Uma infinidade de informações atrás dos tristes 140 caracteres
Esta noite fui pega pela insônia. Depois de virar e mexer em todos os canais; ver e rever todos os posts dos amigos no Face; conferir o timeline do twitter; consultar meus e-mails; assisti a um filme com a Queen Latifah, o Steve Martin e aquele garoto que faz o Two and a Half Men, o Angus T. Jones.
Acabou o filme, fui ao banheiro e voltei pra uma última conferida no twitter antes de dormir. Encontrei lá um post que dizia que a atriz Cibele Dorsa morrera depois de cair do 7º andar do prédio onde morava.
Fiquei então curiosa e fui ver quem era a atriz no Santo Google. Lá encontrei uma notícia no G1 sobre sua morte, que ocorrera na madrugada de sexta pra sábado por volta da 1h45. Antes do ocorrido ela postou uma última mensagem no twitter com muitos erros de digitação que dizia o seguinte: “LMENTO, EU NÃO CONSEGUI SUPORTAE A MORTENOS MEUS BRAÇOS MAS, LUREI…ATE ONDE EU PUDE”.
Cibele Dorsa
A notícia me deixou mexida, então fui em busca de mais notícias. Descobri que seu noivo, de 27 anos, morrera depois de cair do 7º andar do prédio onde moravam juntos. Ele era Gilberto Scarpa, apresentador do E! Entertainement.
Bem, logo se delineou uma longa história na minha cabecinha…
Na ocasião da morte do noivo, Cibele, então com 35 anos, era modelo, atriz e escritora; fora casada com o cavaleiro brasileiro Doda por 4 anos e estava adaptando seu livro “Homens no Bolso” para o teatro junto com Gilberto Scarpa. Chegou a declarar que o trabalho estava aproximando muito os dois e que em breve pretendiam trocar alianças. Estava cheia de planos e teve sua história abruptamente interrompida pelos fatídicos acontecimentos.
Como a arte imita a vida e vice-versa, Cibele (na historinha que minha cabeça acabara de criar), que levava dentro de si um grande repertório de tragédias famosas, resolvera repetir a última cena do seu romance-drama verdadeiro cometendo o mesmo ato, só que desta vez anunciado por um bilhete suicida digno do século 21, um post no twitter.
Tudo isso chegara até mim por um texto de 140 caracteres no twitter…
Isso me levou a pensar sobre a vida e as redes sociais que levam rapidamente notícias de um ponto a outro do mundo em segundo. Assim, lembrei de um outro fato ocorrido com uma amiga, que outro dia postou seu alívio por saber que o seu exame ginecológico não tinha dado nada. As redes sociais nos desnudaram tanto que tudo se anuncia no Facebook. Desde um cochilo à tarde até o anúncio de um suicídio. E a rapidez com que as notícias se espalham é verdadeiramente assustadora!
No Facebook se anunciam negócios, venda, troca, mágoa, briga, agradecimento, pedido de casamento, votos de feliz aniversário, venda de armas, ódio, preconceito, amor, solidariedade e um sem fim de coisas… Os meios de comunicação, as agências publicitárias, as empresas de telefonia, os correios têm que correr e repensar toda sua estrutura em tempos tão modernos e rápidos.
Hoje assistimos a qualquer coisa que tenhamos perdido na TV no Youtube, lemos sobre qualquer assunto nos portais espalhados pela internet; reconhecemos qualquer pessoa pelo Google Imagens. Até foto minha tem lá! Já experimentou digitar seu nome no Google e ver o que aparece de você em sites e imagens?
Sim, estamos cercados e desnudos! Não! Eu não acho isso ruim… nem bom. Eu vivo com toda essa mudança na ótica das coisas com muita tranquilidade, de forma muito natural. Como não tenho nada a esconder, também me exponho e anuncio meus cochilos, meu trabalho, minha insônia, o livro que estou lendo, a música que estou ouvindo, onde fui, com quem fui, aonde irei… e ainda documento tudo com fotos!
Isso porque sou uma mulher de 45 anos que nasceu na década de 60, em que não havia TV colorida, celular, fax, computador, internet, notebook, iPad, facebook, Orkut, twitter, e-mail e pra ter um telefone precisava estar muito bem de grana.
Essa meninada que está aí hoje com seus 20 anos já nasceu com tudo isso. Não conhecem a vida sem essas coisas. Para eles é muito mais natural do que pra nós dos anos 60… A TV vive fazendo um carnaval em cima das relações virtuais, dos jovens que ficam horas na internet, nos jogos eletrônicos, etc. E no nosso tempo, o que era? Era o amor livre, o rock and roll, as drogas…
Daí veio a AIDS e acabou com o amor livre; veio o pagode e substituiu o rock na vida de muitos jovens e as drogas, bem, essas continuam sempre por aí gerando renda pra muita gente…
Na nossa época era a ditadura militar que arrancava os jovens das salas de aula, de suas casas, de seus empregos e os mesmos nunca mais eram vistos. Era a CENSURA no Caetano, no Chico e em tantos outros… tanta coisa feia! Eu ainda prefiro desnudar-me no Facebook do que no DOPS, o Departamento de Ordem Política e Social…
O mundo evoluiu, a comunicação evoluiu, as relações são outras e tudo é muito rápido. Mas Cazuza, nos anos 80, já previa que “O Tempo não pára”!
“A tua piscina tá cheia de ratos
Tuas idéias não correspondem aos fatos
O tempo não pára…”
Cazuza
Texto por Gisele Esteves Prado