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Mais do que nos une, menos do que nos separa

Na manhã da segunda-feira seguinte às eleições presidenciais deste ano, em que alguns acordaram eufóricos e outros com um gosto amargo na boca, me deparei com uma senhora caindo na calçada de uma esquina aqui perto de casa.

Passeava com minha cachorrinha quando a vi tropeçar, a sandália voar e eu, sem pensar, correr em direção a ela. Ao mesmo tempo em que um motoqueiro parava pra ajudar. Assim como um casal que caminhava, uma motorista de um SUV e também o vendedor de água de coco.

Ninguém para exatamente pra pensar numa situação dessas. É instintivo. E, principalmente, ninguém para pra perguntar: “Você é PT ou Bolsonaro? Dependendo, eu ajudo ou não”.

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Ainda não é dessa maneira, me parece, que pelo menos boa parte de nós funciona. Ainda existe uma luzinha dentro de cada um que nos torna dispostos a estender a mão. Se não a uma senhora que caiu na rua, em diferentes situações. Tem quem ajude só pra espiar as culpas ou posar bonito no Instagram? Tem. Tem quem gosta da caridade muito mais para o próprio ego e se sentir falsamente importante do que da justiça social em que todos tenhamos um padrão de vida semelhante e as mesmas oportunidades? Oh, se tem…

Mas há também o bom e o sincero. O que vem do coração. E mesmo do instinto. Tem a emoção verdadeira de quando compramos aquele brinquedo que uma criança pediu na cartinha do Papai Noel enviada ao Correio, ou da sacolinha de fim de ano que muitas instituições pedem para presentear as pessoas atendidas. Ou de doar sangue. Ou doar tempo.

Nos meus escritos aqui no Juicy Santos ao longo de 2018, em algumas ocasiões trouxe trechos do livro “Sobre a tirania: vinte lições do século XX para o presente”, do historiador Timothy Snyder. Uma das lições eu deixei para este último texto do ano e que faz bastante sentido para esta época de reflexão:

Contribua para as boas causas. Participe de modo ativo de organizações, políticas ou não, que expressem a sua postura em relação à vida. Escolha uma ou duas entidades beneficentes e faça com que as contribuições sejam debitadas de sua conta bancária. Com isso, você terá feito uma escolha livre de apoiar a sociedade civil e ajudar outras pessoas a fazer o bem.

Basicamente, significa: faça sua parte nesse todo do qual você tanto reclama. Construa junto e seja responsável pelas transformações que resultarão em um futuro melhor para todos. Não, queridx. Não adianta batalhar por um micro mundo melhor só para si e para os seus. Porque enquanto for desigual e com dor para muitos, nunca vai ser realmente bom para você. As consequências sempre baterão à sua porta.

Se não em dinheiro, doe conhecimento para encontrar soluções para os desafios que tantas entidades enfrentam. Doe contatos, acionando quem você sabe que pode ajudar. Doe participação, voluntariado. Mas seja presente.

Quando nos dedicamos a questões sociais fica mais fácil compreender, afinal, o que nos une como seres humanos, mesmo em um atual país tão polarizado. O que nos separa ganha outras vertentes, outras óticas, perde força. Há mais entendimento.

Em 2019, coloque na sua lista de resoluções uma participação mais ativa na sociedade de uma maneira que traga bons frutos para o maior número de pessoas. Não dividindo, não para nichos, não para poucos, não com certezas absolutas. Você é quem mais vai ganhar em sentido de vida…

Muito obrigada pela companhia neste ano e pelas trocas de emoções. Desejo a cada um saúde acima de tudo, física e emocional, que é com ela que alcançamos todo o resto dos nossos sonhos.

E coragem sempre.

***
Suzane G. Frutuoso é santista e cofundadora da plataforma Mulheres Ágeis e da consultoria ComunicaMAG. É jornalista, mestre em sociologia, professora e escritora. Autora do livro “Tem Dia Que Dói – mas não precisa doer todo dia e nem o dia todo”. Mãe orgulhosa da viralatinha Charlotte.

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