Como fazer compras morando sozinho
Segundo o IBGE, em 2015 nós já éramos mais de 10 milhões. Pessoas que, por N, motivos vivem sozinhas.
Pode ter sido por escolha própria ou caminhos que a vida nos obriga a seguir.
Não importa. A realidade é que quem vai morar sozinho forma uma massa consumidora e parece que a indústria e o comércio não compreenderam nossas necessidades. Ainda.
Digo por experiência própria.
Já conto em todos os dedos de uma mão os anos nessa aventura. Quando me perguntam se é legal, costumo usar a matemática como resposta: 60/40. Ou seja, 60% bom, 40% ruim.
E, com certeza, nesses 40% entram a dificuldade de comprar alimentos na quantidade correta.
Feiras, açougues e seções de frios dos supermercados são os lugares mais inóspitos para o pobre ser só.
“20 laranjas R$5, 20 laranjas R$5”, grita o feirante.
Se você não curte espremer laranjas para suco, só quer umas míseras unidades para chupar, vai ter que aguentar cara amarrada quando pedir apenas meia dúzia.
E as famosas “bacias de alface”? Nem se eu fosse um híbrido de humano com coelho conseguiria dar conta de tanta folha…
No supermercado, a via crucis do ser só continua.
Se este tem alguma restrição alimentar, por imposição ou opção, pior ainda. Experimente chegar ao açougue e pedir quatro gomos de salsicha ou um bife solitário. O açougueiro provavelmente irá olhar para você com aquela expressão de dó. Às vezes, se torna tão constrangedor que me sinto impelida a dar explicações, como “moro sozinha” ou “gosto de tudo sempre fresquinho”.
Mas minha vontade mesmo é falar “levo pouco porque só preciso disso. Não é pobreza não!”.
Os dilemas continuam. Pedir menos de 100 gramas de algum frios é uma espécie de heresia (acredite em mim: 100 gramas é muuuito em alguns casos!). Pão de forma vai parar mais no lixo que no seu estômago. É um fato, sinto em informar.
O carro do ovo então… Minha nossa. Acho que não consumo 30 ovos no semestre. Ok, eu não sou uma fã ardorosa disso que a galinha nos oferece com tanto sacrifício, mas mesmo assim não consigo imaginar um ser só cliente desse ícone do Brasil em crise.
Vejo algumas tentativas da indústria focando nessa massa solitária. Mas, além de tímidas, não contemplam a realidade. Nem toda pessoa que mora solo nada no dindim, como parece que eles pensam. Embalagens menores quase sempre são sinônimo de preços mais altos, proporcionalmente. Não à toa, muitas das promoções disponíveis no mercado são para a famosa “embalagem familiar”.
Em tempos de equilíbrio do consumo, nós, seres sós, passamos por maus bocados. Não é legal desperdiçar alimentos, mas um modelo de comércio que ainda não se adaptou a nova realidade da sociedade dificulta – e muito – nossas boas intenções. Temos que fazer esforço dobrado.
E você? Já passou por isso morando sozinho? O que faz para contornar o desperdício? Tem algum “causo” engraçado? Conta pra gente!