Partejar Santista: pelo parto humanizado

Chegou ao hospital, trocou o conjuntinho de roupas combinando por uma camisola aberta na parte de trás, que deixava exposto o corpo ainda em formação. Foi levada ao soro, e teve que ficar por horas sentindo dor e fome, até que estouraram a bolsa para dar agilidade ao processo.

De natural, o parto de Thais Alencar – na época, com 14 anos – só teve o nome.

xparto-humanizado1Imagem: Jackie Davies

“Foi o que chamamos de parto Frankenstein, cheio de intervenções e com métodos que são proibidos por lei, como a Manobra de Kristeller (ato de empurrar a barriga). Por 17 anos, eu achei que tinha sido perfeito e aquilo tudo era normal e necessário”, explica.

Agora, Thais se uniu a mais três mulheres da região e formou o Partejar Santista, um coletivo que trabalha a favor do parto humanizado. “Nós queremos espalhar a ideia de um parto respeitoso. Aqui na Baixada Santista. isso ainda era muito fraco”.

Para isso, mensalmente acontecem encontros no Museu da Imagem e do Som, onde grávidas e tentantes podem tirar dúvidas e desmistificar o parto natural.

“São histórias como a do meu primeiro parto que fazem com que as mulheres tenham medo. E quem vai as julgar por isso? É uma coisa cultural. A violência obstétrica é velada, fazem acreditar que isso é ter um parto natural”.

Gravidez na tela

Entre as dúvidas mais frequentes, estão o medo de a vagina ficar larga e de o bebê morrer enforcado pelo cordão umbilical. Histórias que, em alguns casos, os próprios médicos fortalecem.

“É um sistema. Além da formação obsoleta, há o fator financeiro. Com cesárea, é possível organizar a sua vida, ter uma agenda e fazer muitos partos no período que apenas um natural aconteceria”.

Leia também:
Curso de doula em Santos
Enxoval de bebê em Orlando
O problema das maternidades santistas 

O coletivo, junto ao casal de cineastas Anderson Lima e Samara, teve a ideia de criar um canal de vídeos didáticos no Youtube, como forma de quebrar paradigmas. “Existem alguns blogs, mas, no formato audiovisual, seremos o primeiro”.

Nada no projeto é por acaso: serão três series que totalizaram 40 vídeos, ou seja, o mesmo número de semanas de uma gestação.

“O Anderson cuidará do roteiro e nós das informações e da procura pelos profissionais qualificados para falar sobre o assunto”.

Para tirar o projeto do papel falta apenas uma coisa: a colaboração dos simpatizantes da causa.

Uma campanha de financiamento coletivo está aberta no site Kickante. As colaborações vão de R$ 20 até R$ 5 mil (recompensa de um parto domiciliar).

Assista ao vídeo para conhecer melhor a campanha:

Normal vs. Cesária

Depois de 17 anos, Thais voltou a engravidar. Assim como grande parte das mulheres, começou o pré-natal decidida a fazer um parto natural, mas, nos últimos momentos, viu as coisas saírem diferentes deg como haviam sido planejadas.

“Eu cheguei ao consultório com três dedos de dilatação, o médico disse que iria demorar muito, lembro bem das palavras ‘ela está bem agora, mas isso pode ser diferente daqui 30 minutos, você vai para o hospital agora e eu te encontro daqui a pouquinho, antes das 19h40 você vai ver o rostinho da sua bebê’, foi horrível. Eu chorava muito, todo mundo achava que era de emoção, mas na verdade era pânico”.

“Ouvi o meu marido dizer que ela era cabeluda e eu não tinha sentido absolutamente nada, fiquei sem entender, a minha filha tinha nascido e eu não me movi para ajudar, não senti o nascimento. É por isso que faço parte do Partejar, para orientar e ajudar outras mulheres a terem o direito de escolha”, finaliza.

Acompanhe o projeto no Facebook e não deixe de colaborar na campanha do Kickante.