Texto porLudmilla Rossi
Santos
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Courchevel: o paraíso da gastronomia (e do ski)

Courchevel é dos lugares mais desejados por quem sonha em aprender a esquiar ou para quem é expert. Um verdadeiro paraíso para que tem a gastronomia como paixão.

Trata-se da estação de ski mais luxuosa do mundo, a única cidade do planeta que possui 8 restaurantes estrelados pelo guia Michelin e a maior concentração de hotéis cinco estrelas do mundo em uma estação de ski. Quase 100 pistas de ski são adicionadas a essa receita e pronto: Courchevel é sonho de consumo para quem ama viajar. Os brasileiros estão cada vez mais por lá e já ocupam o top 10 das nacionalidades que visitam o local.

Mas vamos ser francos: Courchevel não está estampada nas vitrines da CVC em shoppings – e nem é um roteiro “empurrado” facilmente pelos agentes de viagem. Courchevel é para um tipo de viajante que ama a “arte de viver”, ou como dizem os franceses, le savoir-vivre. A cidade tem esse clima e quem já foi mais de uma vez para alguma cidade francesa entende o que quero dizer.

Lá você encontra gente de várias partes do mundo, dos mais variados bolsos possíveis. Famílias atrás da diversão nas montanhas, ou até mesmo o príncipe William e família, David and Victoria Beckham, que amam esquiar por lá.

Para se ter uma ideia é Courchevel que possui a segunda maior concentração de hotéis de luxo da França, perdendo apenas pra Paris. São 21 hotéis cinco estrelas, além de hospedagens de categorias mais simples, chalés e apartamentos. Do luxo absoluto do Cheval Blanc aos apartamentos em 1850 por 50 euros por dia por pessoa: tem pra todo mundo que quer escorregar no gelo e na comida.

Courchevel, resort de ski na frança

Como chegar em Courchevel

O acesso para quem vem do Brasil é muito simples: dá para chegar em Courchevel pelo Aeroporto de Lyon ou pelo Aeroporto de Genebra. A partir de Lyon ou Genebra o transporte terrestre leva aproximadamente 2 horas ou 2 horas e meia (para ambas as cidades, 180 kilômetros). Alguns brasileiros preferem curtir Paris e depois pegar um trem até Moutiers, que é praticamente em Courchevel.

Há também um aeroporto para aeronave pequenas por lá, que é um mito. Ele ficou conhecido como “a aterrissagem mais perigosa do mundo”. A pista tem apenas 525 metros e apenas pilotos que sejam muito íntimos dos Alpes podem pousar por lá e os aviões precisam aterrissar numa pista que parece uma montanha rissa para dar tudo certo e reduzir a velocidade. Ah, com gelo, só pra lembrar. Se você tem coração forte, dá o play no vídeo. Medo.

Mas claro que você não precisa passar por isso, visto que esse aeroporto (chamado de altiport) tem um uso bem específico. É melhor que você chegue por Lyon ou Genebra, mesmo.

Restaurantes de Courchevel

Para quem viaja com foco na gastronomia (ou na alta gastronomia), Courchevel é um paraíso. É possível comer em restaurantes estrelados Michelin por menos de 35 euros e aproveitar a gastronomia francesas sob várias óticas e preços diferentes. Vale lembrar que Lyon, que fica pertinho de Courchevel é considerada a capital da gastronomia francesa, onde chefs de todo o mundo vão estudar. A influência intercidades é notável.

Courchevel no total tem 110 restaurantes, para todos os estilos, gostos e bolsos.

Le 1947

Le 1947 pode acolher apenas 22 clientes e fica em atividade de dezembro a abril. Em 2017 o restaurante de Yannick Alléno foi o grande protagonista do guia Michelan. O nome do restaurante traz uma curiosidade: possui o mesmo nome da prestigiada safra da adega bordelesa Château Cheval Blanc. O restaurante que possui três estrelas Michelan fica no Cheval Blanc, rede de hotéis do grupo LVMH, que também tem outras unidades do Cheval Blanc nas Maldivas e em St Barths. Tanto o restaurante como o hotel ficam em Courchevel 1850.

Chabichou

Com duas estrelas Michelin, Michel Rochedy e Stéphane Buron lideram a equipe que preparam pratos luxosos e raros. Para quem não está nada preocupado com a conta e quer ter uma experiência inesquecível em Courchevel 1850.

