Texto porVictória Silva
Jornalista, Santos

Santista em volta ao mundo de bicicleta

Aos 17 anos, Israel Coifman entrava na Universidade Anhembi Morumbi pela primeira vez.

Seguindo o ritual de todo bicho, ele levava para a primeira aula mais do que canetas e um caderno: tinha o olhar apaixonado pelo novo, aquela sede por novas experiências, uma pitada de curiosidade e algumas certezas. Entre elas, a de que escolheu o Jornalismo para trabalhar com a sua maior paixão: os esportes.

Começou cobrindo os jogos de futebol da quarta divisão do ABC.

A várzea ficou pequena e ele foi atrás de algo maior. Trabalhou em duas Copas do Mundo, esteve na Olimpíada de Londres e viajou pelo mundo acompanhando os jogos da Seleção Brasileira em mais de 30 países.

O Israel de 2001 ficaria orgulhoso. O de 2016 também estava. Mas, ao mesmo tempo, percebeu que as coisas haviam entrado no automático, o roteiro estava se repetindo e o frio na barriga não era o mesmo. Os olhos apaixonados da primeira aula não imaginavam, mas ele pediria demissão do emprego de seus sonhos.

“Juntou uma serie de fatores. Uma vontade de viver uma forma diferente por algum tempo, aprender de uma forma que nenhum curso ou trabalho é capaz de ensinar e a minha paixão pela aventura. Comecei a procurar outros caminhos e pensei em trocar de emprego, mas vi que não era isso”, explica.

Depois de muito pensar e pesquisar, o santista (que nasceu por aqui e cresceu em SP) finalmente sabia o que queria fazer: cicloturismo.

Volta ao mundo de bicicleta

Amante dos pedais, o jornalista decidiu percorrer o mundo de bicicleta.

Israel Coifman (1)

A expedição começou em dezembro de 2016 e é divida em nove partes, num total de 55 países. Até o momento, visitou 4 nações e as experiências já são incontáveis – ele divide algumas delas no blog LIFELAPSE.

São pouco mais de 100 dias desde que a estrada virou a sua moradia. Nesse período, aprendeu mais do que qualquer leitura ao longo de um ano de preparo.

“O começo foi muito emocionante. A sensação era de liberdade plena, é até difícil explicar em palavras. É muito lindo, porque você tem tempo, sabe? Eu acho que esse é o espírito da viagem, ter tempo, coisa que, quando nós vivemos em cidade grande, não temos. Você começa a prestar atenção nas coisas. No início, isso é muito intenso, um mundo novo”.

Tempo se tornou a palavra chave da aventura. Quando estava em casa, planejando como seria o roteiro, a ideia era gastar 3 anos e alguns pneus de bicicleta. Hoje, o plano virou curtir cada parada, pegar dicas de destinos com as pessoas pelo caminho e viver um dia após o outro.

“Eu planejei fazer de 80 a 100 quilômetros por dia. No primeiro mês, senti dores no joelho e aprendi que precisava respeitar o meu ritmo e curtir cada local em que eu passo. Hoje não tenho pressa de chegar ao próximo ponto. Não é um desafio, não quero bater nenhum recorde, quero aprender sobre pessoas, cultura e sobre mim mesmo”.

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Israel Coifman (2)

Dos locais em que esteve até agora, um fez com que seus olhos brilhassem como no primeiro dia de aula: a Cordilheira dos Andes. Levou uma semana para cruzar a cadeia de montanhas e a sensação, segundo ele, é inexplicável. Chegar a 3.500 metros de altitude e ver as paisagens mudarem em frente aos seus olhos foi “a coisa mais incrível que fiz na vida”, completa.

Segurança

Em sua mochila, Israel não carrega celular. Optou por se desconectar e realmente viver as estradas por onde passa.

Apesar disso, ele sabe que deixou sua família e amigos no Brasil e que eles se preocupam com sua segurança. A solução é um GPS rastreador que emite, a cada 5 minutos, um sinal com a sua localização. O equipamento gera um mapa e qualquer um pode acompanhar o caminho seguido. Também leva um telefone via satélite, para casos de emergência.

“Às vezes eu fico uma semana sem internet. Paro em locais mais afastados, onde o sinal não é bom ou nem tem. Aí a minha família entra lá no blog e vê que eu estou bem”.

Por conta disso, a produção de conteúdo do blog e as atualizações das redes sociais (Facebook e Instagram) não têm uma frequência estabelecida. Elas acontecem de acordo com a estrutura do local onde o Israel arma a barraca para descansar.

Não há planos quanto ao futuro, a não ser uma ideia que tem a ver com o amor pelo esporte e o jornalismo: escrever um livro sobre a aventura e os aprendizados que o caminho ensinar. Mas não há data e nem certeza sobre o projeto sair do papel.

 “O futuro não existe. Para a viagem ser boa, tenho que me preocupar com o que existe… Estou focado no agora. Eu posso conhecer alguém no caminho, posso querer ficar mais tempo em algum lugar, talvez fique doente e tenha que voltar pra casa ou até morrer, sofrer um acidente…”.

Israel Coifman (3)

A volta ao mundo de bicicleta surgiu da vontade de pedalar pelo mundo, não é uma obrigação.

Por isso, a melhor maneira de descobrir os caminhos desbravados pelo Israel é seguindo ele nas redes sociais.

Sem pressa.

Saiba que ele quer viver o tempo, como um garoto apaixonado que vive seu sonho de estudar para trabalhar com esportes. Mas, por agora, quer estudar as pessoas, o mundo e a si mesmo.

* Imagens: Acervo pessoal