Texto porJuicy Santos
Santos

Transicionar é preciso

É normal colecionar palavras. Decidi recentemente que “transicionar” era a minha favorita.

Pode parecer clichê quando associada a uma pessoa que vivenciou algo chamado “transição capilar”, mas seria um grande vacilo pensar nessa palavra apenas como algo externo ou superficial.

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Somos mulheres vivendo em 2017 e independente de como você (mulher) se vê, fazemos parte de uma enorme transição. Diferente da época das nossas bisavós, os fatos agora têm nome: feminícidio, gordofobia, violência doméstica, transfobia, de-si-gual-da-de de gê-ne-ro dentre outras nomenclaturas que transpõem a bolha-internet.

Tudo isso está acontecendo e são essas palavras que, em sociedade, fazem do “naturalizado”, um ato a ser repudiado.

Transicionar é isso, é um processo. O espaço e as pessoas não vão se modificar repentinamente, mas terão que se readequar cada vez que um grupo “minoritário”, falar alto o bastante para ser ouvido.

A diferença entre transicionar e mudar

Vamos entender a mudança como algo visto a olho nu. Você digita aquele textão sobre sororidade no Facebook, falando sobre a importância da união entre as mulheres e seu post recebe várias curtidas de quem se identificou com a mensagem.

Fora do ambiente virtual, isso parece não se aplicar a sua mãe, a sua irmã mais velha ou a sua vó, a sua vizinha que é mãe solo ou aquela conhecida que é agredida pelo marido.

A violência e a desigualdade habitam aqui, “o mundo real”. Embora o papel da internet (definitivamente) não deva ser subestimado, é legal parar para pensar que nem “só” de teoria vive o feminismo.

É nesse ponto que chegamos a palavra transição, de transcender mesmo, na prática e nas ideias. Não necessariamente “vista a olho nu” mas entendida como um conjunto de mudanças que devem fazer parte do nosso dia-a-dia.

Passar por um processo de auto-aceitação é tão importante quanto ajudar uma mulher que precisa de auxílio nesse sentido. Dominar um assunto que te torna mais independente, seja financeiramente ou em qualquer outro sentido, é tão fascinante quanto repassar esse conhecimento para uma amiga. A lista é imensa e é sobre o que está acessível ao nosso alcance.

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Mulheres não são iguais

E se essa frase fosse tão óbvia quanto parece, talvez essa conversa nem precisasse existir.

Nem toda mulher é branca, classe média alta, cristã, hétero, corpo violão sem deixar de ser 38 e o que de mais normativo você imaginar. Traduzindo, possuímos múltiplas especificidades, o que na maioria das vezes quer dizer que grupos diversos de mulheres sofrem machismo atrelado a outras formas de opressão (racismo, desigualdade social, lgbtfobia etc).

Tá, mas o que a palavra transicionar tem a ver com isso tudo? Para nós, mulheres, ela é sobre ir além, das nossas vivências e do que já é pré estabelecido quando nascemos. É sobre não se contentar com um lugar já imposto.

Esse ir além não é utópico, basta olhar para as mulheres ao seu redor, elas também possuem anseios, necessidades, habilidades, dificuldades e uma história.

Tirem suas ideias da gaveta. Falem, escrevam, existam, resistam e vejam a transição acontecer por dentro e por fora.

Lembrem-se, “nós por nós”, sempre (e nada é capaz de resumir tão bem).

Raquel Vasconcelos é estudante de Jornalismo e autora do blog Papo de Mana, que fala sobre feminismo, transição capilar e cosmética consciente.