Azimut

O pequeno e contemporâneo restaurante do chef e fundador François Mouraux tem uma estrela Michelin bem merecida. Fica em Le Praz 1300, onde é possível ter uma experiência gastronômica a preços equivalentes aos restautantes hypados de São Paulo ou Rio.

Chabotté

Fica perto do Chabichou com preços mais amigos e comida deliciosa, também em Courchevel 1850. Para se ter uma ideia dá pra comer entrada, prato principal e sobremesa por menos de 30 euros. Muito justo!

La Cabane des Boucherons

Um dos lugares épicos e  super animados de Courchevel, com uma experiência local completa. É uma “cabana de lenhador” mesmo, cheia de lenha, animação e entretenimento para os convidados.

E por que o Guia Michelin é tão importante assim?

Acho que vale a pena contar a história do guia aqui no Juicy Santos, afinal é um projeto tradicional que nos inspira de certa forma. O guia centenário foi publicado pela primeira vez em 1900, inicialmente como um brinde para quem comprava os pneus da Compagnie Générale des Établissements Michelin. Ele surgiu através de um pensamento bastante publicitário,Capa do primeiro Guia Michelin através da seguinte lógica: se as pessoas conhecerem mais lugares para ir, elas vão rodar mais com seus carros. E usando mais os carros, as pessoas compram mais pneus. Muito espertinhos os irmãos Andre e Edouard Michelin, fundadores da empresa. Nessa época existiam menos de 2.500 motoristas na França e era fácil catalogar hotéis, restaurantes, postos de gasolina, médicos, etc.

Em 1920 os irmãos fizeram uma grande mudança no guia. A lenda diz que Andre viu um carro sendo calçado por um de seus guias e percebeu a necessidade de melhorar o conteúdo e fazer com que as pessoas percebessem o valor daquelas informações. O guia passou a ser vendido e encarado como um outro tipo de produto: críticos anônimos visitavam os estabelecimentos, faziam avaliações, oferecendo as estrelas Michelin a partir de 1926, sendo uma estrela a avaliação mais baixa, e três estrelas o ápice da avaliação. Ano a ano os restaurantes ganham, mantém ou perdem suas “estrelas”. Paul Bocuse é até hoje o chef recordista de permanência com 3 estrelas no guia, um dos maiores chefs franceses ever.

Muita gente opta pela dobradinha Lyon + Courchevel, justamente por conta da gastronomia. Paul Bocuse é um dos que tem restaurante em Lyon.

Outra curiosidade é que “estrelas Michelin” são o termo comum que usamos, mas elas na verdade elas só existem no guia para classificar os hotéis. O correto para os restaurantes (estrelados) seria falar 1, 2 ou 3 macarons, nome original dado pelo Guia Michelin para classificar os estabelecimentos de gastronomia.

Sorry, meu mundo caiu quando eu descobri isso, mas as estrelas não existem. Mas até explicar para geral o que são macarons…

Macarons: prazer

Macarons, prazer. As estrelas levam a fama, mas eles é que dão o prêmio do Guia Michelin.

Courchevel alerta: open bar de vinhos? Sim, trabalhamos.

Conversando com uma amiga que já foi várias vezes para lá, ela contou uma experiência que deixará os amantes do vinho ouriçados. Em Courchevel é possível fazer uma viagem “de turma”  alugando um chalé (ou chalet, como dizem por lá) para 10 pessoas.

Ela indicou o Blanchot para turmas e o Marmotte para casais. Esses chalés fornecem vários serviços especiais e ela fez uma descoberta incrível por lá: os hóspedes dos chalés tem acesso livre a adega. Ela contou que até perguntou para ter certeza se era isso mesmo. E era. Sim, vinhos franceses e sofisticados no melhor estilo balada da juventude. Open bar, é só pedir.

Hotelaria de Courchevel

Palácios

  • Les Airelles
  • Cheval Blanc
  • Le K2

Hotéis 5 estrelas

  • Alpes Hôtel du Pralong
  • Aman Le Mélézin
  • Annapurna
  • L’Apogée Courchevel
  • Barrière Les Neiges
  • Carlina
  • Le Chalet de Courchevel
  • Grandes Alpes Private Hotel & Spa
  • Le K2 Altitude
  • Le Lana
  • Le Palace des Neiges
  • Le Saint Joseph
  • Le Saint Roch
  • La Sivolière
  • Le Strato
  • Les Suites de La Potinière
  • Manali

