Você já (re)encontrou a sua turma?
Eu custei a encontrar minha turma. Sempre me senti deslocada nos grupos. Na adolescência, quando geralmente buscamos aliados para ensaiar a sobrevivência no mundo adulto, parecia que eu estava naufragando. Interesses, aparência, valores diferentes… tudo parecia estranho e confuso.
Até que aconteceu.
Foto: Ivana Cajina para Unsplash
Demorou um pouco, eu tinha quase 30 anos. Nunca pensei que poderia fazer amigos de infância aos 30 anos. Aquele tipo de amigo que, em pouco tempo de conversa, já sabe de alguns dos meus medos mais profundos, das piadas mais infames, dos defeitos e segredos mais torpes e ainda assim, tendo muitos motivos para ir, resolve ficar.
Considero-me abençoada. Não porque faça parte de uma tropa de elite, que só tem sucessos, virtudes e fortalezas a compartilhar, mas justamente porque temos sangue nas veias, somos de carne e osso e incrivelmente falhos. Nossas fraquezas nos uniram.
Quando eu engravidei, eu achei que essa turma não era pra mim.
Talvez pelo efeito dos hormônios do pré e pós parto, achei que eles estavam em outra frequência. Que não entenderiam meus dilemas e dores, que zombariam da minha legendária sensibilidade.
Resolvi me aliar a mulheres que estavam na mesma vibração. Em seguida, veio um longo período de afinidades com os temas de amamentação e educação. Fui abduzida por esse novo mundo e perdi o contato com esses amigos. Acho que não percebi de cara o baque da separação, porque muitas novas e incríveis pessoas entraram na minha vida.
Mesmo sem saber se queria retomar ou não o contato, o amor pela minha turma ainda estava lá.
A admiração e a saudade também, mas meu orgulho me impedia de me aproximar novamente. Tinha tido alguns desentendimentos e achava que não combinávamos mais. Mas justamente essas diferenças me mostraram o quanto éramos parecidos.
Eles sempre foram meus espelhos, me mostrando onde eu ainda precisava melhorar.
Até que, no último final de semana, a gente se reencontrou. E aí eu vi o quanto estava faminta desse amor. O quanto eles me fizeram falta. Aqueles olhares, risadas e abraços me nutriram e resgataram. Me dei conta do que perdi por tê-los mantido longe da minha vida.
Muita gente me acha meio pirada. Eu e minha turma também. Mas eles me amam e me aceitam exatamente como eu sou e me ajudam a rir de mim mesma e de minhas maluquices. E isso é um presente, uma dádiva e um milagre, nesse mundo polarizado e hostil em que estamos vivendo.
Parece agora que precisamos levantar uma bandeira e defendê-la até a morte, mesmo sangrando no processo e morrendo de medo de mudar de ideia. Minha turma me mostra que posso ser a pessoa mais contraditória da face da terra e ainda assim eles estarão por perto. Quanto vale isso, hoje em dia?
Para permanecermos unidos, a gente fez um pacto de procurar não entrar em controvérsia.
Combinamos de ouvir o outro em silêncio e de não retrucar imediatamente, nem de dar conselhos.
Decidimos nos concentrar no que temos em comum e rir de forma amorosa e compassiva das nossas diferenças.
Resolvemos deixar títulos, potências, máscaras, posições políticas, convenções sociais, ciúmes, comparação e competição do lado de fora. Entre nós, o que tem valor é o abraço, a nossa verdade, nossas alegrias e dores, o afeto, o riso e o choro compartilhado.
Que sorte a minha de estar de novo em casa!