Texto porJuicy Santos
Santos

Salão de Beleza

Esta crônica foi enviada pela leitora Daniela Marino. 

Nunca tive o hábito de frequentar salão de beleza. Não conseguia me imaginar perdendo horas do meu dia sofrendo ou jogando conversa fora com pessoas que não partilham um único assunto em comum comigo, só para ficar mais “apresentável”.

Bom, eis que cheguei na casa dos trinta!

Salão de Beleza

Sem perspectiva de plásticas tão cedo e com um bebê em casa, comecei a pensar que frequentar um salão não seria uma má ideia. Afinal, nem o espelho aguentava mais me ver com cabelo de Medusa, unhas do Zé do Caixão e sobrancelhas parecendo uma taturana gigante.

Marquei manicure no salão do bairro. Já na primeira vez, morri de vergonha da moça ver minhas unhas, uma vez que já havia algum tempo que elas não sabiam o que era passar pelas mãos de uma profissional.

— Que cor vai ser?
— Humm… Não sei, uma escura. Que cor você tem?
— Cereja, uva, beterraba, café, chocolate…
— É tudo assim, com nome de comida?
— Não, tem rebu, luxúria, beijo na boca, vermelho quenga …
— Acho que vou de comida mesmo…
— Café?
— Não obrigada.
— Não, moça. Quero saber se este esmalte aqui tá bom.
— Ah, esse café! Tá, pode ser. ( Que ingenuidade a minha achar que num salão de porta de garagem alguém iria me oferecer um cafezinho!)

Decidida a cor do esmalte, o que mais pode se esperar da manicure a não ser comentar os capítulos da novela:

— E a novela ontem , hein? Você viu?
— Não. Não acompanho novelas.
— Ah, tá… Mas você tá sabendo daquele casal que separou porque o cara era gay?
— Também não. Não acompanho revista de fofocas.
— Ah, tá… E o caso da mulher que pegou o marido na cama com a vizinha e picotou os dois?
— Não leio jornais sensacionalistas.
— Entendi.

A manicure me deu um olhar de desprezo e tive certeza que ela deveria estar imaginando que raios eu estaria fazendo no salão se eu não sei nada do que se passa no mundo e eu, bom, me perguntava a mesma coisa. Naquele dia, o silêncio que se instalou foi tão grande, que eu podia ouvir os bifes sendo arrancados dos meus dedinhos.

Enfim, para garantir que eu voltasse com todos os dedos das mãos e dos pés, na vez seguinte eu tratei de me informar de tudo que estava acontecendo na novela das oito, li a revista de fofocas da semana e comprei um jornaleco que se eu torcesse, saia sangue.

Cheguei ao salão toda feliz e sorridente, crente que iria arrasar a manicure quando ela me perguntasse sobre as “quentinhas” da semana, mas qual não foi minha surpresa ao me sentar e ouvir:

— Olá! Então, você está sabendo que uma cliente daqui vai lançar um livro no final de semana? Me parece ótimo. Ele aborda o Existencialismo de uma perpectiva Kafkaniana e questiona o absurdo da condição humana partindo para uma análise surrealista…

By: Daniela Marino

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