Hotéis 4 estrelas

  • Bellecôte
  • Le Chabichou
  • Grand Hôtel Au Rond Point des Pistes
  • La Pomme de Pin
  • Les Sherpas
  • Hôtel des Trois Vallés
  • White 1921 Courchevel
  • Portetta
  • Les Peupliers

Hotéis 3 estrelas

  • Courcheneige
  • La Croisette
  • Les Ducs de Savoie
  • La Loze
  • Mercure Courchevel
  • Les Monts Charvin
  • Le New Solarium
  • Blanche Neige Univac
  • Les Cimes Blanches
  • Les Ancolies
  • Les Flocons

Hotéis 2 estrelas

  • Les Bleuets
  • L’Olympic Madame Vacances
  • L’Edelweiss

Ski para todo mundo

A cidade de Courchevel traz uma preocupação bastante importante: tratar o ski como um esporte para todos. Isso quer dizer quem nunca esquiou na vida ou quem é expert. Mas, acima de tudo tratar o ski como um esporte que todos devem e podem aproveitar. A cidade possui a única escola preparada para incluir deficientes físicos no ski, além de instrutores que falam vários idiomas para ajudar iniciantes, idosos e quem quer esquiar for fun.

Outro destaque do resort é o que eles chamam de ski-in ski-out, que é você poder sair esquiando do hotel e voltar esquiando, sem carregar suas botas ou equipamentos pesadíssimos. Isso claro que depende da hospedagem que você vai escolher, mas existem viajantes que optam por essa modalidade que me parece bem mais prática e divertida. Resumindo: a logística para esquiar é muito simples.

São mais de 300 pistas por lá, integradas por 170 lifts, resultando na maior área esquiável do mundo. Ou poderíamos dizer, a maior área esquiável do mundo e ainda por cima com Wi-Fi gratuito em todo o resort.

Quanto custa esquiar?

Os pacotes diários para esquiar começam em 60 euros. Existem pacotes para famílias que saem mais em conta. Quem não tem experiência nenhuma com ski pode tentar por conta própria ou contratar um instrutor.

O idioma definitivamente não é um problema: Courchevel tem mais de 50 instrutores falando português e é bem comum ouvir o idioma pro lá. Brasileiros e portugueses amam Courchevel e o escritório de turismo sabe disso, preparando muito bem quem atende os turistas.

Courchevel teleférico

A vida em Courchevel além do ski

O resort foi planejado há várias décadas, mais precisamente 70 anos atrás, pensado em ser a melhor estação de ski do mundo, mas com foco em agradar a famílias e quem não quer passar o tempo todo esquiando. Acredite, Couchevel possui 600 kilômetros quadrados de pistas de ski, ou seja, dá pra ficar esquiando sem parar uma semana e não repetir o mesmo trecho.

Além do  ski, os hotéis são verdadeiros centros de entretenimento. Você pode se hospedar em palácios, hotéis, chalés ou apartamentos, cada um com sua característica. Outro hot spot de Courchevel é o AQUAMOTION, inaugurado em 2015. O projeto demorou 8 anos para ficar pronto, pois a grande preocupação era criar um ambiente que integrasse a arquitetura do centro aquatico e a natureza.

Aquamotion é  o único centro aquático do mundo dentro de uma estação, diversificando ainda mais as opções do destino. O complexo conta com surf, aulas, aqua relax, aqua biking, crioterapia, parede de escalada, tobogãs, aquaboxing e uma série de outras atrações aquáticas. Há inclusive uma piscina aquecida que fica fora do complexo climatizado, ou seja, no gelo.

Ouço mentalmente minha avó dizendo: “sai daí menina, vai pegar friagem”, hahahaha.

Aquamotion em Courchevel

Enfim, babe nas imagens:

O acesso ao AQUAMOTION COURCHEVEL custa aproximadamente 22 euros. Quero agora.

Além do Aquamotion, existem vários spas, boutiques e lugares para ir.

A cidade tem uma relação muito interessante com a arte e anualmente rolam instalações gigantes de artistas de todo o mundo. Ok, sei que isso não é tão legal assim mas o brasileiro Romero Britto já andou colorindo a neve de Courchevel. Mas pode ficar tranquilo: já passou. Agora outros artistas tem essa missão e o bacana é que as obras de arte se destacam na brancura da neve. Assim, ó:

L'Art au sommet - Courchevel

L’art au sommet (crédito da foto mairie-courchevel.com). A exposição de arte integrou a neve e a street art em Courchevel.

