Colégio Canadá, uma instituição na memória de muitos santistas

São pouco mais de 18 horas quando um aglomerado de jovens toma a Rua Mato Grosso, no Boqueirão. A camisa branca, com um pequeno símbolo da bandeira canadense mostra que são alunos da instituição mais antiga da região, o Colégio Canadá.

Essa e tantas outras gerações que passaram pelas carteiras da instituição por certo desconhecem sua história, mas repetem a mesma cena na hora da saída há 81 anos.

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Até os anos 1930, o Estado de São Paulo tinha apenas três escolas públicas de ginásio: na Capital, Campinas e Ribeirão Preto. Cerca de 1450 vagas eram disputadas por paulistas e ocasionavam o deslocamento de famílias; era isso ou pagar pelo ensino. Foi só em 1934 que a população santista passou a ter a oportunidade de estudar em sua cidade, por conta do plano educacional do governo de Armando Salles de Oliveira.

A construção do Colégio Canadá, que inicialmente ficava na Av. Ana Costa, 357, ganhou a instalação atual no ano seguinte (1935). O espaço contava com infraestrutura de ponta para a época, com biblioteca, sala de química, física, desenho e anfiteatro com 200 lugares.

“Lembro que tinha uma prova admissional, tipo um vestibulinho. Para entrar, tínhamos que nos empenhar muito, estudar em casa, fazer cursinho, aulas particulares… Era bem concorrido”, recorda Carmem Ribeiro Moura, que estudou na instituição entre 1965 e 1971. “Uma das coisas legais da escola é que era bem mista, não eram os filhos dos ricos que estudavam, o mérito era o esforço e conhecimento”.

Canada.1965.BImagem: Acervo Pessoal

A concorrência era tanta que, por anos, o colégio foi considerado um dos melhores do Brasil.

Eram mais de 100 turmas em funcionamento, o que levou espaços como o Lourdes Ortiz e Ismênia de Jesus a serem ocupados por alunos do colégio durante o período de ampliação.

“Diferente de hoje, que as classes não chegam a 50 alunos, nessa época as turmas era grandes mesmo. Mas éramos respeitosos, ninguém causava problemas ou dores de cabeça aos professores. Todo mundo estava interessado em estudar, queríamos aprender”, continua Carmem.

Tamanha sede de aprendizado chamou a atenção dos militares no período de ditadura. Segundo o livro O Colégio Canadá nos arquivos do Deops, do jornalista e pesquisador José Esteves Evagelidis, 27 dossiês de alunos da instituição foram produzidos entre maio de 1966 e 1977. Um deles alerta o risco de infiltração de propaganda comunista nos órgãos de ensino santistas.Canada.1968Imagem: Acervo Pessoal

“Não me lembro de grêmio, nessa época eu tinha uns nove anos ainda, não era algo voltado para a minha idade” explica Carmem. “Nós tínhamos uma inspetora, lembro bem da dona Judith, ela olhava a agenda com as presenças e notas, mas era algo voltado a seriedade da escola e não à ditadura, eu nunca vi nada de censura por lá”.

Por que o colégio se chama Canadá?

Aquela turma, das 18h20, se espalha pela cidade rapidamente. Levam o símbolo de um país distante do nosso, mas em momento algum se questionam o motivo da homenagem. “Sei lá, moça, eles só colocam esses nomes. Tem rua aí com nome de país também, tem que ter um nome, né?” responde uma garota apressada, enquanto pega o cartão transporte e dá sinal para o 154 na Av. Conselheiro Nébias.Canada.1965.AImagem: Acervo Pessoal

Não, o nome tem um motivo maior que simplesmente existir. O terreno foi uma doação da empresa The City Improvements Company Limited of Santos, de origem canadense, e é daí que vem a referência.

Carmem, que hoje é diplomata e vive na Alemanha, lamenta o desinteresse e a situação atual do colégio.  “Passei por lá em agosto, fiquei com pena da atual situação da escola. É uma decadência, eles dividiram em três partes e está largada. Não sei o que fazer para ajudar, é simplesmente lamentável ver uma escola que costumava ser de excelência chegar nesse estado” finaliza.

Veja outras fotos do Canadá nos anos 60 e 70:

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