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Sobre as outras mães que existem na nossa vida

Na semana passada, minha mãe teve que se despedir de uma das pessoas mais especiais de sua vida.

Dona Yza foi sua professora na faculdade de História na Unisantos. Foi quem a incentivou a tornar-se também professora. Era sua mãe intelectual, que mostrou quanto valia a pena ir mais longe nos estudos.

E acabou sendo um pouco mãe da mãe quando minha avó já não estava mais com a gente. Lembro de uma vez que minha mãe ficou internada e foi dona Yza quem passou parte do tempo no hospital para ampará-la.

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Acabou que essa senhora, tão à frente de seu tempo, também foi uma suave e essencial influência nos meus dias. Dando à minha mãe a exata noção de quanto o conhecimento liberta e traz independência, fui criada dentro dos mesmos princípios. Se hoje tenho orgulho da mulher que sou, também tem a mão amorosa e sábia dela nesse caminho.

Ryane Leão

Quando eu era criança um dos passeios que me pareciam mais curiosos era levar nossos gatinhos de estimação para dona Yza vacinar. Isso mesmo. Autodidata e bem antes da indústria pet tomar a atual proporção cheia de exageros, aprendeu a cuidar de animais, sendo a casa dela cheia de bichinhos. Eu me divertia. Não lembro de uma vez sequer que tenha me recebido sem um sorriso no rosto. Um carinho enorme.

Outras mães além das nossas

Na noite em que um amigo meu, que era afilhado dela, mandou mensagem no Whatsapp sobre seu falecimento, eu estava no metrô, voltando da faculdade onde dou aula. Os olhos encheram de lágrimas. E percebi que talvez eu não fosse professora se um dia ela não tivesse sido professora da minha mãe.

Em tempos em que o ódio nos cerca, somos manipulados e sentimos medo, vale a pena apertar os laços de afeto e sororidade com aquelas mulheres que foram um pouco nossas mães, outras mães além das nossas, pela vida. Vai lá e faz isso hoje.

Lembrei das mulheres que marcaram minha trajetória: tias, amigas da mãe, mães de amigos de infância, professoras. O quanto eu aprendi com cada uma e o quanto minhas conquistas não deixam de ser um pouco as conquistas delas.

Quem sabe eu não tivesse ido adiante se não fosse um abraço, uma orientação ou mesmo uma bronca que me deram e se somavam e fortaleciam com o que minha mãe me mostrava.

Em épocas escuras é bom a gente se esforçar pra incandescer o coração, deixá-lo reluzente, igual o par de brincos que dona Yza me deu quando eu fiz 15 anos. Justamente em formato de coração.

Quem sabe ela já intuisse, com esse presente, que um dia eu teria que lembrar às pessoas por meio das palavras o que realmente importa.

Suzane é santista e cofundadora da plataforma Mulheres Ágeis e da consultoria ComunicaMAG. É jornalista, mestre em sociologia, escritora e professora. Autora no blog Fale Ao Mundo e lançou o livro “Tem Dia Que Dói – mas não precisa doer todo dia e nem o dia todo”. Mãe orgulhosa da viralatinha Charlotte

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