O que são os números de Courchevel?

Ao longo desse texto você deve ter percebido que mencionei Courchevel 1850 ou Courchevel 1550. Esses números equivalem às diferentes altura do vilarejo, sendo 1850 a mais alta. Na verdade a altura exata é 1747, mas pra facilitar eles alteraram os números. As “alturas” mais conhecidas são:

Saint-Bon 1100
Courchevel 1300 (Le Praz)
Courchevel 1550
Courchevel 1650 (Moriond)
Courchevel 1850

Uma curiosidade é que a região de Courchevel 1850 é tão alta que de lá é possível avistar o Mont Blanc.

Qual a melhor época para ir a Courchevel?

Courchevel tem sua melhor temporada durante quatro meses por ano, de dezembro a abril.

Nunca falta neve por lá, variando de 40 a 120 centímetros de acúmulo.

A história de Courchevel

Em 2017 Courchevel completou 7 décadas.

A história do resort de ski começa em Saint-Bon que fica a 1.100 metros acima do nível do mar. Inicialmente o vilarejo era conhecido pelas férias de verão, oferecendo bom ar e descanso aos visitantes. Com a chegada da energia elétrica e dos trens a Moutiers, mais gente passou a conhecer Saint-Bon. Não demorou para que, em 1908 surgisse a primeira casa de hóspedes da vila, o Chalet Curtet, que rapidamente se transformou no Lac Bleu Hotel. Devido ao aumento da demanda dos hóspedes o hotel foi crescendo para receber mais pessoas.

Em 1925 o hotel abriu suas portas pela primeira vez no inverno para atender a demanda de alguns clientes, que já eram entusiastas de ski. A maioria vinha inicialmente de Lyon e Paris, amantes dos esportes em montanha e em busca de adrenalina. Louis Curtet, o fundador do hotel foi o responsável por iniciar o desenvolvimento turístico de Courchevel, abrindo chalés em áreas superiores para que os esquiadores melhorassem sua experiência na prática.

A reputação de Courchevel não parava de crescer, mesmo com todas as dificuldades e limitações de acesso daquela época.

Neste período surge uma nova profissão: a de instrutor de ski. Os primeiros eram austríacos, contratados pelo Louis Curtet. Porém os locais começaram a perceber uma grande oportunidade para si. Jean Pachod foi o primeiro instrutor qualificado do vilarejo, convocando e treinando outros locais e substituindo os austríacos. Em 1935 criaram a primeira escola de ski em Moriond.

Não demorou para organizarem as primeiras competições acompanhadas de celebrações, festas e banquetes, dando ainda mais visibilidade à Courchevel.

Foto antiga de CourchevelApós a segunda guerra mundial, o grupo que administrava a região buscava a ampliação no turismo na área e começaram a esudar a possibilidade de criar um resort de esportes de inverno. O arquiteto e urbanista Laurent Chappis ficou responsável por estudar o projeto, mapeando os melhores itinerários de ski para construir uma planta da cidade perfeita para a prática.

Em 1946 o projeto foi aprovado por unanimidade e Laurent Chappis foi nomeeado para projetar a cidade, junto com Jean Blanc, nascido em Saint-Bon e campeão de ski.

O nome Courchevel foi escolhido o mesmo ano. Na realidade ele já existia por conta do vilarejo situado na altura 1550, chamado de Courchevel e hoje conhecido com Courchevel Village.

De lá para cá a tecnologia chegou ao resort, permitindo a instalação das gôndolas, teleféricos e equipamentos que facilitam a vida de quem esquia. Em todo o resort há sinalização e o melhor: Wi-Fi gratuito que cobre toda a área de ski.

A importância da arquitetura

Por ser uma cidade planejada, Courchevel sempre levou a sério a conduta da arquitetura. Todo o planejamento das construções é pensado para ser encaixado nas pistas de ski. Os prédios não podem ultrapassar a altura das árvores. Todas as janelas devem ter uma direção para aproveitamento da luz solar. Os tetos devem ser adequados para as nevascas. E recentemente a energia verde está aplicada em todo o resort, colocando a preservação do meio ambiente em primeiro lugar.

Por tudo isso, Courchevel é apaixonante e tem sido desvendada pelos brasileiros.

Que tal esquiar e aproveitar Courchevel? Se você já foi ou tem vontade de ir, deixa um alô para a gente aí nos comentários.