Texto porLudmilla Rossi
Santos

Dá pra limpar a sujeira?

O Juicy Santos fala sobre uma cidade (Santos, dã!) que eu considero uma cidade incrível. Disputando no meu coração espaço com outra cidade que amo chamada Nova York. Uma constatação totalmente sem exclusividade, afinal muita gente ama Santos e os brasileiros são apaixonados por Nova York (formando uma colônia brasileira gigante e por serem alvos fáceis para o varejo local). Para se ter uma ideia somente no Queens há 100 mil brasileiros! E claro que não estamos falando de turistas.

Minha relação com a cidade começou bem cedo, quando eu tinha 4 anos. Visitei NYC precocemente e só voltei 25 anos depois. Um quarto de século se passou para que eu entendesse que o que mais me fascina por lá não é o shopping de luxo, os carboidratos em toda esquina ou o turismo clichê. Caminhar por Nova York é andar pela camada de resiliência presente em cada pedaço de calçada ou de história.

Charles Bukowski já dizia que em Nova York você precisa de toda a sorte do mundo. Não sei se ele dizia isso por conta do volume da imigração, da disputa por espaço dentro de uma densidade criativa tão grande ou mesmo se referia ao caminho que levou a cidade até o caos urbano das décadas de 70 e 80. Caos que veio acompanhado de muita revolução cultural e artística, herança para qualquer vanguarda.

Em uma pesquisa aleatória outro dia, me deparei com um vídeo que me trouxe boas lembranças da cidade. Cenas gravadas em junho de 1986 no metrô mais sujinho do que nunca. Estive exatamente nesse local 1 mês antes e o vídeo reativou memórias esquecidas em meu cérebro. O medo aos 4 anos de um vagão que a luz sumia e aparecia, um cheiro esquisito e uma incompreensão de uma realidade distante da que eu vivia.

A trilha musical da cidade naquele mês alternava entre hits da Madonna, Whitney Houston e ta-dã uma das minhas favoritas do Burt Bacharach: On my Own, na época lançada por Patti Labelle.

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A realidade hoje é completamente outra: mais limpa, mais pasteurizada mais controlada. E até chegar aí toneladas de reinvenção e esforços foram necessários. É mágico andar pelo Bryant Park (que tem uma estátua de um santista por lá) e lembrar que aquele local já foi uma cracolândia.

Tanta lição pra aprender com vagões sujos…

Fica a pergunta pro Brasil: dá pra limpar a sujeira?

new-york-metro-abandonado