Texto porJuicy Santos
Santos

Amy Winehouse comparada a atitudes profissionais

Há duas semanas, estou eu sem inspiração para escrever. O que me faltava? Um tema. Na busca deste ponto inicial para deslanchar meu texto, estava eu, lendo as notícias via internet, e deparei-me com um artigo de um profissional segmentado em coaching, onde ele faz uma analogia entre a carreira e toda a conduta da cantora Amy Winehouse (falecida em 23 de julho) com as atitudes profissionais das pessoas nas empresas.

Chamou-me atenção e parti para a leitura do artigo. Infelizmente, acabei ficando frustrada com a analogia desenvolvida no texto. O autor compara o desejo de ascensão profissional dentro da empresa com o despreparo quando este objetivo é alcançado. O emocional é o mais citado.

Nesta comparação, o autor mostra a falta de conhecimento da vida pessoal de Amy Winehouse. Ele afirma que a moça não estava preparada para o sucesso alcançado, e ao se sentir despreparada, com medos, insegura, partiu para o consumo desenfreado das drogas, como fuga deste pânico que a assolava. Usa o termo despreparo emocional.

Ele com certeza não sabia que a depressão acontecia na vida da moça ainda quando criança. Que tentativas de suicídios já faziam parte da sua vida. Que ela já consumia drogas na adolescência. O sucesso não foi o causador da sua destruição. Atitude esta que o autor coloca aos profissionais que não conseguem administrar suas emoções, fracassos, turbulências e todas as perdas em sua carreira.

Ora, segundo o que diz um velho ditado, toda ação tem uma reação. No mundo corporativo, o que sentimos é a falta de preparo de grandes empresários no momento de decisão da promoção de alguém. Não querem investir neles, porque acham que o perderão para a concorrência. Que treinar, habilitar é custo, jamais investimento em sua corporação.  Em muitos casos, não há uma análise mais profunda sobre o conhecimento e as habilidades do profissional o qual deseja promover.

No varejo, temos isto muito claro. Um lojista tem em sua equipe um excelente vendedor. Um dia, abre-se uma vaga para gerente, e ele promove o seu melhor vendedor. O que ele não percebe, que nesta transição, está promovendo o seu melhor ativo, age pela emoção: tempo de casa, pelas conquistas de metas, carisma, mas em momento algum, pelo lado racional de gestão. E o que acontece? O lojista perde o seu melhor vendedor e demite o seu pior gerente. Então, segundo o autor do texto em que li, este profissional sente-se fracassado, medroso e vai na busca através do consumo de químicas (seja ela qual for) a sua autodestruição, para anestesiar-se do problema que ele não sabe superar.

Quando criança, em meus “pitis” – termo utilizado hoje pelos jovens -. minha mãe resolvia com uma havaiana em minha perna. Ficava aquele enorme vergão com todas as ondas da sola deste chinelo de borracha e dizia-me: “para com isto e enfrente seus problemas”.

Nesta geração, somos forçados a conversar, compreender as depressões de nossos filhos, levarmos para psicólogos (afinal, forma-se muitos todos os anos e precisam de clientes). E cuidado, você pode estar fazendo com que o seu filho passe por um processo de bullying. A culpa do despreparo dos nossos profissionais partem da estrutura fundamental que chamamos de lar. Mas como bons brasileiros o governo, os governantes e os docentes são os responsáveis por isto. Pais cada dia mais ausentes, professores mal remunerados, faculdades acessíveis para quem quiser, e aí, profissionais de todas as categorias e qualidades.

Não existe um preparo para as frustrações, decepções ou adversidades causadas pela vida. Sofremos sim, nos recolhemos, e tentamos buscar uma saída para aquele sentimento que nos machuca profundamente. Cada um busca o método que lhe convém. Mas temos que sair disto, que chamamos de superação.

Eu particularmente já tive e continuo tendo altos e baixos. Choro, sinto-me pequenininha, e neste momento, recolho-me. Conto nos dedos de uma única mão quantos me ajudam, sentem minha falta, me ajudam a enxergar com outro prisma a situação. E olha, mesmo com poucos, ainda sobram dedos. Lembro-me neste momento da havaiana e parto para a vida. Passa, como uma dor que ao se tomar remédio sentimos alivio. Claro, não estou aqui dizendo que todas as pessoas são fortes o suficiente para passar por isto, realmente não é fácil, mas no mundo corporativo a competição, o ego, a sobrevivência, o envelhecer, a mordomia são disputadas a unha.

Infelizmente, temos alguns vendedores que viraram gerente, pessoas sortudas, porque tem em sua equipe, profissionais que o sustentam. Conheço grandes gerentes que só permanecem em suas funções porque tem em sua equipe profissional que fazem o seu papel e que fica escondido perante a diretoria. Conhecimento, pouco. Habilidade, nenhuma. Atitude, as piores. Mas, aquele no anonimato o salva. Quando seu trabalho começa aparecer, corte, de quem? do gerente, aquele bonzinho, que precisa se manter no cargo.

Amy Winehouse era doente. E ela precisava de ajuda e o de querer ser curada. Um dos seus maiores sucessos é uma canção onde satirizava que deveria se internar para sair da dependência química. E ela dizia “não, não, não”. E muitos aplaudiram sua atitude.

O que precisamos é parar de ser hipócritas. Esta sim é uma atitude permanente e cada dia mais presente em nossas vidas. Será uma nova doença do século?

Texto por Simone Ponce