Conheça o Centro Espirita Ismênia de Jesus

É pouco mais de 13h35 quando o senhor Eduardo Dias de Oliveira despeja o prato de sopa num recipiente e o guarda em sua mochila. Apesar dos 63 anos e de sua história de vida, seus cabelos são escuros e a aparência é de menos idade. “Se eu tivesse os dentes, acho que passaria como alguém de uns 48, né?”.

Ele, e mais dezenas de pessoas de origem simples (a maioria moradores de rua), se formam em fila, diariamente, em frente ao Centro Espirita Ismênia de Jesus. Lá, recebem não só uma refeição, mas o carinho e atenção que a sociedade os nega.

Antes do alimento, uma oração é feita “para alimentar a alma” explica José Carlos, um dos coordenadores.

De olhos fechados, todos ouvem as palavras ditas por Carlinhos, como é conhecido por eles, e em seguida cantam junto a Eduardo, que traz o seu violão sempre que possível. “Eu tocava na minha casa, então decidi compartilhar isso com os meus amigos”, conta.

De casaco e calça, ambos pretos, Dias questiona se há a possibilidade de pegar uma camisa, pois é mais um dia quente em Santos. “Mais tarde, meu querido”, responde, sempre paciente, Silvia Moreira, que junto à equipe de voluntários, separa as roupas que serão distribuídas antes que eles tomem banho.

“A minha família é bem grande. Eu morava numa casa legal e tinha um bom emprego, mas a minha esposa ficou doente e precisei parar para dar assistência a ela. Abri uma bicicletaria no quintal e fui levando a vida até que ela faleceu, aí me perdi, me sentia como uma pólvora sem todas as parafernálias necessárias para disparar. Quando vi, já estava na rua. Hoje vivo nos fundos de uma igreja, é um quadradinho, com paredes e teto apenas. Mas, sou grato por ter um esse abrigo”, revela Oliveira.

Por uma vida digna

Ismael Leal, presidente da instituição, explica que a ideia é estimular a auto estima dessas pessoas, garantir que terão higiene e acompanhamento de profissionais qualificados, como uma assistente social.

“Quando eles querem, os encaminhamos para serviços de tratamento para alcoolismo, drogas e similares. Nosso objetivo é fazer com que eles voltem para a sociedade da qual faziam parte”, explica Leal.

Enquanto conta sua história, Eduardo Oliveira destaca os pontos positivos, por mais que seja difícil encontrá-los. “Sou evangélico, então tento centrar nos pontos positivos. Aqui, apesar de ser fundamentado na doutrina espirita, sou sempre recebido com todo o carinho e atenção. Não tentam me converter ou nada do tipo. Acho que os próximos meses guardam coisas boas pra mim, a minha esposa tinha uma ajuda de custo, descobriram a minha situação e estão fazendo de tudo pra passar pra mim. Vou poder arrumar a minha vida e ajudar todos eles”.

Fazendo o bem há 74 anos

Desde que o prato de sopa teve início, o serviço é ininterrupto. Funciona inclusive aos sábados, domingos e feriados há 74 anos.

São cerca de 150 pessoas utilizando o beneficio. Para isso, o Ismênia conta com a ajuda de simpatizantes da causa, que fazem doações de utensílios de higiene pessoal, roupas e em dinheiro. Além disso, parte das rendas da escola Ordem e Progresso são destinadas à caridade, assim como os bazares.

As fotos abaixo mostram algumas das peças do bazar permanente da instituição.

Outros serviços

Além de ajudar pessoas como o Edu, como é conhecido entre os amigos, o centro ainda tem creche (com 320 crianças) e assistência para mulheres grávidas com poucos recursos.

Durante toda a gestação elas recebem auxílio, que vai desde cursos de culinária – para garantir a boa alimentação das crianças e uma fonte de renda – a aulas de bordado, pra ajudar a fazer o enxoval do bebê, até conversas com a assistente social.

As gestantes que moram longe recebem vale-transporte.

O centro também oferece atendimento fraterno, evangelização e palestras. Todas as informações ficam disponíveis no site.

Como surgiu

Fundado por Maria Máximo, o Ismênia de Jesus sempre teve como objetivo amparar o próximo.

Portuguesa, Maria era atriz e mudou-se para o Brasil. Casou-se com Miguel, também ator, em Belém do Pará. A mediunidade se manifestou e, por meio de instruções espirituais, veio para Santos. Apesar de seu trabalho, foi discriminada por ser espírita. No entanto, manteve o trabalho de caridade paralelo aos trabalhos realizados no Guarany e Coliseu, que eram sua fonte de renda.

Hoje, na Campos Melo, são 150 funcionários. Mas, no início, a instalação era bem modesta e ficava na Rua Pereira Barreto, no Gonzaga. A sede atual tem mais de 6 mil metros quadrados, espaço divido em setores que procuram disseminar o amor.

O Ismênia de Jesus fica na Rua Campos Melo, 312, Encruzilhada. Para saber as formas de colaboração, acesse o site da entidade ou ligue (13) 3202-8080.