Texto porVictória Silva
Jornalista, Santos

Setembro Amarelo em plena pandemia: onde e como pedir ajuda

Após três meses em quarentena, Rodrigo Alves* (nome fictício) começou a questionar sua vida.

Já tinha habitado esse lugar anteriormente e, por conta dessa experiência, sabia que o melhor a fazer era procurar ajuda. Arrumou as malas e voltou para a casa da mãe, em Campinas, onde o isolamento não seria solitário. Além disso, estaria mais próximo da psicóloga que o ajudou a enfrentar a depressão e a evitar a ideia de suicídio que viveu em sua mente durante meses há alguns anos.

Durante o percurso, ele conta, chorou no ônibus pensando na possibilidade de não ter ido.

Diferentemente dele, muita gente não consegue pedir ajuda ou entender o que está sentindo. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, cerca de 800 mil pessoas cometem suicídio anualmente no mundo.

www.juicysantos.com.br - depressão e setembro amarelo

E a pandemia pode aumentar o número de casos

Desemprego, medo, perda de pessoas queridas e outras situações enfrentadas nos últimos 6 meses podem impactar a nossa saúde mental negativamente. De modo que já sabemos que síndromes como, por exemplo, burnout, estresse, depressão e ansiedade tiveram aumentos consideráveis desde que a quarentena começou ao redor do mundo.

De acordo com um levantamento feito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) em 23 estados, entre março e abril, os casos de depressão tiveram um aumento de 90% no Brasil.  Já o estudo “Atendimento psiquiátrico e COVID-19”, da Associação Brasileira de Psiquiatria, mostra que 47,9% dos psiquiatras tiveram um aumento perceptível nas consultas desde março.

O fato do menor contato pessoal, por outro lado, dificulta que pessoas próximas percebem os sinais de alerta e ofereçam ajuda em casos que não são detectados nessas pesquisas.

Como consequência, atentados à própria vida tendem a aumentar.

E não tem jeito, a atenção deve ser dobrada

Segundo Marcel Fulvio Padula Lamas, médico responsável pela psiquiatria do Hospital Albert Sabin, em São Paulo, é importante manter contato próximo (mesmo que online) com pessoas que têm depressão ou ansiedade.

“A maioria das pessoas que tenta suicídio avisa antes e normalmente pede ajuda médica. Mas, com a quarentena, a pessoa tende a ter comportamento evitativo, se isolando, mantendo-se triste, e até mesmo ter comportamentos suicidas, como a falta de valorização própria e dos autocuidados”, explica.

Entre outras coisas, nestas interações, é preciso ficar alerta a sinais como, por exemplo:

  • O aparecimento ou agravamento de problemas de conduta ou de manifestações verbais durante pelo menos duas semanas;
  • Preocupação com a própria morte ou falta de esperança;
  • Expressão de ideias ou de intenções suicidas;
  • Isolamento.

Como explica Lamas, esses são sinais comuns e que devem servir como alerta.

Quando Rodrigo teve depressão, em 2015, demonstrou alguns destes comportamentos e a mãe o levou à psicóloga que o acompanhou até a mudança para Santos no final de 2019.

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A quem pedir ajuda

Assim como a Regina, mãe do Rodrigo, fez, o comportamento indicado em casos de depressão é o do acolhimento. Antes de mais nada, mostre que a pessoa não está sozinha e que não representa um peso para você.

Além disso, auxiliá-la a procurar ajuda psiquiátrica e psicoterápica é importante.

“Geralmente, a pessoa não quer se matar, praticamente nenhum suicida realmente quer. O que eles querem na verdade é aliviar uma enorme angústia emocional que estão sentindo, embora estejam lutando por dentro para não cometerem nada contra si mesmas”, diz o médico do Hospital Albert Sabin.

Em Santos, existem vários endereços onde é possível pedir ajuda psicológica. Vários deles, inclusive, são gratuitos. No total, há 8 unidades do CAPs espalhadas pela cidade, sendo que três são especializadas em atendimento infantil.

Clique aqui para conferir os endereços e os contatos dos CAPs em Santos

Além disso, a cidade também conta com ajuda psicológica em universidades. Em resumo, estudantes de Psicologia atendem ao público, orientados por seus professores. Há casos nos quais o serviço é totalmente gratuito ou então tem valores mais acessíveis.

Para completar, desde que a quarentena teve início, alguns profissionais da cidade disponibilizaram parte de suas agendas para consultas online sem nenhum valor.

Se você precisa de ajuda, saiba que não está sozinho. E se conhece alguém que pode se beneficiar com esses contatos, mande-os.

Já para casos de extrema urgência, a orientação é ligar para o 188. O número é do Centro de Valorização à Vida (CVV), um serviço crucial e também gratuito.

* Usamos nome fictício a pedido do personagem