Wylmar Santos se inspira em Pedro Almodóvar em novo projeto

Pedro Almodóvar faz aniversário neste mês de setembro e o Sesc Santos aproveitou a data para trazer na sua programação um show-espetáculo inédito por aqui.

Neste sábado, no Sesc Santos, acontece a apresentação inédita do show Quiero Ser Una Chica Almodóvar.

Esse é o mais novo projeto musical do cantor santista Wylmar Santos, acompanhado de Myrko Yamanouth e Rodrigo Schiavon. A proposta é levar para os palcos a atmosfera da filmologia do diretor espanhol por meio de canções que referenciam suas obras.

Após longa imersão nos filmes e pesquisa acerca das canções, o espetáculo estreia com um visual marcante através das cores do cenário e figurino, além de um repertório que trata dos dilemas ligados à sexualidade, temática tão explorada pelo espanhol.

Almodóvar, além de cineasta, foi ator, cantor e o único espanhol indicado ao Oscar. Para contar mais sobre como foi montar esse show, Wylmar Santos falou com a jornalista Sarah Mascarenhas.

O show “Quiero ser uma chica Almodóvar” foi inspirado na cinematografia de Pedro Almodóvar. As cores, os objetos, os artistas que compõem a atmosfera de arte e cultura que ele propõe.

A concepção do projeto nasce do amor pelo cinema e pela música.

Jaque Imbrizi é psicanalista e professora universitária que atua aqui em Santos, na Universidade Federal de São Paulo e, além de ser apaixonada pela sétima arte, pesquisa arte e as manifestações culturais em suas articulações com a política e a produção de saúde.

Em 2006, quando entrou na universidade, criou junto com dois outros professores (Sidnei Casetto e Alexandre Henz) um projeto de extensão denominado Cinema e Saúde e durante um ano o projeto exibiu 10 filmes do cineasta seguido de roda de conversa com os estudantes no “Ciclo Almodóvar”. Nessa época os três professores já escutavam e cantavam a compilação de músicas dos filmes do cineasta que constavam em dois CDs.

Em 2016, eu e a Jaque nos conhecemos e ficamos amigos. Nos encontros e conversas foi surgindo a ideia de um projeto de show com as canções dos filmes de Almodóvar e que abrangesse o universo artístico deste diretor independente.

Nestes quarenta anos de produção cinematográfica, Pedro Almodóvar construiu uma atmosfera cultural que inspirou gerações de artistas, como a composição de Joaquín Sabina, que dá título ao show, que cita várias atrizes desde as que estrelaram seus filmes, como Carmem Maura, Victória Abril e mais tantas outras. Até àquelas que constaram em cinematografias mais antigas e são fontes de criação de personagens para o renomado diretor, como Audrey Hepburn em Breakfast at Tiffany’s.

Há também alusões aos títulos dos filmes, como “Ata-me” e aos atores/músicos, como Miguel Bosé.

Como foi pra você essa imersão na filmologia de Pedro Almodóvar, conte um pouco sobre a escolha das canções que serão executadas no show?

A idealizadora do projeto, Jaquelina Imbrizi, tinha um CD que havia ganhado de amigos da Unifesp, que continha alguma músicas de filmes e foi trabalho paralelo da maratona de sessões que fizemos para mergulhar na atmosfera das obras.

Confesso que ao assistir os filmes, eu não consegui não tirar os ouvidos das trilhas e das canções em qualquer situação que elas surgissem nas cenas. A primeira música que experimentei em casa foi Resistiré, a empatia foi imediata e intensa, por conta do meu momento emocional e pessoal, a situação conturbada sócio e econômica do país, a intolerância e a notória repressão com grupos de gêneros e étnicos e, claro, por conta do filme “Ata-me”, onde se encontra a canção.

Logo na sequência, ao convidar o Myrko e com a chegada do Rodrigo, mesmo já tendo algumas canções escolhidas ou pré escolhidas com a Jaque, fomos nos atentando ao olhar musical do Almodóvar para a América latina, percebemos que a maioria das canções eram de compositores latino-americanos.

