Texto porFlávia Saad
Santos (SP)

Casais que trabalham juntos: SIM, amor e negócios dão certo

O mercado de trabalho mudou muito na última década. Novos modelos de negócio, a aceleração das empresa digitais, novas relações entre empregador e colaborador – tudo com a ajudinha da Internet que fez o mundo ser repensado. Afinal de contas, ele ficou pequeno para muita gente.

Lembro que há alguns anos existia a máxima: será que montar um negócio com o cônjuge dá certo? Casais que trabalham juntos tem futuro?

Casais de namorados, de pessoas juntadas ou casadas afirmam que sim.

A seguir contamos histórias de casais que trabalham juntos e conseguiram construir empresas sólidas ou em amplo crescimento. Uma pesquisa realizada no Brasil pelo International Stress Management do Brasil (ISMA-BR), garante que casais que trabalham juntos entendem melhor as angústias e a carga horária do parceiro, reduzindo os conflitos e aumentando a produtividade.

O que antigamente era um tabu virou uma estratégia para unir pessoas já com grandes afinidades e sonhos conjuntos. Ficou para trás aquela frase dos mais velhos: “onde se ganha o pão não se come a carne”, para evitar relacionamentos dentro do ambiente de trabalho – ou mesmo para afastar a possibilidade de casais começarem a trabalhar juntos.

“Ainda vou casar com essa chef”

A história de Nathália e Osmar: “A gente se conheceu trabalhando como voluntários num restaurante da festa junina de Santos, o Inverno Quente, quando éramos de grupos de jovens do Rotary. Era julho de 2001, eu era garçonete e ele, o fritador de batatas. Diz ele que me viu e falou pra um amigo “ainda vou casar com essa menina”. Tentou me conquistar com batatinhas, mas eu só tive olhos para o amigo dele.

Ele nem se abalou. Continuou aparecendo nas reuniões do meu grupo e tentando puxar papo. As conversas ganharam força com o ICQ. Eu era a Princess e ele, Warrior. Talvez para treinar ou talvez porque achou que não me conquistaria, ele começou a namorar outra menina na época, enquanto me incentivava a investir no amigo dele e se mascarava no papel de meu amigo pra se aproximar de mim. O plano maquiavélico era que ele sabia que não daria nada com o tal amigo e ele poderia me consolar depois.”

Casais que trabalham juntos - A história da Chefe de Papinha

“Funcionou! Ele viu que a namorada temporária era cilada, largou, e tratou de esperar o momento certo de me beijar. Foi no antigo Gonzabar, em 20 de janeiro de 2001. O pedido oficial de namoro veio no dia 7 de fevereiro do mesmo ano. Dali se estenderam 6 anos de namoro, comigo morando em São Paulo pra fazer faculdade, e ele em Santos, depois um ano de noivado e o casamento em 7 de junho de 2008.

A Gabriela veio completar a família em dezembro de 2011 e plantar a semente da futura empresa. Fundei a Chefe de Papinha em junho de 2013 e o Osmar veio trabalhar comigo oficialmente em janeiro de 2017, depois de fechar uma loja que ele tinha de produtos naturais.

Hoje ele comanda a parte de festas e lanches da marca nova que criamos este ano, enquanto eu cuido dos cursos de culinária. Ele brinca que ele é o “Chefe de Papão” e responsável por eu liberar algumas guloseimas no cardápio de festas da empresa. Nosso segredo para dar certo é evitar falar sobre trabalho em casa – o que funciona 20% das vezes – e ter as funções bem divididas.

Eu brinco que sou a mulher empreendedora que não apenas tem o apoio do marido, mas que o marido largou a própria empresa para trabalhar com ela como “diretor comercial e financeiro não remunerado”. Também procuro separar o pessoal do profissional na hora de fazer uma reunião ou chamar atenção para um problema, para que o mal estar não se estenda para casa. Um dia minha terapeuta sugeriu uma atividade em conjunto que ajudasse a trabalhar essa nova dinâmica de esposa CEO e marido diretor, algo como dança de salão. Optamos pelo MMA Fitness. Quase a mesma coisa.”

A Chefe de Papinha já impactou a vida mais de 2000 crianças através dos cursos de alimentação infantil e seu curso on-line de introdução alimentar.

Muito antes do Tinder

Ludmilla Rossi e Mauricio Matias, fundadores do grupo Mkt Virtual, são a prova viva que não se deve dar ouvidos ao “senso comum” quando o assunto é montar um negócio no qual você acredita. Nessas duas décadas juntos, perderam as contas de quantas vezes escutaram que uma empresa de comunicação e tecnologia fundada em Santos não daria certo.

E, claro, foram “avisados” um outro tanto de vezes que um casal não poderia ser sócio. Que ou a sociedade ou o casamento acabariam. Os dois não deram ouvidos a esses “conselhos” e acreditaram no projeto que começaram em janeiro de 2001.

Ludmilla Rossi e Mauricio Matias
“Nos conhecemos no mIRC, jurássico software de chat. Começamos a usar a internet muito cedo, por isso criei meu primeiro site no mesmo ano e tudo era muito novo para mim. Fiz muitos amigos nessa época mas não fazia ideia que conheceria o amor da minha vida. Começamos a namorar em janeiro de 1997 e como adorávamos tecnologia, fizemos alguns freelas juntos.

Começamos a Mkt Virtual no quarto ano de namoro, sem aporte financeiro algum, apenas contando com o suporte do nosso primeiro sócio e meu ex-chefe, que nos cedeu estrutura e um computador para trabalharmos. Nossa intenção sempre foi fazer o caminho contrário do que a nossa geração fez, de sair da cidade em busca de oportunidades.

Nascer em Santos e decidir estabelecer a empresa na cidade não nos impediu de atender mercados maiores e nos trouxe uma resiliência imensa, além de uma grande contribuição para o ecossistema criativo local.

Hoje a Mkt Virtual está focada em estratégias e resultados e já é um ecossistema maior do qual fazem parte a Mokotó Filmes e Histórias, especializada em narrativas audiovisuais; a Mukutu, especializada em experiências digitais como games e projetos especiais interativos, premiada internacionalmente pelo game Alpha Beat Cancer; e o TIP, um projeto de educação digital e presencial.

Temos muitos desafios pela frente, mas acredito que os dois principais sejam fazer com que a equipe acompanhe as mudanças constantes do mercado e mostrar ao cliente que a solidez e o compliance do nosso ecossistema são decisões acertadas a longo prazo”. 

Entre música e delícias

Andréa veio de Campinas para Santos em uma transferência no emprego. Cléber, na época, atuava como radialista e o namorico virou casamento.

A empresa para a qual ela trabalhava acabou não fazendo tanto sucesso por aqui e a demissão aconteceu. Para não ficar sem fazer nada, Andréa – que sempre amou cozinhar – começou a vender lanches naturais pela cidade. Os dois trabalham juntos e nós contamos a história do empreendimento deles nesse post.

Andrea e Cleber - Donna Andréa

Aqui tem mais histórias românticas de casais que se dão super bem trabalhando juntos.

E viva o amor!