Porque a vida perfeita nunca é saudável
Na minha época, os comerciais vendiam a vida perfeita: mulheres e homens lindos, corpos perfeitos, famílias felizes, amigos divertidos, viagens fantásticas! Cresci e fui aprendendo que tinha que ser ainda resiliente e proativa no trabalho. Arrumei emprego e na empresa em que trabalhava decolei com essas dicas, imaginando que à medida que eu conquistasse a vida perfeita, a felicidade me encontraria.
Fui promovida e também tive cursos para ser uma boa líder, saber trabalhar em equipe, etc.
O fato é que, no meio do caminho dessa historia toda, desenvolvi uma vida paralela. Isso mesmo: uma vida humana!
Nessa vida paralela aprendi que tinha sentimentos, limitações, necessidades e que tudo isso precisava ser respeitado, não somente pelos outros, mas principalmente por mim mesma!
Além disso, também percebi que para fazer tudo que o comercial da vida perfeita me dizia ser perfeito, meu dia precisava ter mais que 24 horas… e ele não tinha…nem eu!
Sendo assim, comecei a viver num mundo dividido.
Na minha vida perfeita eu era uma excelente líder e funcionaria, galgando os degraus do mercado de trabalho com simpatia e eficiência. Na minha vida paralela eu tinha que fazer escolhas sobre: viajar a trabalho e deixar os filhos com alguém, chegar em casa e me trancar no quarto para não ver ninguém ou manter o ar de “está tudo bem”, fazer exercícios físicos ou dormir!
Nossa! Quantas decisões difíceis! Realmente não consegui dar conta de tudo isso e fui ficando com o “farol baixo”.
Na minha vida perfeita as pessoas me cobravam: por que essa cara, está triste hoje? Sim, na vida perfeita nossas emoções também tem que ser mantidas no nível das expectativas do cliente.
Me enfiei em livros , na minha vida paralela, mas dessa vez, livros que eu saboreava e que falavam de coisas que eu amava como: ser humano e suas particularidades. Enquanto isso, na vida perfeita… vamos fazer curso sobre indicadores, foco em resultados e etc.
Na minha vida paralela comecei a cultivar amigos que estivessem alinhados com a minha maneira de pensar e isso foi aliviando muito o que eu precisava manter na minha vida perfeita – contatos necessários para os resultados exigidos.
Quer tentar adivinhar o que aconteceu no final dessa história?
Sem delongas: minha vida perfeita caiu e quebrou!
Tudo foi por água abaixo: amigos falsos, que só estavam interessados no cargo ou nos benefícios da amizade de alguém que tem uma vida aparentemente perfeita. Também se quebraram todos os bens materiais e isso foi uma opção minha porque minha vida paralela já não me dava mais opções, eu já estava ficando doente!
Ficaram apenas as coisas boas, que na verdade estavam flutuando entre esses dois mundos: meus valores, meus amigos verdadeiros, meus familiares e tudo o que eu realmente amava e com o que eu me identificava.
Vida paralela
Mesmo aos trancos e barrancos minha vida paralela me salvou!
Como eu fiquei depois dessa historia? Feliz e saudável! Descobri que o mundo perfeito é fake, é uma vida de Facebook, é tudo o que vendem ou tudo o que querem que pensemos que existe e é bom. Enquanto estivermos buscando isso, vamos ficar vazios e doentes.
Não me cobro ser a mais feliz de todas, tenho problemas como todos os humanos tem, tenho dúvidas e inseguranças. Sim, psicólogo também sofre disso como todo humano e assim parei de me cobrar a resposta perfeita, a cara de paisagem, o resultado sem erros.
Por isso vemos tantas doenças, principalmente mentais, que não atribuo ao mundo do trabalho afinal, estamos num mundo onde o trabalho existe e exige de nós, assim como a vida! O que precisamos fazer é construir nosso mundo respeitando as particularidades dos momentos, das situações e principalmente as nossas próprias.
O que fazer então?
Largar tudo e sair vendendo artesanato em São Tomé das Letras? Se isso for o que você quer, por que não?
A boa notícia
Na verdade, o que é possível fazer na vida são escolhas! Se você não fizer escolhas nunca terá uma vida saudável.
Você pode escolher ser um artesão ou um workaholic , eu acho que sou uma, afinal não tenho nenhum jeito para as artes.
O importante é que, no final do dia, sendo uma coisa ou outra, seus valores tenham sido respeitados e estejam alinhandos com a sua condição humana.
Junte a isso um propósito maior e a sua vida não vai ser perfeita.
ELA VAI SER “SOMENTE” LONGA E INCRÍVEL.
Rita Zaher é estudiosa do comportamento humano e tem como propósito de vida prevenir a doença mental. Mestre em Gestão de Negócios e graduada em Psicologia pela Universidade Católica de Santos, com Pós Graduação em Didática e Metodologia do Ensino Superior. Possui formação em Coaching pelo Integrated Coaching Institute. Vasta experiência com gestão de pessoas, desenvolvendo sistemas de treinamento, pesquisa de clima, avaliação de desempenho, gestão por competências, entre outros.