Temos, por exemplo, os argentinos Agustín Lara e Carlos Gardel e o brasileiro Tom Jobim. Conta também por passagem africana do senegalês Ismael lo e sua canção “Tajabone”, o mexicano Tomás Mendez e a clássica francesa “Né me quitte pas”.

O próprio Almodóvar reconhece que: “a música nos seus filmes nunca é música de fundo, é parte ativa, uma entidade dramática tão importante como o diálogo”, como ele próprio já disse.

No último sábado, 16 de setembro, aconteceu uma “pré-estreia” do projeto em São Paulo, como foi a recepção do público?

Foi incrível! Superou qualquer expectativa. Na verdade, estamos com grande receptividade desde o anúncio do projeto, mas esse show foi um gás para a estréia. Houve muita interação do público e identificação também, acredito que parte desse sucesso é responsável pela proposta principal: a liberdade de ser o que você quiser.

Fale um pouco sobre o processo de pré produção do projeto, banda trazer a atmosfera Almodovariana através de cores do cenário, figurino e projeções?

Isso é fonte de um grande trabalho conjunto.

Apesar de todo o grupo estar imerso nessa atmosfera e estudando muito, a Jaquelina é uma amante do cinema e tem profundo conhecimento nas obras do Almodóvar. É dela que parte o briefing inicial. Mas o gatilho para a arte contida no show vem da criatividade de todos, são muitas conversas em grupo para discutir o conteúdo, a performance, iluminação, figurino, cenário, projeção, arte gráfica…

A ficha técnica é bem grande e, mesmo cada um sendo conhecedor da sua área, todos opinam no resultado final: é um trabalho coletivo.

Nossas buscas cancioneiras foram além dos filmes; fomos em busca de músicas de referências para o cineasta,  como no caso da Pina Bauch, onde nos deparamos com “Luna de Margarita”, do Venezuelano Simon Dias e “Lilies of de valley”, do japonês Jun Miyake. É a canção “Yo quiero ser una chica Almodóvar”, de Juaquim Sabina, que dá título ao nosso show e, de fato, não poderia ter outro tópico para nosso tema.

Em 2004 você lançou o disco “Do baile ao jardim”, quais são os planos a partir deste projeto? Já pensa num novo disco autoral?

Lancei em 2004 com apresentações em São Paulo, Paraná e Rio Grande do Norte. Esse ano a dedicação é para “Quiero ser una Chica Almodóvar”. Mas estou envolvido em projetos que tenho muito apreço também, como o coletivo Futurafrica, para falar da cultura do povo preto e da classe trabalhadora, e a possível volta da banda Canal 4 com sua formação original. Então acredito e torço muito para um ano bem produtivo, pensando na coletividade.

Já sobre o disco solo, ainda está no papel para  o ano que vem, deve ser um trabalho autoral em parceria com o violonista Myrko Yamanouth e o escritor Fabrício César Oliveira.

Os ingressos para o show “Quiero ser una chica Almodóvar” rapidamente se esgotaram no site doSsesc, sinal de que seu público em Santos está ansioso para revê-lo nos palcos. O que esperar dessa apresentação?

Não esgotaram, mas vendeu boa parte logo que disponibilizaram no site. Foi uma grata surpresa, como eu disse, a receptividade do público tem sido fabulosa. Esperamos poder retribuir com arte, expressada em diversas vertentes, com música, performance, vídeos, protestos e, sobretudo, com a proposta de aceitação de si mesmo.

Acompanhe o projeto no site Quiero Ser una Chica Almodóvar e no Facebook.

*Por Sarah Mascarenhas, mãe da Letícia, fissurada nos Simpsons, Pottermaníaca, uma magrela de magrela, amante de desenhos animados, uma caipira do interior paulista que resolveu descer a serra há pouco tempo e apaixonada por cultura.

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