Texto porJuicy Santos
Santos

3 clássicos da ficção distópica para ler enquanto esperamos por Westworld

Depois de dois longos anos de espera, finalmente está chegando o grande momento: falta menos de um mês para a estreia da segunda temporada de Westworld.

A série da HBO tem seu retorno marcado para 22 de abril.

Se você, assim como eu, está angustiado para saber como será essa nova fase do parque mais sádico da televisão e quer aliviar um pouco a ansiedade com um bom livro, vem comigo que eu tenho a solução: três clássicos da distopia social que estão cada vez mais e mais realistas.

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O que é ficção distópica?

A ficção distópica é como uma utopia negativa: projeta um futuro desolador que, por ter semelhanças com a realidade, faz a gente pensar se não é pra lá que a humanidade está caminhando mesmo.

É como o mundo perfeito dos mundos imperfeitos.

Para causar o efeito de choque no público, o escritor precisa estar muito atento às piores tendências do momento atual e levá-las às últimas consequências.

Westworld, por exemplo, denuncia o sadismo e a hipocrisia humana, ao mesmo tempo em que leva ao extremo a experiência de violência simulada proporcionada por jogos como Grand Theft Auto (GTA).

Eu sempre gostei de distopias sociais. Desde a adolescência até hoje leio muitos livros e vejo muitos filmes do gênero. Mas, de todos os que já vi, considero estes três (mesmo sendo de autores, épocas e lugares diferentes) como uma grande “trilogia distópica” que todo mundo deveria conhecer.

Qualquer um será uma boa escolha para ler enquanto esperamos pela nova temporada de Westworld – ou quando ela acabar e deixar aquele gostinho de quero mais.

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Veja as dicas de 3 livros pra quem gosta de Westworld:

1. Admirável mundo novo – Aldous Huxley

Lançado em 1932 (três anos após a quebra da bolsa de NY), é tido como um dos primeiros romances distópicos.

A ênfase recai sobre a falta de laços afetivos entre as pessoas. A história, que se passa em 2540, mostra um mundo em que os seres humanos são gerados e desenvolvidos em laboratórios, divididos em castas e treinados desde o berço para terem comportamentos e pensamentos padronizados.

Nesse cenário, palavras como “mãe” ou “amor” são hediondas e qualquer sentimento de afeto é tratado com nojo – enquanto o consumo excessivo e o entretenimento vazio garantem a alienação coletiva.

Com certeza, uma influência para Westworld, já que o criador do parque, Dr. Ford, recebe o mesmo nome do “deus” de Admirável mundo novo (que, por sua vez, faz referência a Henry Ford, inventor do modelo de produção em série durante a 2ª revolução industrial).

2. 1984 – George Orwell

Publicado em 1949 (quatro anos após o fim da 2ª Guerra Mundial, durante a guerra fria), retrata um cenário de supervigilância e autoritarismo político. O mundo é dividido em três grandes blocos socio-politico-econômicos e está permanentemente em guerra.

www.juicysantos.com.br - livros pra quem gosta da série westworld“Big Brother não era pra ser um manual de instruções”

Há câmeras por todos os lados, inclusive dentro das casas, onde a televisão deve ficar ligada 100% do tempo e, ao mesmo tempo em que transmite a programação, também filma e grava o que acontece no ambiente domiciliar. A falta de liberdade é tanta que existe uma polícia do pensamento, especializada em “crimideia”: o crime que se comete ao ter pensamentos que estejam em desacordo com a ordem vigente. Da frase icônica do livro, Big brother is watching you, surgiu o nome e a ideia do programa de televisão Big Brother, que se baseia na ideia orwelliana de vigilância constante em um ambiente doméstico.

3. Não verás país nenhum – Ignácio de Loyola Brandão

Lançado em 1981 (durante a ditadura militar no Brasil), o livro denuncia de maneira forte e preocupante o descaso com a ecologia, a degradação severa do meio ambiente e a falta de recursos deste para se recompor em velocidade suficiente para reparar os danos causados pelo homem.

A história é ambientada em uma São Paulo devastada, árida, superaquecida e controlada por um regime ditatorial. Quase todo o país (que perdeu boa parte de seu território para companhias multinacionais e outros países) é um vasto deserto onde nada pode sobreviver. Quem não consegue um teto morre queimado debaixo do sol. O mar é um depósito de esgoto que mata infeccionado quem tentar mergulhar para refrescar o calor absurdo causado pelo aquecimento global. A crise hídrica obriga a reciclagem da urina e fichas de água potável são moedas de troca em subornos e favorecimentos.

As distopias e nós

Distopias sociais vão e voltam no gosto popular.

A própria série Westworld é baseada em um filme da década de 70 – demorou mais de 40 anos para a ideia voltar a cair no gosto popular e ganhar uma nova geração de espectadores. Até pouco tempo atrás, passamos por um hiato na produção e distribuição desse tipo de narrativa que, agora, é um grande crush desse começo de milênio.

Admirável mundo novo, 1984 e Não verás país nenhum foram escritos e publicados em períodos conturbados da história. Crise econômica, guerra e ditadura produziram algumas das obras mais relevantes do gênero.

Felizmente, não é o nosso caso. Não vivemos, nos últimos anos, nenhum momento tão terrível coletivamente. Mas é bom já ir entendendo essas histórias como uma espécie de lembrete. E cuidar para a distopia ficar apenas nas páginas e nas telas, e o futuro ser só amor.

Por Carolina Zuppo Abed, escritora, professora e psicopedagoga. Desenvolve pesquisa sobre o ensino de escrita literária. Autora de “Tecle 2 para esquecer” (Patuá, 2017) e “Menos o mar” (Quelônio, 2017).