Texto porSuzane G. Frutuoso

Como superei a perda do meu melhor amigo (e aprendi a pedir ajuda)

Dois dias antes do meu aniversário neste ano, mais exatamente no final da tarde da quarta-feira de Cinzas de um carnaval feliz no circuito Recife-Olinda, recebi uma das notícias mais tristes da minha vida: um dos meus melhores amigos foi encontrado morto no apartamento dele.

Entre a incredulidade e o desespero, eu chorava.

Mal respirava. Buscava informações do que realmente havia acontecido.

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Coloquei uma foto nossa horas depois no Facebook, meio me despedindo, meio avisando os conhecidos. Também avisando os que não o conheciam da minha dor e o quanto ele era especial.

Elinho foi aquele amigo que a gente recebe em casa a qualquer hora, enquanto faz qualquer coisa. Lembro de uma manhã que ele chegou com uns bolinhos japoneses doces, de feijão. Pra segurar a fome até o almoço enquanto eu terminava de passar roupa e ele ficava largadão no sofá contando novidades.

Era o amigo que trazia tsurus para garantir minha felicidade e darumas para me proteger, realizar meus sonhos. O amigo que estava nos agradecimentos do meu livro, com quem passei sozinha uma das melhores noites de réveillon da vida e com quem eu dividia o edredon no frio pra falar das nossas histórias.

Sinta a tristeza, mas peça ajuda

Aquela noite de quarta-feira, a mais cinza de todas, eu não dormi.

Nunca mais aquela doçura ao falar, os olhos sorridentes de Buda e o abraço confortável seriam parte dos meus dias. E me machucava mais ainda saber que ele foi embora em um momento de grandes preocupações pessoais. E me persegue a sensação de que eu deveria ter ajudado mais. Mas se tem uma coisa que Elinho não fazia era pedir ajuda. Ajudava quem fosse. Não queria ser ajudado.

A perda do meu melhor amigo

O assassino dele ainda está sendo procurado.

Em algum momento da vida, eu também não fui de pedir ajuda. Acreditava que resolveria tudo sem ninguém. Até que o peso foi grande demais. Precisei de cinco episódios de pânico, o quinto deles mais grave, para passar a mão no telefone no meio do dia para minha melhor amiga e contar o que estava acontecendo.

Isso já tem quatro anos. Ela me ajudou a voltar para a terapia, lá permaneci um ano. E também me rendi à necessidade de, sim, antidepressivo seria indispensável para as emoções voltarem ao lugar.

Seis meses de um medicamento para depressão ainda tão preconceituosamente cheio de tabus, mas que nos permite equilibrar o que vai na cabeça e no coração. Me ajudou a terminar o mestrado e ganhar paz para seguir em frente.

Peça ajuda – mas sem julgar

Tristeza é fundamental. Chegar no limite, não. Viver o luto também, é essencial, e não necessariamente significa fundo do poço. E tudo isso causa confusão para as pessoas.

Eu não tomei antidepressivo porque não queria ficar triste. Mas porque era um período de pressão por diversos motivos que foi longe demais.

Eu fiquei profundamente triste em algum momento do dia nesses últimos quatro meses não porque eu precisava de antidepressivo. Mas porque havia um luto a ser respeitado.

E a confusão das pessoas é que elas parecem não entender nem uma e nem outra situação. Teve quem dissesse que eu não precisava de antidepressivo, não, magina, vamos naquela festa? Teve quem dissesse sei que era seu amigo, mas seu aniversário está chegando, tristeza não combina com você, se você ainda pensa nele todo dia talvez seja hora de voltar a tomar alguma coisa!

Não é crítica a quem tentou ajudar da maneira que sabe. Sou grata, de verdade. Mas talvez seja importante as pessoas aprenderem a ajudar sem julgar, olhando além do excesso de praticidade que a modernidade exige, respeitando o tempo de cada um, com a mão estendida para a hora certa.

Esteja ao lado, mas, principalmente, seja alguém que se deseja ao lado.

Pela primeira vez escrevo publicamente sobre os episódios de pânico. Pela primeira vez, escrevo sobre a morte do meu amigo. Hoje acaba o luto. Das duas dores.

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Suzane é santista e cofundadora da plataforma Mulheres Ágeis e da consultoria ComunicaMAG. É jornalista, mestre em sociologia e escritora. É autora no blog Fale Ao Mundo e lançou o livro “Tem Dia Que Dói – mas não precisa doer todo dia e nem o dia todo”. Mãe orgulhosa da viralatinha Charlotte.