de distribuir boas informações, educação e afeto, virou um grande amplificador da nossa ignorância e preconceito. Se você vota no Lula, é um comunista ignorante, se vota no Amoêdo é um capitalista opressor; se vai no culto, é um crente intolerante, se vai no terreiro, é adorador do demônio; se é gay, é um desvirtuado sem família, se é hétero, é um machista preconceituoso.

Talvez seja mais fácil a gente simplesmente entender que ninguém é 100% bom ou 100% ruim. Que tudo isso são só pedaços de cada um e é preciso ser muito mais do que isso. Entender que se o outro pensa diferente de mim, está tudo bem também. Isso não faz dele um monstro.

Você pode se orgulhar de quem você, da fé que pratica e pelo que luta.

O que você não pode é apontar o dedinho pro outro e dizer que não presta porque vive em outra caixinha. Porque no fim das contas, é isso. Estamos todos dentro de pequenas caixas rotuladas com nossos perfis.

Só que todas elas estão dentro de uma única caixa muito maior da qual ninguém consegue fugir, chamada sociedade. Já passou da hora de darmos mais valor a esta grande caixa do que às pequenas e exclusivas.

Ou a gente se entende ou a gente se destrói. E aí, qual a sua escolha?