Texto porLudmilla Rossi
Santos

Tsunami no Japão comentado por Yukio Spinosa

“A TV mostra as cenas do tsunami e fico com o coração apertado”
Por Yukio Spinosa / Japão

O dia 11 de março de 2011 ficará guardado na memória do povo japonês e de todos que têm parentes e amigos no arquipélago. Às 15 horas, um terremoto histórico de magnitude 8,9 graus de intensidade na escala japonesa ocorreu no Pacífico, provocando o tsunami que devastou a cidade de Sendai, província de Miyagi, na costa Nordeste do Japão. Até o início da madrugada do dia 2, já havia cerca de 300 mortos por afogamento, informou o centro do corpo de bombeiros.

Mesmo na montanhosa província de Gifu, há 800 quilômetros da área atingida, o terremoto foi sentido por todos. De lá a designer japonesa Tomomi Hashimoto, 28, afirmou que foi o pior terremoto de sua vida.

Na capital Tóquio, Rie Yasuda, 33, sentiu o tremor do 16° andar de um edifício empresarial. Os funcionários evacuaram os locais de trabalho imediatamente, todos com máscaras e capacetes de segurança. A foto que ilustra este post é de sua autoria, tirada debaixo de uma mesa, nos primeiros instantes do chacoalho.

“Por sermos japoneses, sabemos exatamente como agir nessas horas, mas nunca tivemos um terremoto tão grande até hoje. Fomos para debaixo da mesa e protegemos nossas cabeças, rezando para que pudéssemos voltar a salvo depois de tudo”, postou Rie no Facebook assim que voltou para casa.

De salto alto, a executiva teve que andar 40 minutos até seu apartamento em Ebisu. Os trens pararam de funcionar e os hotéis estavam lotados, relatou. Por coincidência ela tinha uma câmera em mãos bem na hora do pânico. “Espero que vocês possam sentir um pouco como foi aquilo.”

Tsunami no Japão

“Tenho que manter no escritório um par de sapatos de caminhada para a próxima vez”, comentou Rie. Ela preocupou-se pela colega indiana, que desapareceu durante o evento e deu notícias só depois.

Carros sendo arrastados pelas águas em regiões metropolitanas e os arrozais da província de Miyagi, cuja capital é Sendai, sendo inundados por ondas de sete metros. Do Brasil, restou aos descendentes de japoneses assistirem às cenas da devastação pela TV.

Para os nipo-brasileiros que estavam longe de suas famílias as redes sociais novamente voltaram a funcionar. Foi o caso de Igor Inocima, 30, gerente da Editora JBC, empresa que traduz mangás para Português.

“Estou muito apreensivo, a TV mostra as cenas do tsunami e fico com o coração apertado. Gracas a Deus, hoje, com e-mail, Facebook, Twitter e Skype conseguimos entrar em contato e saber que está tudo bem com todos. Mas saber que minha família esta sozinha neste momento não é nada agradável. A previsão é que os tremores continuem por um mês ainda, então para as crianças deve ser muito assustador. Quero retornar o mais rápido possível [ao Japão]. Espero que ate lá os aeroportos já estejam funcionando normalmente.”, falou Igor, de São Paulo pelo Facebook. Ele é fundador da Nikkei Youth Network, mora e trabalha em Tóquio.

No Japão Central, região que concentra cerca de 100 mil brasileiros no Japão, foram quinze minutos de tremores e temor.

Agora em primeira pessoa: na hora “agá” eu estava trabalhando. Senti-me enjoado, parecia que estava num barco. De repente comecei a sentir tontura, mas continuei normalmente. Outro brasileiro interrompeu o serviço e falou: “Terremoto!?”.

Olhamos para as luzes, estavam balançando. De repente, silêncio. Todos pararam suas máquinas. “Jisshin?” – perguntava nosso chefe. Sim. O mais longo que já presenciei em mais de cinco anos no arquipélago. Dois colegas meus já se evadiam apressadamente do prédio quando o terremoto deu uma pausa.

Em seguida começou novamente. Foram várias ondas de tremor. Quinze minutos de tensão. Continuamos o serviço. Horas depois, após terminado o expediente, chequei o Facebook pelo celular, ainda do carro.

Havia mensagens de amigos perguntando se estava tudo bem comigo. Eu nem sabia onde fora  o epicentro. Pesquisei em Japonês na internet móvel e li aqueles dois ideogramas. Por coincidência, os mesmos que vi de manhã, na placa do carro da frente, no trânsito para o trabalho. Aqui no Japão Central, próximo a Nagoia, é muito raro encontrar um carro com placa de Sendai. É o local onde está toda a minha família japonesa. Sou nissei por parte de pai.

Dirigi rapidamente até meu apartamento. Pesquisei por imagens do tsunami em Sendai e vi as cenas devastadoras. O número de mortos aumentando. E o pior, o local parece muito com a paisagem dos meus familiares e seus arrozais. Tomara que esteja enganado, que eles morem em local bem afastado do litoral. Agora vou entrar em contato com minha família no Brasil e saber exatamente o endereço dos familiares em Sendai. Eu, que planejava aprender japonês perfeito para um dia encontrá-los. Estou preocupado.

Liguei algumas vezes para o telefone de emergência, mesmo sem ter os dados completos. Não consegui uma ligação. Há dois números: 03-5452-8800 e 050-3369-9680, ligando do Japão. Do Brasil basta digitar “0” operadora 81 e omitir o primeiro zero. O serviço pode sofrer sobrecarga, por isso é importante tentar várias vezes.

Yukio Spinosa Otsuki, 32, jornalista brasileiro, mora há cinco anos no Japão Central.